O mercado de alimentação fora de casa viveu uma espécie de "boom" no Brasil na última década, com crescimento real acima de 10% ao ano. O movimento, no entanto, esteve ligado à redução do desemprego e ao aumento da renda. Em 2015, com a deterioração do cenário econômico, a expansão do segmento de food service deverá ficar abaixo da inflação. Ou seja: em termos reais, o mercado vai andar para trás.
"No ano passado, o crescimento já ficou muito abaixo da média, em quase 3,5%, quando descontada a inflação", diz o consultor Sérgio Molinari, sócio da Food Consulting. "Para 2015, o mercado já trabalha com a hipótese de retração."
É por isso que o objetivo das maiores redes do país - as de fast-food - é proteger mercado. A líder McDonald’s, que sozinha domina cerca de um terço do segmento, segundo dados da consultoria Euromonitor, está perseguindo essa meta.
A preocupação atual da gigante americana é garantir que o público que está com menos dinheiro no bolso não se sinta abandonado pela rede. "Quando o poder de compra diminui e o endividamento aumenta, naturalmente as pessoas reduzem a alimentação fora de casa", diz Roberto Gnypek, vice-presidente de marketing do McDonald’s Brasil.
Para garantir que o cliente siga comparecendo à loja, o McDonald’s aposta em ofertas que garantam uma refeição abaixo de R$ 10: há hambúrgueres por R$ 5, sanduíche triplo por R$ 6,50 e combos de batatas gigante por R$ 1 a mais. "Tenho de manter market share (participação de mercado) agora, pois o Brasil tem potencial extremo no nosso mercado", explica o executivo.
A concorrência também já percebeu que o consumidor está mais sensível a preço. Na rede Subway, por exemplo, as opções promocionais - batizadas "Barato do Dia" e "Baratíssimo", vendidas a R$ 8 e R$ 6,50, respectivamente - ganharam o status de carro-chefe de vendas. "De fevereiro para cá, percebemos um aumento de 20% na procura por essas ofertas", afirma Leandro Florio, gerente nacional de marketing da Subway. "Essas ofertas oferecem uma redução de 40% em relação aos preços cheios."
Tanto no caso da Subway quanto do McDonald’s, de acordo com Sergio Molinari, da Food Consulting, há também um ganho de mercado proporcionado pela redução da renda disponível também na classe B.
As duas redes são beneficiadas porque o cliente que já havia migrado para o casual dining (lojas semelhantes às do Outback) e para lanchonetes com apelo saudável estão voltando a se interessar por suas ofertas. Esse público, diz Molinari, ainda pode se dar ao luxo de comprar os combos das redes de fast-food, que exigem um desembolso médio que não supera a marca de R$ 20.