A evolução mais tímida da renda dos trabalhadores tem afetado diretamente as vendas no segmento de hipermercados, supermercados e produtos alimentícios, comentou Juliana Vasconcellos, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em março, as vendas do setor recuaram 2,4% em relação a igual período do ano passado, a segunda queda consecutiva nesta comparação.
"O segmento é muito sensível à renda dos trabalhadores, e a renda está diminuindo seu crescimento", notou Juliana. Diante disso, nem o maior número de dias úteis em março deste ano conseguiu salvar o setor de uma perda. De acordo com ela, a massa de rendimento real habitual desacelerou o crescimento em 12 meses de 2,6% em março de 2014 para 1,8% em março de 2015.
Já o segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico tiveram alta de 17,4% nas vendas em março ante igual mês do ano passado. "Nesse segmento, são pesquisadas as lojas de departamento, e as vendas de ovos de Páscoa acabaram influenciando. Apesar de a Páscoa ter caído no mês de abril, foi bem no início, então as vendas ocorreram em março", explicou Juliana.
Outro setor que registrou desempenho significativo na comparação interanual foi o de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (+21,8%). "Os preços desse segmento estão em queda, o que favorece as vendas desses equipamentos", disse a gerente.
Materiais de construção
A pequena retomada de reformas de casa beneficiou o setor de materiais de construção em março deste ano. O segmento registrou aumento de 2,8% nas vendas em relação a igual mês do ano passado, informou IBGE. "Houve uma pequena retomada de reformas em casas, o que ajudou essa agenda de material de construção", explicou Juliana. O segmento também foi influenciado pelo maior número de dias úteis em março deste ano, já que, em 2014, o carnaval foi celebrado no terceiro mês do ano.
Apesar disso, o segmento de materiais de construção registrou recuo de 0,3% em março ante fevereiro, segundo o órgão.
De acordo com a gerente do IBGE, a alta de 0,4% nas vendas do varejo restrito (sem veículos e material de construção) em março ante março de 2014 "sobreviveu" por causa do efeito calendário. Em 2014, o carnaval foi celebrado em março, o que gerou uma base mais fraca. Neste ano, por sua vez, o terceiro mês de ano contou com três dias úteis a mais.
"A alta no varejo restrito sobreviveu por causa do calendário", afirmou Juliana. "No caso do índice mensal, tem mais a ver com a conjuntura desfavorável", acrescentou a técnica. Entre fevereiro e março, o varejo restrito registrou queda de 0,9%.
O efeito calendário beneficiou, por exemplo, o setor de veículos automotores, que registrou queda bem menos intensa em março ante março de 2014. As vendas recuaram "apenas" 3,7% nesta base - em fevereiro, o recuo foi de 23,8%, e em janeiro, a baixa ficou em 16,3%, segundo o mesmo tipo de comparação.