A receita das vendas registrou queda de 6% no primeiro trimestre, ante idêntico período do ano passado. O fraco nível da atividade industrial combinado à expectativas pessimistas e empresários pouco confiantes explicam os resultados desfavoráveis, avaliou o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. “O mercado de trabalho mostra os efeitos agora com bem mais intensidade. A tendência de retração do emprego que vinha ocorrendo no ano passado se intensifica nesses primeiros meses do ano, especialmente em março, e se reflete no rendimento”, afirmou.
Em Minas Gerais, a performance do setor segue na mesma toada. Indicadores divulgados ontem pela Federação das Indústrias do estado (Fiemg) indicaram um primeiro trimestre marcado por queda de 13,57% no faturamento, redução de 9,77% nas horas trabalhadas, o emprego diminuiu 2,71% e a massa salarial, 12,5%. Entre os 10 segmentos com retração da receita, o pior desempenho foi o da indústria de máquinas e equipamento, que amargou faturamento 51,83% inferior ao registrado de janeiro a março.
Na avalição do presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da FIEMG, Lincoln Gonçalves Fernandes, 2015 já pode ser considerado um ano perdido para as empresas do setor. “O pacote de concessões anunciado pelo governo é altamente indutor do crescimento, mas não terá impactos este ano. As concessões só surtirão efeito na economia em 2016”, afirmou.
Para Castelo Branco, da CNI, se o desempenho de março permanecer até o fim do ano, o setor deverá enfrentar queda do emprego da ordem de 2,6% em 2015. Ele disse que o movimento do indicador é justificado por diversos fatores. “As medidas de ajuste econômico, em um primeiro momento, têm maior impacto no que diz respeito a custos das empresas, no caso de tributos e correção de alguns preços”, disse. Outro problema se refere aos juros altos, que afetam o custo dos financiamentos, reduzindo a demanda das famílias e das empresas de consumo e investimentos.
O economista Fábio Guerra, da CNI, observa que o emprego é a variável que sofre, em primeiro momento, com o ajuste do cenário. A massa salarial (total de salários pagos pelo setor) também apresentou queda. A redução foi de 0,9% em comparação ao trimestre anterior e de 4,1% frente ao mesmo período de 2014; enquanto o rendimento médio real dos empregados na indústria caiu 0,1% e 0,2%, respectivamente — fatores que afetam negativamente o consumo do brasileiro e dificultam a recuperação do setor. Castelo Branco avaliou que a queda da atividade industrial deve ter chegado em março no seu momento “mais forte” até agora. “Não creio em um mergulho pior”, disse. (Colaborou Marta Vieira)