Uma das datas mais afetivas no calendário brasileiro ficará menos calorosa este ano, pelo menos, para o comércio de rua. Com o freio no consumo e na tomada de crédito, o Dia das Mães não terá o brilho de sempre para os comerciantes, que consideram a data a segunda mais importante para o faturamento, perdendo apenas para o Natal.
A retração na economia, segundo entidades da área, trouxe um balde de água fria no crescimento das vendas deste ano que devem ter um leve aumento de 0,21% em relação ao ano passado, conforme prevê a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL). O percentual é o menor dos últimos 10 anos e, segundo lojistas, representa a tormenta que o ano de 2015 vem trazendo para o setor, inclusive, diante das datas especiais.
A projeção para o período surpreende até mesmo a CDL, que segundo Bruno Falci, presidente da entidade, está abaixo do que se esperava. “A nossa perspectiva era de uma alta de 1% para todo o ano, porém, diante do que estamos vendo nessas datas especais e se as medidas federais para a economia não surtirem efeito, esse percentual vai ter que ser revisado”, revela Bruno.
Segundo ele, se uma data com forte apelo emocional, como é o Dia das Mães, não tiver bom resulado no comércio, a tendência é a redução no faturamento. “Já temos muitas lojas fechando as portas. Os empresários estão retraindo, investindo menos e os consumidores freando o consumo. Todos de braços cruzados esperando como vai ficar o país”, afirma. De acordo com dados da CDL, a data deve movimentar R$ 2,145 bilhões no varejo da capital mineira. No último ano o comércio cresceu 0,47% em maio quando comparado com o mesmo período de 2013.
Lembrancinha
Seguindo o que foi no Natal e também na Páscoa, os belo-horizontinos não vão deixar presentear, mas, podem optar por presentes com menor custo, conforme apostam as entidades. Segundo previsão da Associação Comercial de Minas (ACMinas), o ticket médio deste período deve ser de R$ 100. “Estamos em um ano muito difícil para o comércio. Houve uma retração no quadro de funcionários, e, nos nossos cálculos, um fechamento de 9 mil vagas na área. O crescimento que haverá no Dia das Mães será de uma correção da inflação”, comenta Nadim Donato, diretor da ACMinas e presidente do Sindicato do Comércio Lojista de Belo Horizonte (Sindlojas).
Na teoria, uma loja de calçados seria um dos locais mais procurados nesta época, porém, segundo o dono da Simone Gomes Calçados, Rodrigo Sardenberg, na prática, esse bom momento há tempos deixou de existir. “O Dia das Mães já não é um período bom para nós, tanto é que já nem fazemos pedidos para aumentar o estoque”, revela. Ele conta que a loja tem cerca de 30 anos de mercado e sempre foi procurada no Dia das Maes. “Mas de um tempo para cá, tanto essa data e também do Dia dos Namorados deixaram de ser chamariz. Este ano, vai ser ainda pior, porque janeiro e fevereiro foram de queda nas vendas. Tanto que tivemos que reduzir nosso quadro de funcionários”, conta.
A empresária Beth Pimenta, sócia de lojas Água de Cheiro e proprietária-sócia da Corpo Bonito Lingerie, diz que, pela primeira vez em 35 anos no mercado, se surpreende com a queda nas vendas e com o “comércio apavorado”. “Aqui no Sion e na Serra, na Região Centro-Sul, as lojas estão para alugar. Se nós, da Corpo Bonito, conseguirmos manter as vendas do ano passado, teremos que acender uma vela para comemorar”, comenta. Ela diz que, em 2014, houve uma expectativa muito boa para o Dia das Mães e, este ano, com quedas nas vendas de 15% a 20% de janeiro a março, está torcendo para conseguir manter seu faturamento. “Este ano, até fechamos uma loja Água de Cheiro, no Centro. O aluguel era de R$ 22 mil e não tinha como continuarmos”, conta.
Momento Além da loja Corpo Bonito na Bandeirantes, Beth tem uma unidade da marca no Shopping OutLet, no Bairro Belvedere, e diz que lá as vendas do Dia das Mães serão melhor, com aumento de 15% no faturamento. Ela aposta em um ticket médio de R$ 70 este ano para as compras em suas lojas. Nadim define o momento como delicado tanto para vender quanto para comprar. “Está tudo aumentando, tanto para o empresário, quanto para o consumidor. É difícil falar com as pessoas para gastar. O jeito é o comerciante apostar em promoções e facilitar os pagamentos”, aconselha.
Expectativa melhor nos centros de compra
Bem distante da realidade do comércio de rua, os shoppings na capital calculam números melhores para o Dia das Mães. O BH Shopping, Diamond e o Pátio Savassi, na Região Centro-Sul da cidade, informaram esperar um fluxo de pessoas 2% maior do que no mesmo período do ano passado e crescimento de até 9% para as vendas. Além disso, a expectativa desses empreendimentos é de um ticket médio de R$ 1,2 mil.
O gerente de marketing do BH Shopping, Renato Tavares, destaca que o lado afetivo da data sempre fala mais alto. “Vamos fazer uma campanha bem bonita, que toca o coração das pessoas”, contou. Segundo ele, um dos atrativos do shopping será a promoção que dará uma peça Oti, cerâmica do Inhotim, a cada R$ 500 em compras.
No Pátio Savassi, o clima é também de otimismo para a época. Segundo a gerente de marketing do local, Rejane Duarte, o empreendimento teve um crescimento de 13% no mês de março e, agora, é esperada uma alta de 9%. “O shopping tem essa característica de clientes que buscam o diferenciado. Faremos também a promoção para compras acima de R$ 500. O nosso tíquete médio deve ser de R$ 1,1 mil”, aposta.
Animado com o Dia das Mães, o gerente da loja Animale, do Pátio Savassi, João Jardim Sobrinho, diz que espera um crescimento nas vendas de, no mínimo, 20%. “Não temos do que nos queixar. A retração na economia não nos atingiu e esperamos, para a data, uma ticket médio de R$ 1 mil na loja” revela. (LE)
Setor tem retração forte em Minas
A situação econômica brasileira, com juros e inflação mais altos e crédito mais caro está influenciando na queda de vendas do setor varejista. Indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam recuo de 1,1% no volume de vendas no comércio varejista em fevereiro se comparado a janeiro. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a queda chega a 5,2%, em Minas.
No país os índices são pouco melhores, com queda de 0,1% no mês e de 3,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo o IBGE, esse é o pior resultado para o setor desde agosto de 2003, quando o varejo nacional registrou queda de 5,7%. Incluindo as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o varejo ampliado caiu 1,1%, o terceiro resultado negativo.
De acordo com a pesquisa do IBGE, em Minas, todos os segmentos avaliados, que incluem de supermercados, combustíveis a automóveis e produtos farmacêuticos, apresentaram queda. A linha de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação foi a que teve o maior nível de recuo, 28,4% no mês e queda de 19,9% no acumulado dos últimos 12 meses.
O segmento de móveis aparece em segundo lugar no ranking, com queda acumulada de 12,7% nos últimos 12 meses e de 13,3% no último mês. Na avaliação da supervisora de Pesquisa Econômica do IBGE Minas, Cláudia Pinelli, as famílias brasileiras estão deixando de comprar produtos supérfluos, dando prioridade apenas para os itens de necessidade básica.
“A instabilidade econômica deixa o consumidor mais inseguro. A massa salarial não está crescendo, a inflação está corroendo a renda e todo mundo está com medo de pegar crédito. Compram apenas os itens básicos, por isso o supermercado não registrou queda acentuada”, completa. Segundo dados do IBGE, artigos de uso pessoal e doméstico foi o que apresentou a menor queda, 0,8% no estado, seguido pelos hipermercados e produtos alimentícios que tiveram recuo de 1,8%.
Apesar de ter registrado queda nas vendas, o indicador do IBGE mostra que a receita nominal apresentou resultado positivo, com alta de 0,7% no mês no país e de 3,6% na comparação com o fevereiro de 2014. Segundo Pinelli, resultado positivo se dá pelo aumento do preço dos produtos. “Com a inflação mais alta, o comércio vende menos, a preços mais caros e assim, a receita se mantém ou cresce”, explica.