Brasília – A repercussão do balanço da Petrobras foi positiva no Palácio do Planalto e deve agradar ao mercado financeiro, na opinião de especialistas, mas não reduz os grandes desafios que a empresa tem pela frente. A estatal precisa retomar o caminho da rentabilidade e enfrentar as ações judiciais em que é ré nos Estados Unidos, envolvendo indenizações bilionárias, além de apresentar novo plano de negócios. “O Planalto avalia que é a superação de uma fase e a Petrobras terá todas as condições de retomar seus projetos”, afirmou em nota o governo.
Para os analistas do setor, de bancos e corretoras, o valor das perdas com a corrupção lançado nos resultados da companhia, de R$ 6,2 bilhões, não foi assustador como se cogitava. “Os números vão dar uma certa tranquilidade ao mercado. Não foi um valor muito alto, apesar da subjetividade dos critérios de apuração”, analisou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Em nota divulgada no fim da noite de ontem, o presidente do PSDB, Aécio Neves, disse que os dados do balanço da Petrobras “mostram mais um capítulo de um filme de má gestão e corrupção, envolvendo a estatal brasileira”.
Aécio defendeu que a estatal adote medidas para recuperar a sua capacidade de investimento como “eliminar a obrigatoriedade de a Petrobras ser a operadora única do pré-sal, voltar a usar o regime de concessão da Lei 9.478/1997 (Lei do Petróleo), profissionalizar a gestão da Petrobras e o Conselho de Administração da companhia”. Na avaliação de Alex Agostini, analista da Austin Rating, como o valor das perdas com corrupção veio mais baixo do que se esperava — a estimativa chegou a R$ 20 bilhões —, o mercado deve reagir de forma positiva a partir de hoje.
“O temor que permanece é se a empresa vai conseguir se financiar. Se conseguirá fazer as captações necessárias. Porque se isso não ocorrer, ela terá que recorrer ao Tesouro Nacional e isso pode colocar em xeque a classificação de risco do país”, alertou. Agostini também destacou que a divulgação de ontem explicou, ainda, como serão restruturadas as obras da Petrobras. Para Adriano Pires, da CBIE, a divulgação do balanço deu a dimensão do estrago que foi feito na empresa. “O prejuízo de 2014 foi do tamanho do lucro da empresa em 2013. Houve uma queda brutal nos investimentos. Se a companhia quiser retomar a lucratividade, tem um muito trabalho pela frente”, afirmou o diretor do CBIE.
Na avaliação do especialista em Direito Empresarial Adelmo Emerenciano, sócio do escritório Emerenciano, Baggio Associados, a Petrobras adotou um critério muito simplório para apurar as perdas com a corrupção. “Ela simplesmente colocou os 3% das propinas pagas em cima dos contratos. Isso mostra que a companhia não apurou nada. Além disso, se coloca como vítima e não como protagonista das fraudes que ocorreram na tentativa de evitar punições mais severas da SEC (Securities and Exchange Commission, órgão americano equivalente à Comissão de Valores Mobiliários)”, disse.
O advogado Marcelo Gotke destacou que a class action em andamento na corte de Nova York, contra a estatal, poderá se valer dos dados apresentados ontem pela companhia para aumentar os pedidos de indenização. “A lei americana não é como a brasileira, que impede mudanças nas ações. Lá (nos EUA) é possível ajustar os pedidos conforme as provas forem sendo apresentadas”, assinalou.