Os micro e pequenos empreendimentos brasileiros constituem um universo de mais de 99% das empresas no país e mantêm 17 milhões dos empregos, o que corresponde a 52% dos postos de trabalho formais no país. A relevância do setor, no entanto, não livra esses negócios do baque provocado pela crise econômica. Diferentemente disso, eles sofrem com um orçamento mais enxuto e fluxo de caixa menor, o que faz com que fiquem mais vulneráveis às turbulências. Mostra disso está na liderança das empresas de menor porte sobre os requerimentos de recuperação judicial apresentados de janeiro a julho, segundo pesquisa da consultoria Serasa Experian. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas alertam para a necessidade de que elas se ajustem aos tempos bicudos e descubram os erros no planejamento financeiro, além de deixarem de confundir caixa com lucro.
De acordo com o Indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações, as micro e pequenas empresas apresentaram 323 pedidos de recuperação judicial no primeiro semestre, seguidas daquelas de médio porte, responsáveis por 174 requerimentos, e das grandes companhias, com 130. O número que lidera o triste ranking é recorde para o período analisado desde 2006, quando entrou em vigor a nova Lei das Falências, e está associado à falta de preparo e conhecimento dos empresários.
A ideia de Orlando era expandir o negócio de tele-entrega e abrir uma loja. No entanto, com o crédito restrito, os planos foram por água abaixo. “Continuamos com o négócio de tele-entrega, mas já pensamos em fechar as portas muitas vezes. Os custos com os insumos e a energia aumentaram pelo menos 20% e não conseguimos repassar esses custos para o consumidor”, afirma. Ainda de acordo com Orlando, foi preciso refazer planejamentos e recalcular a taxa de lucro, mas, mesmo assim, está sendo difícil prosseguir com o negócio. “Divido o tempo entre um novo emprego e a empresa, porque só com o negócio não garanto o sustento”, lamenta.
Para fugir do gargalo e suportar a crise, o analista de atendimento do Sebrae-MG Aroldo Santos Araújo explica que os empreendedores devem fazer ajustes e se adaptar à nova realidade do mercado. O primeiro passo, segundo ele, é descobrir o que está errado na operação do negócio e o que tornou a empresa deficitária. Na maioria das vezes, o empresário confunde caixa com lucro e é preciso saber que os fluxos de pagamento não estão em sintonia com os de recebimento.
RadiografiaEntre as dicas do consultor, está a criação de uma planilha com todas as informações do negócio, para que o empreendedor identifique se está sendo gasto muito dinheiro ou se as vendas não estão correspondendo às expectativas. “Os empresários que enxergarem a necessidade de mudanças mais cedo têm uma vida útil mais longa”, afirma. Depois de fazer uma radiografia das finanças da empresa, é preciso corrigir os erros, de natureza financeira ou relacionados ao mercado em que ela está inserida, quando o produto não atende às necessidades do cliente.
O próximo passo, então, será cortar despesas ou repensar o produto que a empresa oferece de acordo com o que o novo consumidor busca. A busca constante por custos baixos é um fator essencial para garantir a competitividade da empresa. “O cliente está mais temeroso para gastar e precisa enxergar valor no produto, ou ele deixa de comprar. É preciso estabelecer prioridades. Talvez uma mudança de mercado ou agregar valor, oferecendo novos serviços”, afirma. Usar de transparência é essencial. É a melhor postura diante da situação de crise. Ser franco com os credores e com funcionários é fundamental, numa hora essencial para a recuperação da companhia.