A dois dias da viagem para Punta Cana com a namorada, o estudante José Roberto Lourenço descobriu que havia perdido a reserva no hotel e o serviço de transferência, pagos em uma agência de turismo de Belo Horizonte há cerca de quatro meses. A Nascimento Turismo, empresa responsável pela venda do pacote de viagem, entrou com um pedido de recuperação judicial na última quarta-feira e deixou mais de 300 clientes na mão. Entre eles, José Roberto.
Em fevereiro, ele foi até a filial da empresa na capital, no Bairro Funcionários, e comprou um pacote para o destino na Ilha de São Domingos, com hotel, passagens e serviço de transferência. Com tudo pago e definido, aguardou pela data da viagem, que seria neste sábado. Na quinta-feira, recebeu uma ligação no celular, com prefixo 00 e acreditou ser do hotel, para confirmar a reserva. Imediatamente, tentou entrar em contato com a agência de turismo, para pedir ajuda. Ao digitar o nome da empresa em um site de buscas, viu a notícia sobre o pedido de recuperação judicial.
“Fiquei sabendo ontem porque meu telefone tocou e eu cismei que era alguma coisa do hotel. Quando liguei pro hotel, vi que não tinha reserva”, conta. A agência de turismo repassou o valor apenas para a companhia aérea, garantindo somente as passagens de ida e volta de José Roberto e a namorada. Sem lugar pra ficar, ele teve que desembolsar cerca de US$ 3 mil, além do que já tinha pago, para garantir a hospedagem.
“A empresa deixou um tanto de gente na mão. Disponibilizaram um telefone que você conseguia falar só no final da tarde. Neste meio tempo, os clientes tiveram que se virar. Se não fossem os contatos que eu tinha, o inglês que eu sei falar, não daria certo”, diz o estudante.
Em um comunicado oficial, a empresa explicou o pedido de recuperação judicial culpando a crise que o país atravessa. “a exemplo de demais companhias em diversos segmentos da economia, foi impactada pelas crises que o país atravessa: segurança, hídrica, energética, econômica e, a pior de todas, a crise de confiabilidade”, diz a nota. Em uma entrevista ao site Panrotas, especializado em turismo, o presidente e fundador da empresa, Eduardo Nascimento, disse que o maior problema enfrentado pela empresa foi o corte de crédito de fornecedores internacionais, que teria afetado o fluxo de caixa.
Consumidor
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Agêncais de Viagens nacional, o problema para os clientes que compraram pacotes com a Nascimento Turismo se restringe a parte terrestre. A agência informou que os bilhetes aéreos e marítimos foram pagos, mas o mesmo não ocorreu com a parte terrestre, que inclui hotéis e passeios.
Nesta quinta-feira, as associações do setor de turismo (Abav nacional, Abav-SP, Abracorp, Braztoa, Abremar e Aviesp) se reuniram em São Paulo para orientar as agências de viagens, as operadoras de turismo e os clientes que compraram pacotes da Nascimento. De acordo com as entidades, a intenção é tentar renegociar com os hotéis e as prestadoras de serviços terrestres para atender aos viajantes.
Antonio Nascimento, da Abav, disse que uma das saídas é que o cliente ou a operadora assuma o custo do terrestre e depois busque o ressarcimento com a Nascimento. Leila Cordeiro, assistente técnica da Fundação Procon-SP, enfatizou que "de jeito nenhum" os clientes ou as operadoras devem arcar com esse ônus.
Com informações da Agência Estado