Com mais uma semana de ajustes negativos nas planilhas, analistas do setor privado passaram a estimar que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 deve ter retração de 1,49%. A projeção é a mediana do Relatório de Mercado Focus divulgado nesta segunda-feira, 29, pelo Banco Central, e está pior do que a taxa de 1,45% calculada na semana passada. Essa foi a sexta piora consecutiva na previsão. Há quatro semanas, a mediana era de uma queda de 1,27%. Para 2016, a mediana das previsões passou de 0,70% para 0,50%. Um mês antes, estava em 1,00%.
Apesar de também ter revisado para pior sua projeção, de queda de 0,6% para retração de 1,1%, o BC segue mais otimista do que o mercado. No Relatório Trimestral de Inflação divulgado na semana passada, a instituição informou que a mudança ocorreu em função de piora nas perspectivas para a indústria, cuja expectativa de PIB recuou de -2,3% para -3,0%.
Segundo o BC, essa piora foi influenciada por impactos das reduções projetadas para a indústria de transformação, de -3,4% para -6%, e para a produção e distribuição de eletricidade, água e gás, de -1,4% para -5,6%, refletindo cenário de aumento da participação de termoelétricas na oferta de energia e de redução do consumo de água no primeiro trimestre do ano. Para o setor de serviços, a autoridade monetária, que até março via uma ligeira expansão de 0,1% em 2015, passou a projetar queda de 0,8%.
No boletim Focus divulgado hoje a projeção para a produção industrial passou de queda de 3,65% em 2015 para baixa de 4,00%. Quatro edições da pesquisa atrás, a mediana das previsões para o setor fabril era de uma retração de 2,80%. Já para 2016, a mediana das estimativas seguem estáveis em 1,50%.
Os analistas esperam que a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB encerre 2015 em 37,30%. Na semana passada, a mediana estava em 37,90%. Para 2016, a projeção passou de 38,20% para 38,05%.
Selic
Depois de algumas semanas sem alterações, o relatório Focus revelou a mudança já sinalizada individualmente pelos economistas para o comportamento da Selic este ano. A mediana das projeções aponta que a taxa básica de juros vai encerrar 2015 em 14,50% ao ano ante taxa de 14,25% vista até a semana passada. Há um mês, a estimativa observada no boletim era de que a Selic encerrasse 2015 em 14,00% ao ano. A alteração reflete também o tom mais duro adotado pelo BC no último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na semana passada, quando o diretor de Política Econômica da instituição, Luiz Awazu Pereira, afirmou que o aperto na política monetária, até o momento, ainda não foi suficiente.
Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano. Com a mudança, a taxa média para 2015 passou de 13,63% ao ano para 13,72% ao ano. Quatro semanas antes, essa taxa média estava em 13,50% ao ano. No caso do fim de 2016, a mediana das projeções permaneceu em 12,00% ao ano pela quinta semana seguida. Apesar disso, a mediana das estimativas para a Selic média do ano que vem subiu, passando de 12,96% ao ano para 13,21%, o que embute a informação de que houve alguma alteração para cima nas projeções que ainda não foi detectada pela mediana e que a perspectiva de que a taxa básica permanecerá por mais tempo em um patamar mais elevado ao longo do ano do que o imaginado inicialmente.
Entre os economistas que mais acertam as projeções para o rumo da taxa básica de juros, o Top 5 no médio prazo, não houve mudança para 2015: a Selic vai encerrar em 14,25% ao ano. Um mês antes eles projetavam 13,75%. Para 2016, a mediana subiu de 11,56% ao ano para 11,75% ao ano. Quatro semanas atrás a expectativa era de 12%.
Câmbio
O Focus vem mostrando poucas alterações para o mercado de câmbio. Desta vez, a principal foi na projeção para o dólar no final do ano que vem. De acordo com o documento do Bc divulgado nesta segunda-feira, a cotação da moeda americana estará em R$ 3,37 no encerramento de dezembro ante perspectiva anterior de R$ 3,40.
Apesar disso, a cotação média do dólar ao longo de 2016 ficou estável em R$ 3,30 entre uma semana e outra. Quatro semanas atrás estava em R$ 3,25. Já a mediana das estimativas para o dólar no encerramento de 2015 continuou em R$ 3,20 pela nona vez seguida. Para este ano, a mediana para o câmbio médio sofreu um leve ajuste para baixo, passando de R$ 3,09 para R$ 3,10 - um mês atrás estava em R$ 3,09.
Preços administrados
O patamar das projeções para os preços administrados não para de subir no Relatório de Mercado Focus, divulgado há pouco pelo Banco Central. Para este ano, a taxa passou de 14,50% para 14,60% - essa foi a oitava revisão seguida para cima. Há um mês, a mediana para esse conjunto de itens estava em 13,90%. Para 2016, a expectativa no boletim Focus apresentada hoje também avançou, saindo de 5,90% para 5,91%. Quatro semanas atrás essa projeção era de 5,80%.
Essas projeções são mais pessimistas que a do Banco Central. Segundo o último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na semana passada, a autoridade monetária revisou de 11% para 13,7% sua expectativa para os preços administrados em 2015. Para 2016, a instituição manteve a previsão de alta de 5,3%, mesmo valor do relatório anterior, apresentado em março.
A piora da projeção do BC considera variações ocorridas, até maio, nos preços da gasolina (9,3%) e do gás de bujão (4,3%) e previsões de redução de 3,0% nas tarifas de telefonia fixa e de aumento de 43,4% nos preços da eletricidade.