Além das mazelas macroeconômicos, o Brasil tem um sério problema de corrupção que trava o desenvolvimento do país, disse ontem o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, ao comentar as mais recentes projeções do organismo para a economia global. O Fundo reconsiderou a estimativa feita em janeiro, que apontava alta de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano e passou a apostar numa retração de 1%. Foi o maior corte nas previsões entre as principais nações avaliadas no relatório “Panorama Econômico Mundial”, divulgado trimestralmente pela instituição.
Na América Latina, o Brasil só ficará à frente da Venezuela, que sofrerá um tombo monumental, de 7%. Além do impacto da queda do petróleo, o país vive uma crise política grave e a progressiva desorganização econômica. A maioria das nações latino-americanas terá desempenho positivo, como o México, que deve avançar 3%. Com o peso que tem na região, contudo, a economia brasileira ajudará a conter o PIB da América Latina e do Caribe, que crescerá apenas 0,9%.
A baixa confiança do setor privado, o risco de racionamento de energia e a queda dos investimentos em consequência do escândalo na Petrobras estão entre os motivos do mau desempenho brasileiro, de acordo com a análise dos técnicos do FMI. Além disso, o arrocho fiscal colocado em prática pelo governo e a elevação das taxas de juros, embora sejam providências necessárias para restaurar o equilíbrio econômico e permitir a volta do crescimento, têm, a curto prazo, efeitos recessivos no nível de atividade.
Ao comentar as avaliações do Fundo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, enfatizou a única menção positiva ao país contida no relatório – o elogio das medidas que estão sendo implementadas para corrigir as distorções do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. “Acho que chama a atenção a importância de a gente concluir o mais rápido possível toda a programação de ajuste fiscal, exatamente pela confiança necessária que trará para que possamos voltar a crescer”, afirmou.
Para Blanchard, fatores puramente econômicos não explicam totalmente o desempenho negativo do país. “Claramente, o Brasil tem um problema além da questão macroeconômica. Tem um problema de corrupção que esperamos seja resolvido. E há várias reformas estruturais que são também necessárias”, disse. No estudo, o FMI observa que o país precisa promover mudanças para aumentar a competitividade e a produtividade das empresas, bem como melhorar o sistema de educação.
O Fundo também piorou sensivelmente a estimativa para a inflação brasileira em 2015. Em janeiro, os técnicos da instituição acreditavam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teria alta de 5,9%, mas, agora, a previsão é bem mais pessimista: 7,8%, bem acima do limite de tolerância, de 6,5%, estabelecido pelo governo.
Na lanterna O desempenho econômico ruim do Brasil, segundo o relatório, destoa do que é observado no resto do mundo. Mesmo considerando que o PIB poderá voltar ao terreno positivo em 2016, quando deverá crescer 1%, as previsões são bem piores do que as do conjunto dos países emergentes. A Índia, por exemplo, deverá avançar 7,5% neste ano, enquanto a China, que está em desaceleração, terá, mesmo assim, um avanço de 6,8%. Somente a Rússia, que sofre com a queda do petróleo no mercado mundial e enfrenta um bloqueio internacional por causa do conflito com a Ucrânia, terá desempenho pior, uma forte recessão de 3,8%.