Segunda melhor data para o comércio, o Dia das Mães deste ano teve o pior desempenho dos últimos 13 anos. Segundo balanço divulgado pela Serasa Experian, houve queda de 2,6% nas vendas durante a semana passada, comparado ao mesmo período do ano anterior. Na capital mineira, de acordo com sondagem feita pelo Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte (Sindlojas), a maioria dos lojistas tiveram queda de 5% a 7% nas vendas e uma minoria conseguiu apurar resultado semelhante ao de 2014. Além disso, o valor médio do presente caiu de R$ 90 para R$ 75 neste ano. Os indicadores ruins não trazem boa perspectivas para os próximos meses, nem mesmo para o Dia dos Namorados, outra data importante para o calendário do varejo. Lojistas estão pessimistas e apontam queda nas vendas também para o período, mesmo com o apelo emocional da data. Para tentar salvar e equilibrar a receita, muitos apostam em promoções e produtos com preços mais baixos.
Gerente da loja de roupas e acessórios Agha, Janaína Mendes afirma que, apesar de ter conseguido um crescimento de 70% em relação aos dias normais, ela teve queda de 30% se comparado ao mesmo período do ano passado. Ela conta que já baixou 20% o preço da maioria dos produtos da loja e pretende baixar ainda mais, na tentativa de salvar o faturamento e conquistar boas vendas no Dia dos Namorados. “O comércio está ruim. Em relação aos dias normais, conseguimos aumentar os negócios, mas ainda assim não foi tão bom. Vamos mudar os preços para ver se conseguimos um resultado melhor com os namorados”, completa.
Na loja Betina, especializada em vestuário, a proprietária Daniela Côrtes, afirma que o resultado foi o pior dos últimos cinco anos, com queda de 20% em relação ao mesmo período do ano passado. Para conseguir melhor desempenho nas vendas para o Dia dos Namorados, ela diz que pretende investir em uma promoção pontual, além de colocar produtos e preços mais atrativos na vitrine. “Vamos selecionar um produto e baixar em 10% ou 20% no preço para atrair o cliente”, explicou. Segundo ela, se o mercado não melhorar no segundo semestre, a loja terá que passar por uma readequação na estrutura interna para diminuir os custos e equilibrar as contas.
Na loja Equipage, a gerente Leia Oliveira, afirma que conseguiu fechar as vendas pelo menos no mesmo patamar conquistado no ano passado. Segundo ela, o resultado foi possível por conta das promoções realizadas, que atraíram mais clientes para a loja. Para continuar com o mesmo percentual no Dia dos Namorados, ela pretende apostar mais uma vez nas promoções, principalmente de botas e sapatos, que podem conquistar os consumidores. “No cenário em que vivemos, se não tiver uma promoção, o cliente nem entra na loja. A ideia é dar um desconto de pelo menos 20% e desovar os estoques até a data para colocarmos a nova coleção logo depois”, completou.
CENÁRIO RUIM Entre os fatores que contribuíram com o fraco desempenho estão a falta de confiança, tanto de empresários quanto de consumidores, crédito mais caro e restrito, além de juros e inflação mais altos, corroendo a renda das famílias, e o alto índice de endividamento da população. De acordo com o presidente do Sindlojas, Nadim Donato Filho, as vendas do Dia dos Namorados podem apresentar índices melhores, com crescimento de 2%. “Nós acreditamos numa recuperação do varejo no segundo semestre, e isso pode começar a mudar com o Dia dos Namorados. Se houver queda nos juros e na inflação e se os consumidores conseguirem renegociar suas dívidas, o cenário tende a ficar melhor daqui para a frente”, ressaltou.
De acordo com a Análise de Endividamento do Consumidor realizada em abril pela área de Estudos Econômicos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG) MG, o nível de endividamento dos belo-horizontinos caiu dois pontos percentuais em relação a março, chegando a 51,8%. A tendência de queda vem desde o mês anterior, quando passou de 58,8% para 53,8%. O endividamento é um indicador que mostra o quanto a população está assumindo compromissos financeiros, seja com financiamento de imóveis, carros ou contraindo empréstimos, por exemplo. “Os números deste mês apontam que os consumidores não estão adquirindo bens de alto valor e estão usando o cartão de crédito como forma de continuar comprando e pagando suas contas”, explica Luana Oliveira, supervisora de Estudos Econômicos da entidade.
Para o economista da Fecomércio MG, Guilherme Almeida, o momento é de cautela para empresários, que devem segurar os investimentos nos negócios, e para consumidores que devem segurar os gastos. “Já sabemos que 2015 será um ano difícil, com expectativa de baixo crescimento ou estabilidade. Então, o lojista não deve esperar muito, nem mesmo nas datas comemorativas. O Dia dos Namorados não tem uma expressão tão boa quanto o Dia das Mães, que já foi um fracasso”, afirma. Ainda de acordo com o economista, a opção que os lojistas têm é investir na visibilidade da loja, com ações de mídia para atrair e chamar a atenção dos consumidores, além de promoções pontuais, pagamentos facilitados e descontos para quem pagar à vista.
PROMOÇÕES Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, o Dia dos Namorados deve apresentar queda em relação aos percentuais de crescimento. “O Dia das Mães serve como indicativo e já tínhamos expectativa de um crescimento pequeno, de 0,21% para a data, que ainda não sabemos se vamos conseguir confirmar. Para o Dia dos Namorados, temos expectativa de pequeno crescimento também, de até 0,2%”, afirma. Falci afirma ainda que, para atrair clientes, os lojistas podem investir em promoções pontuais, que não interfiram no fluxo de caixa, para não comprometer o negócio. “Se você vende menos, mas com uma margem de lucro melhor, você ainda consegue manter seu negócio. Mas se você vende menos e ainda com a margem menor, pode não compensar”, afirma.