Brasília – No primeiro dia útil após a divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre – apontando a queda de 0,2% em relação aos três meses imediatamente anteriores –, cresceu o pessimismo do mercado em relação aos principais indicadores da economia. Analistas ouvidos pelo Banco Central para o Relatório Focus, que na semana passada previam que a taxa básica de juros (Selic) chegaria a 13,75% no fim de 2015, acreditam agora que ela avançará até a 14% ao ano. Atualmente, a Selic está em 13,25%, mas, amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) definirá o patamar em que ela permanecerá até meados de julho. Entre os economistas, o consenso é de que haverá mais uma alta, de 0,50 ponto percentual, o que levaria a taxa para 13,75%.
Como juros elevados significam ritmo mais lento da atividade econômica, os analistas passaram a apostar numa queda maior do PIB deste ano, de 1,27%. Na semana passada, a previsão era de retração de 1,24%. E há quatro semanas, o recuo previsto era de 1,18%. Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB brasileiro, além de ter encolhido 0,2% no primeiro trimestre na comparação com o período anterior anteriores, caiu 1,6%, frente a igual período de 2014. Foi um dos piores desempenhos em um ranking de 33 países avaliados pela Austin Rating. O Brasil ficou na 31ª colocação, à frente apenas da Rússia e da Ucrânia, que sofreram queda de 1,9% e de 17,6%, respectivamente. Esse resultado fez os economistas voltarem às planilhas e aumentarem as projeções de retração neste ano. O Bradesco elevou a previsão de queda de 1,5% para 1,7%. O Itaú Unibanco avisou que as próximas previsões virão “com viés de baixa”.
O diretor para a América Latina do Eurasia Group, em Washington, João Augusto de Castro Neves, revelou que vários clientes internacionais já começam a prever retração superior a 2% queda no PIB brasileiro deste ano devido à instabilidade política e econômica do país. Para ele, apesar de o governo ter conseguido aprovar algumas medidas, não há dúvida de que o ajuste fiscal não será feito no tamanho e, muito menos, no tempo necessário. Com isso, a desaceleração na economia deverá ser mais prolongada, estendendo-se até 2016.
Inflação E o quadro recessivo não deve aliviar a pressão sobre os preços. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi elevada pela sétima semana consecutiva, para 8,39%, em 2015, e 5,50%, em 2016. Os economistas que mais acertam a previsões, os Top Five do Focus, acreditam em carestia ainda maior neste ano: 8,46%.
Seja qual for a aposta mais certeira, ela está bem acima do centro da meta de 4,5% ao ano, que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, garante que será alcançado em dezembro de 2016.
APERTO Com inflação em alta e juros catapultados para trazer o dragão para o cerco da meta inflacionária – 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos –, o esforço do governo para colocar a casa em ordem deve durar pelo menos dois anos, segundo previu ontem o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Para equilibrar as contas públicas, o governo federal iniciou este ano uma agenda de austeridade, com o aumento de impostos e o corte de orçamento.
Nas contas do governo, as medidas permitirão que a União, os estados e os municípios economizarem 1,1% do PIB este ano para o pagamento dos juros da dívida, o chamado superávit primário. No cálculo, não está incluído o resultado das estatais. Em 2016 e em 2017, diante das medidas de austeridade propostas este ano, o governo acredita que será possível economizar 2%, afirmou Barbosa.
Segundo o ministro, que falou a economistas em palestra na Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo, o processo de ajuste fiscal será mais lento do que o proposto pelo governo no fim do ano passado, mas será “substancial”. Barbosa afirmou que todos os países vêm se dedicando a medidas de esforço fiscal como forma de recuperação econômica após a crise financeira de 2008 e 2009. Segundo ele, alguns estão fazendo de forma gradual como os Estados Unidos e o Reino Unido. “(No Brasil) é mais rápido porque a taxa de juros que incide sobre a dívida líquida em termos reais é muito alta, por isso, precisamos de um esforço fiscal mais rápido”, afirmou.
Concessões Para o governo, a economia só deve melhorar o ano que vem e, mesmo com o lançamento do novo pacote de concessões, a taxa de investimento do país só voltará ao patamar de 20% do PIB em 2017. Barbosa afirmou que o pacote contará com projetos em diferentes fases e em alguns casos a proposta se limitará ao convite para a elaboração do projeto, que “eventualmente vão resultar em concessões no ano que vem”. A divulgação do programa está prevista para a semana que vem. Segundo Barbosa, a eventual ausência de empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato não colocará em risco o programa de concessões.” Tem muita gente interessada em participar. Haverá pessoas interessadas em colocar o capital, tanto nacional quanto internacional. O setor de construção no Brasil tem toda a capacidade de atender esses investimentos”, avaliou
Para Barbosa, o país vai voltar a crescer. “Estamos em um momento em que medidas adicionais de estímulo não teriam efeito expansionista. Precisamos restabelecer o equilíbrio fiscal e combater a inflação para recuperar o crescimento econômico, por mais paradoxal que pareça”, afirmou. Mesmo assim, o ministro deixou claro que a estratégia do governo não se restringe a isso. “É uma condição essencial, mas não suficiente” para o crescimento, explicou. (Com agências)
Levy fala em reação lenta
Washington – O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que a retomada da economia brasileira será “lenta, tijolo a tijolo”, em debate ontem sobre as perspectivas da economia da América Latina, na sede do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Em rápida conversa com jornalistas, Levy disse que o segundo semestre tem “bastante chance” de ser “mais favorável” para a economia brasileira se as “medidas necessárias forem tomadas com rapidez”. “Isso envolve a resposta do setor privado”, acrescentou.
A mesa-redonda que Levy participou no FMI ainda contava com o subsecretário do Tesouro americano, o ministro da Economia do Peru e a economista Carmen Reinhart. Mas todas as perguntas da plateia, formada por investidores e autoridades de organismos internacionais (a imprensa não pôde estar presente), foram dirigidas a Levy. “Todo mundo quer saber o que está acontecendo com o Brasil. Sétima economia do mundo, botando a casa em ordem, a presidente conseguiu passar as leis que o Brasil precisa para voltar a crescer”, disse. Questionado sobre o porquê de o resto da América Latina crescer mais do que o Brasil, o ministro disse que é hora de focar mais “em reformas do lado da oferta”. “Por bastante tempo, pensava-se que bastava apoiar a demanda, ter incentivos, mas isso não estava mais levando pra frente” e que agora é hora “para os preços ficarem no lugar certo”.
Captação bilionária para a Petrobras
Após mais de um ano de ausência, desde que estourou a Operação Lava Jato, a Petrobras voltou ao mercado global de títulos ontem com uma captação de US$ 2,5 bilhões. Na operação, a estatal ofereceu inéditos bônus com vencimento em 100 anos. A demanda pelos títulos chegou a US$ 13 bilhões, mas, para garantir o sucesso da operação, a estatal teve de pagar aos investidores uma rentabilidade de 8,45% ao ano, semelhante à de empresas sem grau de investimento, o selo de empresa boa pagadora do mercado financeiro.
Joaquim Levy observou que captação feita ontem “parece que teve uma repercussão superpositiva, a resposta está sendo exitosa”.