O atual cenário econômico do Brasil, somado à valorização do dólar frente ao real, trouxe uma mudança no comportamento dos brasileiros: eles estão viajando menos ao exterior e, quando estão lá, pisam no freio para os gastos. Prova disso veio com os dados do Banco Central divulgados ontem, que apontam que as despesas com viagens internacionais despencaram 16,6% no mês passado em relação a março de 2014, passando de US$ 1,8 bilhão para US$ 1,5 bilhão. É o menor valor desde 2010. Considerando o período de janeiro a março, a despesa recuou 10,4%, para US$ 5,2 bilhões.
Com isso, o saldo líquido da conta de viagens internacionais — que registra também as despesas feitas por estrangeiros no Brasil — despencou 26,6% em março na comparação com o mesmo período de 2014, passando de US$ 1,3 bilhão para US$ 955 milhões. No trimestre, o tombo foi de 13%, para US$ 3,6 bilhões.
De acordo com o BC, o volume gastos por brasileiros no exterior no primeiro trimestre foi o menor para o período desde 2011. “O encarecimento do dólar pesou e isso está se refletindo no déficit parcial de abril, que está em US$ 683 milhões, o que indica uma nova queda, até mais forte, neste mês”, disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel.
Agora, com o dólar a perto de R$ 3, as agências em Belo Horizonte começam a notar uma melhora tímida pela demanda por viagens internacionais na capital. “Quando a moeda norte-americana estava subindo, repentinamente, o impacto foi muito grande. As pessoas ficaram assustadas, mas, hoje, com a estabilização, as coisas estão melhorando”, comenta o proprietário da Primus Turismo, Humberto Vieira. Segundo ele, a retomada ainda está tímida justamente porque a economia brasileira não vai tão bem. “Se formos somar a alta do dólar com a crise política e econômica no Brasil, pode-se dizer que tivemos uma redução de 30% na procura por viagens de forma geral, porque as pessoas estão inseguras para gastar”, avalia.
“Os brasileiros estavam acostumados a ir para os Estados Unidos com o dólar a R$ 2 e fazer suas compras lá. Realmente, valia a pena. O problema é que, quando, no ano passado, ele começou a se valorizar, os brasileiros chegavam do exterior e assustavam com o valor que tinham que pagar. Agora, muitos estão levando dinheiro papel e não estão fazendo despesas com cartão de crédito”, comenta Humberto Vieira.
OUTROS DESTINOS Turista assíduo dos Estados Unidos, o dono do restaurante Gonzaga Bartiquim, Leonardo Marques, diz que não volta ao país até que a moeda fique abaixo dos R$ 2,70. “No ano passado, fui em setembro e comprava produtos com valor de R$ 2,40 e, quando cheguei ao Brasil, meu cartão me cobrava R$ 2,80. Voltei em dezembro e reduzi 50% do meu consumo naquele país e, este ano, não volto mais. O dólar a R$ 3 é absurdo”, reclama, dizendo que vai para a Europa, onde não há um apelo maior para o consumo.
De acordo com Pedro Paulo Victer, da Pier Turismo, na agência, a demanda por viagens aos EUA tem diminuído, porém, para outros países a procura aumentou. “Apesar de as passagens serem reguladas em dólar, as companhias estão diminuindo os valores. Assim, muitas estão custando o mesmo que no ano passado. As viagens para Europa e América do Sul estão praticamente o mesmo preços dos últimos dois anos. Para Santiago, no Chile, a passagem custava de R$ 500 a R$ 800. Hoje, está a R$ 700. As companhias se adequaram e há promoções. Fernando de Noronha, por exemplo, está com passagens de ida e volta por R$ 790, sendo que eram R$ 1,5 mil”, compara.