Brasília – Não há mais o que fazer para salvar a economia brasileira em 2015. E a perspectiva fica mais desfavorável com os atritos dentro do próprio governo. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que já havia se referido a medidas tomadas no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff como “brincadeiras” que custaram caro ao poder público, agora fez ressalvas à forma como a presidente conduz o governo. “Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes não da maneira mais fácil... Não da maneira mais efetiva”, disse o ministro, segundo gravação de fala dele em inglês obtida e traduzida pelo jornal Folha de S. Paulo.
A afirmação foi feita por ele em tom informal durante fala para ex-alunos da Universidade de Chicago, em São Paulo, na última terça-feira. Essa foi a primeira vez que o ministro da Fazenda se referiu ao nome da presidente de forma crítica. No evento, a ressalva à postura da presidente ocorreu quando o ministro reforça as críticas à gestão passada da petista. Ele teria frisado que o governo está ciente dos erros do passado e da necessidade de mudanças agora.
À noite, depois da divulgação da fala, Levy soltou nota para lamentar a a interpretação dada à frase e procurar contextualizar o comentário. “O ministro sublinha que os elementos dessa fala são os seguintes: aqueles que têm a honra de encontrarem-se ministros sabem que a orientação da política do governo é genuína, reconhecem que o cumprimento de seus deveres exige ações difíceis, inclusive da presidente Dilma Rousseff, e eles têm a humildade de reconhecer que nem todas as medidas tomadas têm a efetividade esperada”. Levy destacou que a nota tem caráter pessoal.
CENÁRIO RUIM A fala de Levy ocorre com a folhinha do calendário ainda em março, mas os temores acumulados ao longo de 2014 já se confirmaram. Bastaram os três primeiros meses para os brasileiros constatarem que não escaparão de vasta lista de desalentos: terão de conviver com um cenário de inflação subindo, juros altos, crédito caro e emprego ameaçado.
A presidente Dilma, reeleita em outubro do ano passado com um discurso contrário às medidas que agora tenta implementar, insiste em assegurar que a economia se sustenta em “fundamentos sólidos”. Sem assumir erros, diz que o momento de dificuldade é “passageiro e conjuntural”, passível de ser superado a curto prazo. Todos os indicadores econômicos divulgados no primeiro trimestre mostram exatamente o contrário.
As projeções são muitas – e cada vez piores para este ano –, mas ninguém arrisca dizer até quando vai perdurar a atual crise, marcada por uma profunda desconfiança no governo. Economistas e representantes do setor produtivo passaram 2014 antecipando os fatos de agora. A confirmação das previsões econômicas negativas, antes subestimadas e desprezadas pela equipe de Dilma, contribuiu para que a presidente, uma vez reeleita, tivesse a mais rápida queda de popularidade da história.
Não bastasse o desastre na área econômica, os embates políticos logo no início do segundo mandato da petista e os desdobramentos do escândalo de corrupção na Petrobras — longe de estar totalmente desvendado — azedam ainda mais 2015. Dezembro vai chegar sem grandes investimentos realizados pelo governo ou pela iniciativa privada. As crises hídrica e energética são entraves à parte, que ajudam a manter a economia estagnada.
Aperto O propósito do arrocho fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é criar condições para que o país retome o crescimento. Mas, de imediato, as medidas vão tirar o fôlego que resta das famílias e dos investidores. Para o segundo semestre, o governo ensaia retomar o programa de concessões de portos, rodovias e aeroportos. O setor privado não se anima. Falta, de novo, confiança e a percepção clara quanto às regras do jogo, para garantir o mínimo de segurança jurídica aos projetos.
Os brasileiros terão pela frente mais três trimestres de muito aperto. A inflação oficial deve superar os 8% em 2015. Há quem projete alta de preços em torno de 9%, o dobro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%. Ao longo do ano, só o aumento médio da energia elétrica pode chegar a 50%. A recessão já chegou aos lares brasileiros. “2015 é um ano para bravos e fortes”, resume o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Honório Pinheiro.