A queda da atividade econômica, piora do desemprego e pressão inflacionária em razão do reajuste de preços administrados – tarifas de serviços públicos – são custos do ajuste fiscal promovido pelo governo federal, cujos benefícios só deverão ser sentidos no médio e longo prazos. A avaliação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na Carta de Conjuntura número 27, divulgada hoje no Rio de Janeiro.
“Os benefícios do ajuste demoram a aparecer. Não existe uma regra. A gente não sabe dizer quanto tempo exatamente demora”, disse o coordenador do Grupo de Estudos de Conjuntura do Ipea (Gecon), Fernando Ribeiro.
A incerteza em relação ao tempo necessário para que os benefícios do ajuste sejam sentidos pela sociedade levou os economistas do Gecon a avaliar que o Brasil passa pelo momento mais difícil do processo de ajuste, “porque os custos estão aparecendo claramente, mas os benefícios ainda não são visíveis”.
Para Fernando Ribeiro, 2015 será um ano de retração da atividade econômica. “Ainda que se tenha alguma recuperação no segundo semestre, dada a queda que já sofreu até agora, é provável que [a economia] termine o ano com uma retração”. As projeções do boletim Focus do Banco Central apontam uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) – soma das riquezas produzidas pelo país – entre 1% e 2% para este ano.
“Vai ser um ano de retração da atividade e um ano de mais inflação e aumento do desemprego”, analisa Ribeiro. O quadro desenhado é basicamente esse, ainda que ocorra alguma melhora mais para o final do ano, salientou o coordenador do Gecon. Queda da atividade significa redução no investimento e consumo em queda, com alguma retração dos gastos do governo, devido ao ajuste fiscal.
As exceções nesse processo de retração econômica serão os setores agropecuário e extrativo mineral, este relacionado ao petróleo, que estarão em trajetória de crescimento ao longo do ano, avalia o Ipea. O coordenador do Gecon ressaltou que os resultados do ajuste da inflação, por exemplo, só vão começar a aparecer em 2016.
Ele explicou que por causa do impacto dos preços administrados, a inflação de 2015 será maior do que em 2014. “No ano que vem, a expectativa é que ela caia. O Banco Central está trabalhando para que ela caia o mais próximo possível da meta de 4,5%. Mas este ano, não tem muito jeito”.