O arrocho monetário está batendo fortemente no bolso do consumidor. Os juros do cheque especial chegaram a 214,2% por ano em média em fevereiro, alta de 5,2 pontos percentuais em relação a janeiro, de acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). Em 12 meses, a elevação é de 57,5 pontos. Não se via uma taxa nesse patamar desde março de 1996, quando as correntistas pagavam 217,7% sobre o montante devedor em suas contas.
Quem deixa para depois a fatura do cartão de crédito encara um prejuízo ainda maior do que no cheque especial. A taxa anual do rotativo do cartão subiu de 334,6% para 342,2%, atingindo o recorde desde o início da série do BC, em março de 2011, quando estava em 272,3% – é um patamar muito elevado, mas que parece pequeno em relação ao que se chegou agora. A alta do rotativo foi de 6,3 pontos em um mês e de 27,1 pontos em 12 meses.
Para todos A alta dos juros é disseminada. As taxas livres para empresas e consumidores aumentaram de 39,1% ao ano em janeiro para 40,6% em fevereiro, atingindo a maior taxa desde o início da série, em 2011. A variação no mês é de 1,5 ponto percentual e, e em 12 meses, de 4,4 pontos. No caso das taxas para o consumidor, a alta foi de 52% em janeiro para 54,3% em fevereiro.
A inadimplência permaneceu em 4,4%, estável no mês e também em um ano. Para o analista de bancos Luiz Miguel Santacreu, da Austin Rating, a falta de pagamento de empréstimos tende a aumentar. “Essas estatísticas mostram apenas os que estão mais de 90 dias atrasados. Outros números já apontam alta da inadimplência”, apontou.
As concessões de crédito tiveram queda de 9,1% no mês, de R$ 299 bilhões em fevereiro para R$ 271,9 bihões em fevereiro. A redução foi mais acentuada no caso do consumidor (9,3%) do que das empresas (8,8%). Em 12 meses, a queda global foi de 2,8%.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou que isso se deve em parte a efeito estatístico, pois fevereiro tem menos dias do que janeiro e, neste ano, como foi o mês do carnaval, ficou ainda menor. Mas ele admitiu que isso também se deve ao ambiente recessivo do país. “A tendência de queda no crédito para o consumo não é de hoje, vem desde 2013. Isso se deve a um crescimento econômico menor, entre outros fatores”, afirmou.
Santacreu, da Austin Rating, afirmou que as pessoas estão procurando menos empréstimos e os bancos estão dificultando a concessão de crédito. “Em um quadro político e econômico como o atual, não poderia ser diferente”, disse. O efeito da restrição de crédito se vê na redução dos saldo de crédito em diversos tipos de financiamento. No caso da compra de veículos, caiu 1%, de R$ 183,8 bilhões para R$ 181,9 bilhões. No crédito pessoal, excetuando-se o consignado, a elevação foi de 0,6 ponto, de 107,5% para 108,1%.
Empresas No caso das empresas, houve redução de 0,4% no saldo do capital de giro, de R$ 391,4 bilhões para R$ 389,9 bilhões. Mas a concessão de financiamento a empresas por meio do cartão de crédito nas modalidades rotativo e parcelado subiu 7,7% de janeiro para fevereiro, passando de R$ 2,24 bilhões para R$ 2,41 bilhões.
O movimento ocorreu na contramão do resultado geral de concessão de finananciamentos, que teve queda de 8,8% no mês no caso das pessoas jurídicas. Quando se olha para o saldo dos empréstimos por meio de cartão a companhias, houve alta de 15,8% do saldo no mês, de R$ 2,35 bilhões para R$ 2,73 bilhões. Em 12 meses, o aumento acumulado é de 46%.