São Paulo, 17, 17 - A situação atual do mercado de trabalho no Brasil vem se deteriorando de forma dramática, mas essa trajetória não é nenhuma surpresa, na avaliação do economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. "O quadro vem se deteriorando de forma dramática. Está em linha com o que estamos projetando, não é surpresa, até porque a deterioração progressiva do mercado de trabalho é fruto do ajuste", disse.
No mês de junho, o Brasil fechou 111.199 vagas formais de emprego, segundo informou o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o pior resultado para o mês da série histórica, iniciada em 1992. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) são fruto de 1.453.335 admissões e 1.564.534 demissões. "Está ficando lugar comum, todo mês é o pior resultado para o mês na série histórica", diz Camargo Rosa.
Para Camargo Rosa, ainda não é possível ver sinais de uma recuperação no mercado de trabalho, pois o quadro "ainda está no início". "A economia está passando por um ajuste significativo fruto dos erros cometidos na política econômica num passado recente", afirmou. "O quadro vai se prolongar e consequentemente não vejo o mercado de trabalho se recuperando tão rápido", completou.
O economista acredita que a taxa de desemprego em junho, que será conhecida na semana que vem, deve ficar em 7% ante a taxa de 6,7% de maio e que o próximo efeito é um impacto nas negociações salariais. "Mesmo com esse quadro de desaceleração do desemprego os reajustes salariais ainda estão relativamente elevados", disse. "Faz parte do ajuste uma redução."
Deterioração
Já o professor doutor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e sócio da Macrosector Consultores, Antônio Correia de Lacerda, estima que, pelo estoque de desempregados no País este ano, segundo o Caged, o número de trabalhadores sem emprego no final de 2015 deverá atingir a marca de 1 milhão de pessoas. A previsão do docente considera o saldo líquido de empregos formais em junho.
"A minha previsão dando conta de 1 milhão de desempregados no final do ano é muito por conta do PIB, que deverá cair 2% nesse ano", justificou o sócio da Macrosector Consultores. Para ele, o quadro é muito ruim porque é exatamente o oposto do que o País se acostumou a ver na última década. "É um número expressivo, um quadro oposto ao que a gente vivenciou nos últimos 10 anos", disse Lacerda.
Para ele, o quadro de desemprego em aceleração só deverá começar a se reverter lá pelo final de 2016. Isso porque, de acordo com o economista, emprego e renda estão ligados à atividade e o Produto Interno Bruto (PIB) nesse ano deverá cair 2%. Lacerda lamenta a situação atual porque o Brasil chegou perto do pleno emprego, com uma taxa de desemprego muito baixa, de cerca de 5%.
"Não chegamos ao pleno emprego porque para isso teríamos que ter desemprego zero. Mas como muita gente, por conta do aumento da renda das famílias, deixou de procurar emprego e as empresas passaram a ter dificuldade para encontrar funcionários no mercado, era como se estivéssemos em pleno desemprego", explicou. Mas agora, de acordo com ele, a situação é oposta.
Selic
Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, o saldo líquido de emprego formal negativo em junho reforça a aposta de que o Banco Central está "mais propenso" a encerrar o atual ciclo de alta de juros após subir a Selic em 0,25 ponto porcentual na reunião de julho do Comitê de Política Econômica (Copom). Segundo ela, essa probabilidade aumentou porque o resultado do Caged do mês passado reforça a indicação que a autoridade monetária tem dado de que a deterioração do mercado de trabalho está antecipada e maior do que o esperado.
Em junho, o saldo líquido de emprego formal foi negativo em 111.199 vagas. Solange ressaltou que o número deve ter impacto no mercado de juros, uma vez que o Banco Central "tem dado indicação de que a distensão do mercado de trabalho está vindo mais cedo e em maior intensidade". "Esse número reforça essa visão de que a distensão é maior e está antecipada. Com isso, o BC está mais propenso a dar mais uma alta de 0,25 ponto porcentual em julho e, muito provavelmente, parar", disse. "A não ser que tenhamos uma surpresa muito negativa na inflação corrente que será divulgada na quarta-feira (IPCA-15)", ponderou.