Em meio à rápida deterioração da economia brasileira e com o aprofundamento da crise política que assola o país, a agência de classificação de riscos Moody’s iniciou ontem conversas com a equipe econômica do governo e com o mercado para definir a nota de crédito do Brasil. A visita dos representantes da agência ocorre no momento em que os dados de arrecadação consolidam a expectativa de queda das receitas e quando os especialistas têm revisado as expectativas para retração da economia, consolidadas em um encolhimento 2%. Para especialistas, a perda do rating é iminente, o que pode implicar em uma fuga de recursos para outros mercados.
Com esse cenário, o país não cumprirá a meta superávit de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que implicará em aumento da dívida bruta do país, o que é levado em conta pela Moody’s na hora de rebaixar a nota de um país. Para piorar a situação, a falta de sintonia da equipe econômica pode agravar a situação, uma vez que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defende que a meta de primário não seja alterada, enquanto o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, quer criar uma banda de tolerância.
A comitiva da Moody’s iniciou os trabalhos no Banco Central, quando se reuniu por 90 minutos com o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, e outros quatro diretores. Na ocasião, o colegiado do BC apresentou os dados e as perspectivas da economia brasileira. Em seguida, os representantes da agência seguiram para o Ministério da Fazenda, para ouvir o secretário de Política Econômica, Afonso Arinos Mello de Franco Neto, e o secretário de Acompanhamento Econômico, Paulo Guilherme Farah Corrêa. Hoje, será a vez de Levy tentar sensibilizá-los a manter o rating do país, enquanto o mercado espera um rebaixamento.
Para o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, o rebaixamento da nota de crédito do Brasil já é uma realidade e a tendência é que a Moody’s emita uma sinalização de perspectivas negativas para o país. Ele afirmou que a deterioração da economia brasileira se dá pela falta de instituições fortes no país. Schwartsman afirmou que em uma democracia sem instituições fortes, independentemente do governo de plantão, qualquer projeto de expansão naufraga.
Com isso, ele ressaltou que a discussão sobre a adoção de uma banda de tolerância para o superavit primário perde sentido. “Faria sentido se as coisas funcionassem aqui. O governo mudou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) em 2014, aos 49 do segundo tempo, porque não ia cumprir a norma. No Brasil, esses mecanismos só funcionam quando as coisas vão mal. Veja a inflação. Nunca cumprimos a meta”, ponderou.
CRISE POLÍTICA Na avaliação do economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, a Moody’s deve rebaixar a nota de crédito do Brasil e sinalizar perspectivas negativas para os próximos meses. Com isso, a possibilidade de o país perder o grau de investimentos é grande, o que pode piorar ainda mais a crise econômica. Ele comentou que o país não consegue emitir sinais suficientes que evidenciem uma perspectiva de melhora. “A arrecadação vai de mal a pior e 76% da inflação está concentrada em energia, alimentos e câmbio. Ninguém determina o clima e as variações nos preços das moedas. O governo não tem controle sobre nenhum desses fatores, depois tomou diversas decisões erradas na condução da política econômica”, comentou.
Para ele, a situação tende a se agravar na medida em que o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL) e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), forem alvo da Justiça após os desdobramentos da Operação Lava-Jato. Silveira detalhou que o aprofundamento da crise política será ruim para o país porque a possibilidade de mais pautas-bomba sejam votadas pelo Legislativo é enorme. “A recessão será ainda mais forte. Minha expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) encolha 2,2% esse ano. O Executivo está na lona e não pode fazer nada. A redução da nota está dada”, lamentou.