Brasília – Depois de dobrar de tamanho na última década, a massa salarial – soma dos rendimentos do trabalho de todos os brasileiros ocupados – iniciou trajetória de queda neste ano, o que não ocorria desde 2003. Em 2005, a cifra mensal era de R$ 81 bilhões e hoje está em R$ 163,7 bilhões, na média. A inflação alta e o aumento do desemprego, contudo, atingiram o bolso do trabalhador. Se as projeções de especialistas em economia e mercado de trabalho se confirmarem, o poder de compra deve encolher, pelo menos, R$ 134 bilhões em 2015 e 2016.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a soma dos rendimentos habituais – que desconsidera itens como férias e 13º salário – chegou a R$ 2 trilhões em 2014. O valor não deverá se repetir. Segundo estimativas da Corretora Votorantim, a queda será de 3,8% este ano e de 2,8% em 2016, perfazendo retração acumulada de 6,7% em dois anos.
Dados do Banco Central apontam que a massa salarial ampliada da PNAD, que inclui todos os outros rendimentos provenientes do trabalho, foi de R$ 2,4 trilhões no ano passado. A perda, com base nesse cálculo, portanto, pode superar R$ 160 bilhões em 2015 e 2016. “O indicador revela o dinheiro que circula no mercado proveniente do trabalho. Ele sofre influência do rendimento médio dos trabalhadores e da quantidade da população empregada”, explica Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. As duas variáveis mantiveram bom desempenho até 2014. No entanto, começaram a sentir, desde janeiro passado, os efeitos da baixa atividade econômica, dos juros altos e da inflação.
A taxa de desemprego, que era de 4,3% em dezembro do ano passado, subiu para 6,9% em junho, de acordo com a Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE. No primeiro semestre, foram fechados 355 mil postos de trabalho. “Como a economia não deve reagir, porque os juros aumentaram muito e a inflação não dá trégua, a expectativa é de que 2015 termine com 1 milhão de empregos a menos”, projeta Júlio Miragaya, vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
O que agrava as perspectivas para o futuro é que o consumo das famílias garante mais de 60% do Produto Interno Bruto (o PIB, conjunto da produção de bens e serviços do país), destaca Miragaya, do Cofecon. Com algo entre R$ 134 bilhões e R$ 160 bilhões a menos de massa salarial em dois anos, os brasileiros terão muita dificuldade para consumir o suficiente e fazer a economia voltar a crescer. “Com o aumento do desemprego, ocorre uma migração para a informalidade. E, sem a estabilidade da carteira assinada, o trabalhador reduz o consumo”, diz Azeredo.