São Paulo, 25 - O anúncio do Banco Central (BC) de que vai encerrar o programa diário de swap cambial no fim deste mês já estava precificado em boa parte do mercado, na avaliação do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. Para o especialista, a autoridade monetária já vinha sinalizando seu objetivo há algum tempo e esta percepção por parte dos agentes econômicos foi um dos fatores que contribuíram para a recente valorização do dólar ante o real. "A primeira indicação de que o programa não seria renovado se deu quando o BC começou a rolar uma quantidade menor dos vencimentos desse mês de março, exatamente o montante em que estava colocando a ração diária. Já estava mantendo o estoque constante", assinalou.
A intenção de manter os estoques nos níveis atuais, em aproximadamente US$ 115 bilhões, apontada também pelo presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, em audiência pública na terça-feira, 24, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado foi outro sinal de que a "ração diária" seria encerrada, avalia Leal. "Esta foi uma medida acertada. O custo de continuar com esse programa era maior que o benefício que teria", disse o economista-chefe do ABC Brasil. Ele destacou que o programa tem um lado positivo de fornecer hedge cambial para as empresas, mas, por outro lado, representa um custo fiscal, já que o montante terá de ser pago em reais em algum momento.
Nesse sentido, explica, a decisão do BC também é positiva porque vai permitir que o Brasil passe por um ajuste de preços relativos internacionais, necessário para o País, na avaliação de Leal. "O Brasil precisa passar por algum tipo de desvalorização, exatamente para resolver nosso problema das contas externas", ressaltou, lembrando que o País tem mais de 4% do PIB de déficit de transações correntes.
Para ele, boa parte da procura pelos contratos de swap oferecidos pelo Banco Central não tinha objetivo de fornecer proteção cambial para as empresas, mas tratava-se de um movimento internacional devido à expectativa de crescimento da economia dos Estados Unidos e a possível alta de juros por parte do Federal Reserve.
Quanto ao impacto do anúncio do BC na cotação do dólar ante o real nesta quarta-feira, 25, o economista-chefe do ABC Brasil acredita que pode haver alguma pressão, assim como questões de âmbito político. "Vai ser um dia interessante para ver o impacto líquido no câmbio. Lá fora, as moedas estão de lado ou ganhando um pouco do dólar", analisou. "Se aqui dentro o dólar ficar pressionado, ficará claro que é pressão das questões internas", afirmou.