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Estado de Minas

Brasileiros estão com mais medo de perder o emprego

Pesquisa mostra que temor de ser demitido cresceu 36,8% em junho sobre mesmo mês de 2014 e é o maior desde 1999. Com mercado se deteriorando, massa salarial recua 10%


postado em 04/07/2015 06:00 / atualizado em 04/07/2015 07:10

Os brasileiros estão cada vez mais pessimistas e temerosos de perder seus empregos. O medo do desemprego aumentou 5,4% em junho em relação a março e alcançou o maior nível desde setembro de 1999, apurou pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na comparação com junho do ano passado, o indicador disparou 36,8%. Para os especialistas, tal receio se justifica e é bom os profissionais se prepararem para não serem os escolhidos na hora do corte de pessoal. O mercado de trabalho está se deteriorando rapidamente e a perspectiva é fechar 2015 com 1,1 milhão de empregos a menos.

Outro indicador do levantamento da CNI, que ouviu 2 mil pessoas em 141 municípios no mês passado, o Índice de Satisfação com a Vida recuou 7,3% na comparação com junho de 2014. “Os dois indicadores refletem o aprofundamento da crise, ou seja, a maior dificuldade de conseguir um emprego e a inflação alta”, assinalou o gerente-executivo da Unidade de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.

A situação não é boa nem para quem está empregado, porque os salários estão encolhendo. A inflação combinada com demissões e queda da renda provocou uma retração de 10% na massa salarial em seis meses, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais do que o tamanho do tombo, a velocidade dele é o que preocupa especialistas. Entre novembro de 2014, pico dos últimos anos, e maio a redução foi de 10%. Na crise de 2003, um recuo dessa proporção foi atingido após oito meses de deterioração do mercado de trabalho. Na crise de 2009, apesar da recessão, não houve queda da massa salarial nessa magnitude.

O fato de a recessão ter alcançado o setor de serviços, que antes absorvia a mão de obra sem qualificação e da indústria, em recessão há mais tempo, explica a rapidez da deterioração do mercado de trabalho no Brasil. O setor, que é o que mais emprega no país, continuou a encolher em junho, com redução nos postos de trabalho, de acordo com o Índice Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês), elaborado pelo HSBC e pela Markit. O PMI recuou para 39,9 em junho, de 42,5 em maio, atingindo a segunda menor leitura da série histórica, iniciada em março de 2007. O índice de junho só ficou acima do indicador registrado em março de 2009, auge da crise financeira internacional.

Para o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos, a inflação está corroendo o salário “O aumento do desemprego está retirando o poder de barganha dos trabalhadores na hora de recompor a renda, além de, obviamente, reduzir a ocupação. Tudo isso é reflexo do desaquecimento da economia”, analisou. O rendimento médio já acumula perda de 7,8% entre novembro e maio. Na comparação com maio de 2014, a baixa real é de 5%, o que indica um salário médio crescendo abaixo da inflação dos últimos seis meses.

Vagas fechadas Para o ex-diretor do Departamento de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho Rodolfo Peres Torelly, consultor do site www.trabalhoagora.com.br, diante do atual quadro recessivo do país é natural o aumento do medo do desemprego. “Não há nada que indique a reversão desse quadro. Quem tem emprego tem que procurar manter o seu”, orientou. Torelly explicou que a expectativa é de fechamento de 1,1 milhão de postos de trabalho este ano. “No Brasil, que tem 41 milhões de trabalhadores com carteira assinada, 1,1 milhão parece pouco. Mas não é. A necessidade para suprir o crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) é de abertura de 1,8 milhão de empregos. Então, teremos um buraco aí de quase 3 milhões de vagas a menos”, calculou.

O consultor também afirmou que a tendência para junho é bastante preocupante. “O período de maio a outubro é o de maior criação de emprego. Mas não tem sido assim desde o ano passado. A geração de emprego em junho fica, em média, acima de 200 mil postos. Em junho do ano passado, foram só 50 mil”, disse, lembrando que em 2008 foram criados 345 mil empregos em junho. Em 2010, foram 256 mil no mês e, em 2011, 255 mil. A partir de 2012, os números começaram a cair, para 163 mil e 158 mil em 2013. Ainda assim, acima dos 100 mil. “Por isso, se vierem números negativos em junho deste ano, o que é muito provável, é porque a crise bateu forte no mercado de trabalho”, assinalou.

O professor de Finanças do Ibmec/DF Marcos Sarmento Melo, sócio-gerente da consultoria Valorum, acredita que a tendência deve ser um aumento da informalidade. “As condições estão mais difíceis e a saída para quem fica desempregado é buscar renda no mercado informal”, disse. Para o especialista, uma saída para reduzir o desemprego é as empresas buscarem uma negociação com os funcionários. “Se houve acordo com os sindicatos, é possível baixar salários para evitar demissões no período de crise”, sugeriu.

 

Montadoras dão férias

 

Diante do recuo de 20,7% nas vendas de veículos novos no confronto entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo período do exercício anterior, conforme balanço divulgado esta semana pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as três principais montadoras de Minas Gerais – Fiat, Iveco e Mercedes-Benz – reduziram a produção e concederam férias coletivas ou lay-off aos trabalhadores. A medida atinge cerca de mil colaboradores. Em São Paulo, a Ford também deu férias para os trabalhadores das fábricas em São Bernardo do Campo e Taubaté.

A crise enfrentada pelo setor não é de hoje. Desde anteontem, cerca de 12 mil funcionários da Fiat, maior complexo industrial do setor no estado, entraram em férias coletivas. Eles ficarão em casa por 10 dias. Essa é a terceira vez no ano que a montadora italiana adota a estratégia para adequar a demanda em queda á produção. No primeiro semestre, a medida atingiu aproximadamente quatro mil funcionários.

A Iveco, do mesmo grupo europeu, também recorreu ás férias coletivas pelo mesmo motivo. Um grupo ficará em casa a partir do próximo dia 13. Outro, a partir de 20 de julho. Os trabalhadores retornam à fábrica em agosto. As montadoras de caminhões em todo o país amargam queda de 42% nas vendas no confronto entre janeiro e junho de 2015 e o mesmo período de 2014, segundo levantamento da Fenabrave.

Concorrente da Iveco, a Mercedes-Benz recorreu ao lay-off. Desde 1º de julho, 74 dos 750 trabalhadores da fábrica em Juiz de Fora, na Zona da Mata, ficarão longe da unidade até novembro. O lay-off, criado em 2011, só pode ser usado por empresas que enfrentam crise econômica, como ocorre com praticamente todas as montadoras do país. Na prática, o contrato de trabalho é suspenso por até cinco meses. Nesse período, os funcionários recebem o seguro-desemprego do governo e, em alguns casos, a empresa complementa o salário até o rendimento que a pessoa recebia antes do lay-off. A contrapartida, por parte do empregado, é participar de cursos de qualificação. Vale lembrar que a medida só pode ser adotada se amparada pelo sindicato da categoria.

Foi o que ocorreu com os metalúrgicos da Zona da Mata. “O acordo foi assinado. Haverá dois lay-offs. O primeiro é este, de 74 pessoas. O outro começará em dezembro e vai até abril, mas pode ser que não ocorra, caso a economia se recupere. Também não foi decidido o número de profissionais, caso tenha mesmo que ser adotado. Mas é bom frisar que conseguimos uma boa vitória, que é a garantia de emprego para todos os trabalhadores até junho do ano que vem”, informou Fernando Rocha, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Zona da Mata.

ABC paulista O mesmo não ocorreu na unidade da Mercedes em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde a montadora propôs aos funcionários redução da jornada de trabalho em 20% e dos salários em 10%. A contrapartida seria a garantia do posto de trabalho, mas, em votação em urna, os colaboradores da fábrica recusaram a proposta. O resultado das urnas foi conhecido na madrugada de ontem: 73,8% dos cerca de 7,5 mil empregados recusaram a proposta. Em nota, o sindicato local dos trabalhadores informou que “a proposta apresentada aos trabalhadores na Mercedes, em assembleias realizada durante todo o dia de ontem (quinta-feira), foi rejeitada por ampla maioria. Por enquanto, não há nenhuma reunião marcada com a empresa. Os trabalhadores estão em banco de horas até o dia 10 de julho”.


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