A baixa confiança dos empresários e dos consumidores, o aumento do desemprego e a queda na renda das famílias são fatores negativos que pesam sobre a produção industrial, afirmou há pouco André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para haver uma melhora na atividade, apenas com a reversão de todos esses fatores, notou.
"O baixo nível de confiança dos empresários e do consumidor, a incerteza para realizar investimentos e consumir, o aumento da taxa de desemprego, a renda disponível das famílias diminuindo, seja porque você tem inflação mais alta ou porque você permanece com comprometimento com outras dívidas, e o mercado externo ainda adverso pontuam trajetória descendente que marca a produção da indústria", disse Macedo.
Até o momento, o gerente observa que a indústria apresenta uma "queda importante", de 6,3% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2014. Os veículos têm o principal impacto negativo, com baixa de 20,7% no período, mas não é o único setor. Ao todo, 24 das 26 atividades pesquisadas têm retração nesta base.
"Se você reverte toda essa conjuntura desfavorável, você pode ter melhora na produção. Ou seja, para qualquer reversão de cenário, esses fatores têm de sair desse contexto conjuntural. E são fatores que já estão há algum tempo", explicou Macedo.
Atividade
A indústria brasileira opera 12,2% abaixo do pico histórico, atingido em junho de 2013. Com isso, a atividade atual é comparável a níveis de julho de 2009, numa "clara tentativa" da indústria de tentar adequar os estoques acumulados à demanda, segundo André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
"A distância do patamar histórico nos dá dimensão da redução de ritmo", disse Macedo. "Ao mesmo tempo, a situação lá em 2009 tinha motivações distintas. Foi uma crise internacional que trouxe incerteza para o mercado interno. Agora, a desaceleração chama muito mais atenção", acrescentou.
Segundo o gerente, a saída adotada pelo governo para a crise em 2009 foi investir no mercado interno, que estava "em um momento melhor". "O estímulo via redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) naquela época funcionou. Agora, tem-se queda (na produção) importante, e um possível esgotamento dessa política e mercado de trabalho não funcionando como funcionava são dificuldades", afirmou.
De acordo com o IBGE, a baixa de 6,3% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2014 foi a mais intensa desde o primeiro semestre de 2009, quando a queda foi de 13,0% no mesmo tipo de confronto. Além disso, na comparação de mês contra igual mês do ano anterior, o resultado de junho (-3,2%) foi o 16º negativo consecutivo, algo inédito na série, iniciada em janeiro de 2002.
Segundo trimestre
A produção industrial recuou 2,1% no segundo trimestre de 2015 em relação aos três primeiros meses do ano, calculou o IBGE ) a pedido do Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. A retração foi puxada pela categoria de bens de capital (-9,9%) e de bens de consumo duráveis (-8,8%), mas todas apresentaram comportamento negativo.
Em menor intensidade, também tiveram retração na produção no segundo trimestre em relação ao primeiro as categorias de bens de consumo semi e não duráveis (-1,8%) e de bens intermediários (-1,4%).
O IBGE não costuma divulgar os números trimestrais ajustados sazonalmente, que permitem a visualização da trajetória da atividade em relação ao trimestre anterior, porque os métodos de ajuste e de cálculo diferem da estimativa da indústria no âmbito do Produto Interno Bruto (PIB). O instituto opta por anunciar de forma oficial apenas os dados em relação a igual trimestre do ano anterior.
Nesta comparação, a produção industrial teve queda de 6,7% em relação ao segundo trimestre de 2014, a maior baixa desde o terceiro trimestre de 2009.
Câmbio
A desvalorização do real ante o dólar já traz alguns efeitos positivos sobre a produção industrial, segundo Macedo. Apesar disso, a influência é pontual em alguns setores e não reverte o cenário negativo em que se insere a indústria como um todo, salientou.
"O câmbio tem favorecido os setores de celulose, aves e minério de ferro. Eles têm comportamento diferente da indústria, com influência do câmbio nesse processo. Mas por enquanto ainda não tem reversão de cenário, é um reflexo setorial", explicou Macedo.
No segundo trimestre de 2015, a produção de celulose cresceu 4,4% em relação a igual período de 2014. Nos primeiros três meses do ano, a alta havia sido de 1,7%, no mesmo tipo de confronto. O avanço, segundo o gerente, é uma evidência do impacto positivo do câmbio nas exportações. "Provavelmente os favorecidos são os que já têm viés para mercado externo", afirmou.
Por outro lado, a valorização do dólar também pode prejudicar setores que utilizam de forma intensiva insumos vindos do exterior, reconheceu Macedo. "Isso traz uma preocupação. Um exemplo é o setor farmacêutico, cuja queda na produção pode ter relação com o custo adicional em função do câmbio", disse.
"Mas de alguma forma isso também pode ser uma saída uma vez que você pode substituir os produtos importados por produção doméstica. É claro que depende de negociação e de como as empresas utilizam esses insumos na produção de seu bem final", acrescentou.