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Estado de Minas

Barro Preto registra queda acima de 70% nas vendas por causa da crise

Comerciantes do polo de vestuário de BH estão vazias . Sacoleiras reduziram as compras. Número de lojas fechadas é maior a cada dia


postado em 29/07/2015 06:00 / atualizado em 29/07/2015 08:02

Lojas às moscas são comuns na região: revendedores estão em falta(foto: Fotos: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Lojas às moscas são comuns na região: revendedores estão em falta (foto: Fotos: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Os lojistas do Barro Preto, tradicional polo de moda da região Centro-Sul de Belo Horizonte, estão vivendo um pesadelo antecipado. O projeto de revitalização da área, previsto para começar neste ano, já trazia um temor de queda de até 50% nos negócios, a exemplo do que ocorreu na Savassi e no Centro da cidade, quando as obras espantaram a clientela. Mas ele foi adiado e deve ser menor do que o previsto anteriormente. No entanto, surgiu uma nova vilã para os comerciantes: a crise econômica. Em muitas lojas, a retração nas vendas já passa de 70%.

No quarteirão entre a Avenida Augusto de Lima e a Rua Rio Grande do Sul, galerias tradicionais estão às moscas e, ao todo, nos três prédios comerciais mais conhecidos por ali, 50 lojas e salas já estão de portas fechadas. O cenário de pontos sendo repassados ou alugados pode ser visto em outros quarteirões e até mesmo nas feiras shoppings, que sempre mantiveram um bom movimento. Os boxes vazios são sinal de alerta para a situação da região.

“Não entra ninguém para comprar. O nosso desespero tem sido tão grande que, por causa da queda no movimento, nem aos sábados estou abrindo as portas”, conta Rafael Paranhos, dono da loja de roupas Tendência, que fica na galeria Chaves, uma das mais antigas e tradicionais do bairro. Ele diz que já está olhando outros pontos para mudar seu negócio. “Mas aqui na região, eles estão cobrando R$ 2,8 mil de aluguel e é preciso avalistas que ganhem três vezes mais que esse valor. Fica difícil”, reclama.

No prédio onde fica a loja de Rafael já são 17 unidades fechadas. “Aqui a nossa venda caiu mais de 80%. As sacoleiras sumiram e este mês está ainda pior”, lamenta a comerciante da Maroki, Selma Rios. Ela diz que, apesar de o cenário ter apertado este ano, há um bom tempo o Barro Preto vem perdendo o prestígio entre revendedores. “Desde que os comerciantes passaram a vender atacado e varejo, as sacoleiras se incomodaram com isso e passaram a não vir”, critica.

Mas nem todas desapareceram por completo. Valéria Rodrigues, que estava ontem no Barro Preto, é sacoleira e conta que diminuiu o número de visitas à região por causa do baixo consumo da sua clientela, em Sarzedo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Antes, vinha com três sacolas. Hoje, venho com uma. Está difícil revender”, diz, acrescentando que os preços podem até estar melhores, mas ainda não são capazes de reverter a crise no comércio. “Não estou tendo retorno com as minhas compras”, diz.

Para Raimunda de Jesus, (E) está difícil manter o box:
Para Raimunda de Jesus, (E) está difícil manter o box: "Estou fazendo de tudo para me segurar". Rafael Paranhos (D) parou de abrir aos sábados por causa do baixo movimento da clientela (foto: Fotos: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

No tradicional Edifício Mondrian, na Rua Mato Grosso, o número de lojas e salas fechadas chega a 21. No Maximiano, são 12. “Não são só as galerias. Estamos vivendo a pior crise dos últimos tempos. O cliente não está chegando nas lojas de rua também. Aqui, a nossa queda no movimento foi mais de 60% e estamos há um bom tempo com mercadorias paradas. Antes, vinham sacoleiras de todo o estado, a loja ficava lotada e o Barro Preto era o destino das compras. Agora, há lojas para alugar, os comerciantes estão fechando as portas e todo mundo preocupado”, comenta o gerente da loja Xará, Júnior Borges.

No Shopping Barro Preto, Raimunda Maria de Jesus diz estar prestes a abandonar a região, onde está há 23 anos. Ela tem um box no shopping, onde vende roupas femininas, e diz que a cada semana duas lojas fecham as portas no centro de compras. “Meus vizinhos estão saindo, os corredores estão vazios e estou fazendo de tudo para me segurar aqui, mas será por pouco tempo. Não tenho como me manter”, lamenta.

Apesar de os comerciantes reclamarem da situação e culpar o momento da economia brasileira, o presidente da Associação Comercial do Barro Preto, Ricardo Lara, diz que a crise econômica não é a maior vilã. “Já tem uns três anos que a região vem capengando e o que aconteceu é que muitos comerciantes migraram para outros polos de moda da cidade”, afirma. Ele não sabe dizer o número de lojistas que fecharam as portas nos últimos meses. “Ao mesmo tempo que se fecham as portas, outras estão se abrindo. É o caso de lojas de armarinho. Não vejo nada de negativo nisso, mas há um grupo com meia dúzia de comerciantes que quer derrubar o Barro Preto”, critica.

O diretor da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) e coordenador do Conselho da CDL/Barro Preto, Fausto Izac diz que as portas fechadas no Barro Preto estão dentro da normalidade. “O que tem ocorrido é que os locatários estão demorando a conseguir inquilino. A Rua Mato Grosso, por exemplo, era um ponto disputado, mas há, agora, lojas sem alugar. Mas isso, por um lado, facilita as negociações com os interessados”, diz. Segundo ele, em comparação com outros locais da cidade, o Barro Preto está até melhor. “São 3,7 mil empresas lá e sabemos que, no Brasil, 30% das empresas que abrem as portas sobrevivem três anos. Há um processo normal de inaugurações e fechamentos”, define. Mas Izac reconhece que, este ano, esse processo pode ter agravado por causa da retração econômica e diz que, pelas contas da CDL, já foram cerca de 50 lojas fechadas em todo o Barro Preto, entre janeiro e este mês.

REVITALIZAÇÃO 

Entre os comerciantes, a revitalização do Barro Preto já virou história. Uma vez que o projeto ainda não saiu do papel, eles dizem não estar mais preocupados com os impactos que as intervenções podem causar, já que a situação econômica veio mais devastadora. Quando as mudanças foram anunciadas, em junho de 2012, elas estavam previstas para começar nos primeiros meses do ano seguinte, mas, até agora, nada.

De acordo com Izac, os empresários interessados nessa reforma diminuíram a pressão sobre a prefeitura para dar início às obras. “Não está na hora de fazer uma revitalização nessas circunstâncias”, defende. Segundo Ricardo Lara, a intenção é que o projeto seja iniciado somente em janeiro, porque, caso começasse neste mês, como previa uma das promessas, poderia atrapalhar as vendas de Natal. “Aprendemos muito com os impactos causados na região da Avenida Santos Dumont, no Centro, e também na Savassi. Vamos fazer algo que seja o menos traumático possível. Por isso, as intervenções devem abranger uma parte menor do que prevíamos”, avisa.


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