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Estado de Minas

Escoladas em crises, empresas recomendam arrocho fiscal e dedicação aos clientes

A guerra envolve enxugamento de gastos, fim do desperdício, qualidade como princípio básico e criatividade para enxergar novos filões de consumo


postado em 29/03/2015 07:17 / atualizado em 29/03/2015 07:37

Para Henrique Salvador, hora é de renegociar com fornecedor, reorganizar equipes e planejar expansão(foto: Pedro Vilela/Divulgação )
Para Henrique Salvador, hora é de renegociar com fornecedor, reorganizar equipes e planejar expansão (foto: Pedro Vilela/Divulgação )
Para onde caminha o país? A crise de 2015, que pisou forte no freio da atividade econômica, é parecida com tormentas passadas? O que esperar de indicadores importantes como o emprego, a inflação, a taxa de juros? A economia em retração preocupa de forma generalizada, das famílias aos empresários. Quem está há muito tempo no mercado e já atravessou vários momentos de ajustes acredita que um diferencial dos brasileiros é sua capacidade de adaptação, desenvolvida ao longo de algumas décadas. Atrás de respostas para entender melhor o cenário atual, o Estado de Minas ouviu a opinião de empresários de áreas cruciais para o desenvolvimento econômico e social de uma nação: saúde, agronegócio, manufatura e varejo. Em comum eles têm a experiência de sobreviventes da sucessão de altos e baixos da economia brasileira nos últimos 20, 40 e 100 anos, respectivamente.

Pode-se dizer que se a economia brasileira fosse uma pessoa, seria no mínimo conhecida pelo seu humor instável. Como se de tempos em tempos, alternasse da euforia à tristeza, do riso ao choro. Mas como ajustar os ponteiros e domar a turbulência que aparece não só no momento de fechar as contas, mas no cenário político, restaurar a confiança do empresário, preservar a renda da população? Sem bola de cristal, os empresários mostram as armas que vão usar para enfrentar a tormenta. A guerra envolve enxugamento de gastos, fim do desperdício, qualidade como princípio básico e criatividade para enxergar novos filões de consumo.

De um outro ângulo, João Camilo Penna, economista, ex-ministro da Indústria e Comércio e ex-presidente de empresas como Cemig, Eletrobrás e Furnas, diz o que o atual momento da economia é complexo, mas se fosse resumir, ele diria que o núcleo da crise está nas contas públicas. Se pudesse um golpe fatal, a mira de sua artilharia seria “o déficit do orçamento.”

Camilo Penna lembra que, bem diferente dos 7,6% de crescimento alcançado em 2010 o país amarga agora a menor expansão do mundo entre os 42 países avaliados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Ostenta, também, um lugar desconfortável, ao liderar o ranking da inflação no mundo, depois da Venezuela, Argentina e Egito. Para o especialista, a tragédia da mudança de humor da economia pode ser atribuída à surrada política de aumentar a taxa de juros, para conter a inflação, impedindo a economia de crescer.

“O núcleo dessa crise está no déficit fiscal, que é enorme em relação ao PIB (o Produto Interno Bruto, que retrata o conjunto da produção de bens e serviços do país). No momento, temos a mais alta taxa de juros do mundo e uma inflação que não cede. Essa é a tragédia brasileira”, observa Camilo Penna.

O risco do ajuste, segundo ele, é substituir as medidas pela elevação da carga tributária, que já atinge 37% do PIB. Indagado se essa crise é pior ou mais branda do que as do passado, o especialista avalia que comparar presente e passado é algo impossível: “Cada época tem sua dor. O que é preciso agora é restaurar a confiança”, afirma.



MATER DEI

>> Olho grande sobre os custos

A Rede Mater Dei de Saúde, há 35 anos no mercado, passou por altos e baixos da economia, enfrentou tempos de hiperinflação e muitos planos econômicos. A empresa sentiu o revés da economia, quando na década de 90 houve confisco da poupança e de aplicações financeiras no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Aquele foi um momento muito crítico para todo o país”, lembra Henrique Salvador, presidente da Rede Mater Dei de Saúde. Recentemente, na onda favorável da economia, o hospital acompanhou o crescimento dos convênios médicos, que ganharam envergadura e hoje somam 52 milhões de usuários, em capitais como Belo Horizonte, onde já atendem a mais de 50% da população. Demanda que exigiu investimentos da rede hospitalar. Em meio à nova reviravolta, no momento o hospital, que tem duas unidades em Belo Horizonte, aproveita o período de menor crescimento do PIB para realizar ajustes internos, renegociar com fornecedores, reorganizar equipes e planeja, ainda, a expansão do grupo para a Grande BH. Segundo Henrique Salvador, para crescer e enfrentar momentos de baixa da atividade ou mesmo recessão e continuar firme no negócio as empresas devem ter sempre um olho bem grande e atento aos custos e ao desperdício, assim como fazer investimento massivo em qualidade. “Investimentos altos em infraestrutura e em capacitação de pessoas, a atenção ao mercado e a aproximação delas em um trabalho humanizado nos dão a tranquilidade de ser objeto de escolha da população”, diz o médico. Em fase de projetos, o Mater Dei deve definir nos próximos meses quando dará início à construção de um hospital em Betim, na região metropolitana da capital mineira. Segundo o presidente da empresa, a fidelidade e a filosofia de princípios que norteiam a rede também são de grande valia naqueles momentos em que o mercado está longe de viver a euforia. “A economia no Brasil lembra um eletrocardiograma, mas a nossa missão é prestar serviço. O negócio é maior que a crise”, comenta.

CEDRO TÊXTIL l

>> Do porteiro ao presidente

Mantendo 3,6 mil empregos diretos em suas quatro unidades fabris, a mineira Cedro Têxtil, com seus 142 anos, está entre as mais experientes do estado. “Costumamos brincar que só não acompanhamos o descobrimento e a independência do Brasil”, diz o presidente da companhia, Marco Antônio Branquinho. A empresa enfrentou nos últimos 100 anos desafios incontáveis, começando pela quebra da bolsa de Nova York em 1929, passando pela primeira e segunda guerras mundiais, o milagre econômico brasileiro, a crise do petróleo na década de 70, até os planos econômicos e por fim, a desvalorização do câmbio. Marco Antônio Branquinho concorda que cada crise é única e tem suas particularidades e dimensão. “O que percebo de diferente nesse momento é que essa é uma crise com fatores econômicos, políticos e sociais juntos.” Apesar de considerar grave o momento de baixa atividade econômica, Branquinho diz que a empresa está otimista e espera ter em 2015 resultados melhores que os alcançados ano passado. “A indústria continua sendo necessária, a economia não pode parar e o país continua a existir.” A chave da longevidade para o executivo está na gestão eficiente e nos investimentos sólidos. “A preocupação com custos e desperdícios vai do porteiro ao presidente”, afirma. Outra arma importante é a atenção focada para quase adivinhar os desejos do mercado. Nos últimos três anos, a Cedro Têxtil deu uma guinada e passou a produzir 70% do seu denim (tecido de algodão) na linha premium e 30% no segmento tradicional invertendo a ordem da produção em 36 meses. “Esse é um setor menos atacado pela importação”, observa o executivo. A empresa também passou a investir em tecidos especiais para uniformes, criando nicho de mercado. Ainda aguardando os efeitos da alta do câmbio, Branquinho acredita que a valorização do real será um ponto positivo em 2015.


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