A confiança do consumidor está em queda livre. O indicador atingiu o recorde negativo da série histórica neste mês (82 pontos), tendo registrado a quarta baixa consecutiva no comparativo com o mês imediatamente anterior, segundo pesquisa feita pela FGV/Ibre. Em comparação com o índice registrado um ano atrás, houve queda de 23,3%. Pior: a expectativa futura voltou a recuar. Estável nos últimos três meses, o indicador teve queda de 2,1 pontos, ficando em 86,5 pontos. O número reflete a percepção ainda mais negativa do consumidor sobre a possibilidade de recuperação da economia.
Os resultados negativos em julho mostram a maior insatisfação da população da camada de renda mais baixa. A pesquisa mostra que 83,7% dos entrevistados com renda familiar mensal de até R$ 2,1 mil consideram ruim a atual situação econômica do país. É o indicador mais negativo desde o início da sondagem, em 2005. O cenário nebuloso se repete na avaliação sobre a situação financeira da família. “Era uma classe que vinha com mais expectativa sobre a melhora da economia nos próximos meses. Com inflação mais alta, os preços comprimem o orçamento doméstico e as famílias acabam se endividando”, explica a coordenadora da Sondagem do Consumidor da FGV/ Ibre, Viviane Seda.
O professor de Finanças do Ibmec Alexandre Galvão afirma que a expectativa do consumidor sobre a economia influencia diretamente os investimentos. A confiança em baixa afeta a projeção de empresas sobre qual será a demanda futura. “O empresário vai ser mais cauteloso como investidor”, afirma. Ele acredita numa reviravolta dos números a partir da estabilização da economia. “É preciso que haja algum indicador positivo para termos a retomada. Notícias ruins afetam o psicológico das pessoas”, afirma. Com a perspectiva de mais cortes de empregos nos próximos meses, a retomada da confiança ainda pode demorar. “Enquanto se tem emprego e renda, afeta menos”, diz ele sobre a sensação de confiança na economia.
No olhar de 40,3% dos entrevistados, nos próximos seis meses a situação do mercado de trabalho no país estará pior que o momento atual. Segundo Viviane, isso mostra a dificuldade para se inverter a conjuntura econômica atual. “Como não enxerga mudança no cenário econômico a curto prazo, ele é psicologicamente influenciado”, afirma a pesquisadora.
Outro item reforça o maior pessimismo do consumidor. Entre os quesitos que medem o grau de otimismo em relação ao futuro próximo, a maior queda, neste mês, foi do indicador de intenção de compras de bens duráveis nos próximos seis meses. O indicador que mede o ímpeto para compras nos próximos meses caiu 3,5%, atingindo 69,7 pontos. O percentual de consumidores com previsão de diminuir os gastos subiu de 41,1% para 43,5%, enquanto aqueles que projetam maiores gastos passou de 13,3% para 13,2%, no comparativo entre junho e julho.