Brasília – O investidor precisa ficar esperto. Não dá mais para deixar investimento parado na poupança, como a maioria dos brasileiros insiste em fazer. No atual cenário de inflação alta, aplicar na caderneta é perder dinheiro na certa. Por sorte, existem opções tão seguras quanto a queridinha do Brasil e que garantem a reposição da carestia e algum ganho real. A escalada dos juros, com seis aumentos consecutivos da taxa básica Selic e a projeção de mais alguns por vir, criou oportunidades de ganhos elevados para quem aplicar em renda fixa. Hoje, os títulos do Tesouro Nacional, com rentabilidade atrelada ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, estão se tornando a nova poupança na preferência dos pequenos poupadores. Para médios e grandes investidores, há mais alternativas no mercado. Basta pesquisar e ficar atento a pequenos detalhes que podem reduzir os ganhos, como taxas e a mordida do Leão.
Para quem tem até R$ 5 mil para investir, a poupança era o melhor caminho por causa do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura o retorno do investimento em até três meses, caso a instituição quebre; isenção do Imposto de Renda (IR) e liquidez – a possibilidade de retirar o dinheiro quando quiser. Contudo, agora, está dando prejuízo, com ganhos abaixo da inflação. “Também é preciso respeitar o prazo de aniversário da aplicação porque, se retirar antes de fechar um mês, o investidor perde o rendimento, que já não está nada bom”, alerta o gerente de investimentos da Corretora Concórdia, Mauro Mattes. Ele sugere os títulos do Tesouro Nacional para quem tem pouco dinheiro e quer fugir das perdas da poupança. O investimento mínimo é de R$ 30. Títulos do Tesouro não têm FGC, mas a garantia é o próprio governo brasileiro, o que minimiza o risco. “São simples de operar”, ressalta André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Denys Wiese, economista e administrador do site www.euqueroinvestir.com.br, que opera em parceria com a XP Investimentos, observa que outros títulos do Tesouro asseguram 100% da Selic e também são bom negócio. “A rentabilidade é 100% da taxa básica de juros, hoje em 13,75%, mas o rendimento paga IR. E quanto menor o tempo, maior é alíquota. Por isso, se precisar vender antes do vencimento, é melhor, pelo menos, esperar dois anos para pagar só 15% de IR”, assinala (veja quadro).
Weise destaca que algumas corretoras cobram taxas de administração. “Se for algo em torno de 0,5% ao ano, o ganho passa a 13,25% ao ano. Descontado o IR da menor alíquota, de 15%, a rentabilidade cai para 10,93%, mas ainda assim há ganho real sobre a inflação de quase dois pontos percentuais (p.p.). Na poupança, esse seria o tamanho do prejuízo”, compara. A poupança rende, em média, 7% ao ano. Com inflação em quase 9% em 12 meses, a perda seria de 2 pontos percentuais em um ano. O diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, alerta, no entanto, que a taxa de administração precisa ficar abaixo de 2,5% para o pequeno investidor ter ganhos. “Elas variam de 0,5% a 3%, dependendo do banco e se o cliente já tem relacionamento”, esclarece.
VALORES MAIORES Os médios investidores, com condições de aplicar até R$ 50 mil, têm opções de produtos bem mais atrativos. É o caso do Certificado de Depósito Bancário (CDB). Miguel de Oliveira explica que o CDB é um título de renda fixa emitido por bancos, onde o investidor “empresta” dinheiro para a instituição e recebe em troca o pagamento de juros desse empréstimo. “A referência sempre será a taxa básica de juros, que vai variar de acordo com a necessidade do banco e do volume de investimento. Normalmente, é possível investir a partir de R$ 100, mas a negociação antes do vencimento implica a perda de parte da remuneração”, sublinha.
No caso dos CDBs, no entanto, é preciso ficar atento à voracidade dos bancos comerciais, que estão absorvendo a alta da Selic. Os ganhos do CDB são medidos por percentuais do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), uma taxa que anda colada na Selic, apenas um pouco abaixo dela. Na sexta-feira, por exemplo, com a Selic em 13,75%, o CDI estava em 13,65%. Antes das últimas elevações da taxa básica de juros, havia grandes bancos pagando 100% do CDI. Agora, eles reduziram os ganhos para 80%, no máximo, 90% do CDI. “A lógica dos grandes bancos comerciais não é captar dinheiro do investidor, mas emprestar para o devedor e ganhar com juros altíssimos. Por isso, eles remuneram baixo os aplicadores. Mas bancos pequenos oferecem taxas mais atrativas”, diz Rogério Olegário, diretor-executivo e consultor da Libratta Finanças Pessoais.
Para grandes investidores, o economista Denys Weise lembra que o FGC é limitado a R$ 250 mil, então o ideal é espalhar seus investimentos em vários bancos pequenos, que pagam taxas maiores. “Em alguns bancos menores, ainda é possível ter rentabilidade de 120% do CDI, o que daria um juro de 16,36% ao ano sobre um CDI de 13,64%. É preciso descontar o IR ainda para saber o rendimento líquido”, ressalta Weise.
COM GARANTIA A Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) são dois tipos de investimento em renda fixa isentos de Imposto de Renda que costumam garantir retornos bem superiores ao da caderneta de poupança. Do ponto de vista do investidor, não faz muita diferença investir em LCI ou LCA e geralmente é melhor optar pelo papel mais rentável. A vantagem é que, por enquanto, são isentas de IR, ainda que o governo estude taxá-las em breve. “Esses investimentos têm uma liquidez um pouco menor, por isso é mais indicado para médios e grandes investidores. Alguns são a partir de R$ 10 mil”, enfatiza Miguel de Oliveira. Os títulos podem ter rentabilidade pré ou pós-fixada, ou seja, o investidor pode saber exatamente quanto vai receber durante o tempo de aplicação ou então terá um retorno que flutuará de acordo com as taxas de juros praticadas no mercado. “A liquidez é a principal desvantagem das letras, já que o título só pode ser resgatado no vencimento e o dinheiro fica sem acesso até lá”, afirma.
Uma opção de LCA, com investimento mínimo de R$ 100 mil, e 360 dias de aplicação, tem rentabilidade de 94% do CDI em um produto do mercado, segundo Olegário. Daria um ganho de 12,83%, sem desconto de IR. Com inflação em 9%, a rentabilidade vai para 3,85%.