Um ano e cinco meses após o início da Operação Lava-Jato, Galvão Engenharia, UTC, OAS, Sete Brasil e Estaleiro Atlântico Sul (EAS) seguem tentando aplacar os efeitos das denúncias de corrupção sobre seus negócios. Bombardeadas pela devassa da Polícia Federal, as empresas viram secar o crédito dos bancos. Hoje enfrentam processos de reestruturação intrincados, que passam por vendas de ativos, negociações com credores e com a Petrobras, epicentro da crise.
Um dos casos mais complexos é o do EAS, sociedade entre Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, por envolver negociações com Petrobras e Sete Brasil, criada pela estatal para gerenciar a construção de sondas e que entrou em colapso com a Lava-Jato. A proposta, segundo apurou o jornal "O Estado de S. Paulo", é que ambas realoquem em outros projetos R$ 1 bilhão em equipamentos comprados pelo EAS para construir sete sondas, encalhadas depois que o estaleiro pernambucano rompeu contrato com a Sete, em fevereiro, alegando inadimplência da contratante. O acerto daria fôlego ao EAS, que seguiria operando calcado na carteira de encomendas de 18 petroleiros da Transpetro.
A dívida do EAS gira em torno de R$ 2,6 bilhões. Entre os credores estão BNDES, Itaú, Bradesco, Santander e fornecedores do projeto de sondas. Sem um consenso sobre os equipamentos, o caso promete acabar em disputa nos tribunais ou em arbitragem. Segundo uma fonte, entretanto, a retomada do contrato para a construção de ao menos três sondas pode voltar à mesa.
Uma das dificuldades em avançar é a paralisia que tomou conta da Petrobras e o temor de que um acordo com o EAS crie um efeito dominó em outros estaleiros. A própria Sete Brasil tenta aprovar sua reestruturação. Apresentada em maio a credores com a proposta de reduzir de 28 para 19 sondas seu portfólio, ela ainda não foi validada pela Petrobras.
A estatal analisa se seria mais econômico alugar parte das sondas, em um momento de baixa do setor. Uma das hipóteses em jogo é a entrada de novos sócios estratégicos que fariam um aporte de capital na Sete Brasil. A reestruturação é essencial para destravar o financiamento de R$ 8,8 bilhões aprovado em 2014 pelo BNDES e congelado pelo efeito Lava-Jato.
No epicentro da operação da PF, após a polêmica delação do empreiteiro Ricardo Pessoa, a UTC tem uma dívida de R$ 1,25 bilhão concentrada em seis bancos: Itaú, Santander, Bradesco, Banco do Brasil, HSBC e ABC Brasil. A prioridade dos negociadores é obter uma carência para o início do pagamento da dívida, além de aprovar o alongamento de prazos por cerca de seis anos. Para isso, está sendo montada uma operação estruturada, com a reunião das dívidas dos credores, possivelmente em uma debênture. O contrato definitivo incluirá a injeção de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões em capital de giro para a UTC.
Com a carência, a UTC ganha tempo para vender ativos e abater a dívida. O maior trunfo é sua fatia de 23% no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, avaliada entre R$ 500 milhões e R$ 700 milhões. A venda está sendo coordenada pelos principais credores da empresa - Itaú, Santander e Bradesco. Investidores foram convidados a analisar o ativo pelos próximos 30 dias. O intuito é chegar a uma solução até o primeiro trimestre de 2016.
A UTC negocia ainda imóveis como o terreno na Avenida Paralela, em Salvador, avaliado em R$ 300 milhões. O grupo avalia ter R$ 500 milhões a receber da Petrobras, referentes às obras da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap).
Em comum
UTC, EAS e Galvão Engenharia têm em comum em sua reestruturação a RK Partners, do consultor Ricardo Knoepfelmacher. Acostumado a apagar incêndios societários, o reestruturador, conhecido como Ricardo K, atuou em crises emblemáticas como as da Brasil Telecom e do império X. Assim como no grupo de Eike Batista, a missão é lidar com credores e livrar as empresas de dívidas bilionárias.
Das empresas atingidas pela Lava-Jato, as construtoras Galvão e OAS recorreram à recuperação judicial. O instrumento ainda não é cogitado pelas demais. A Galvão entregou seu plano à Justiça em junho e a expectativa é que realize a assembleia de credores em agosto. A empresa tem uma dívida de cerca de R$ 1,7 bilhão. De outro lado, avalia ter R$ 2,3 bilhões a receber da Petrobras.
Para sanear as dívidas, a Galvão conta com a venda da CAB Ambiental, empresa de saneamento com 14 concessões e quatro Parcerias Público-Privadas sob sua gestão. O outro ativo da Galvão é a concessão da BR-153 no trecho entre Goiás e Tocantins, cujo financiamento está congelado no BNDES.
Com dívida de R$ 9 bilhões, a OAS apresentou em junho seu plano de recuperação judicial. O documento prevê a venda da fatia do grupo na Invepar, um dos maiores players no setor de infraestrutura. A principal candidata é a canadense Brookfield Infraestructure, que fez um empréstimo de R$ 800 milhões à OAS, tendo como contrapartida a participação do grupo na Invepar, que atua em projetos de infraestrutura. A fatia de 24,5% foi incluída na recuperação por pouco mais de R$ 2 bilhões, mas a tendência é que seja fechado um valor menor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.