São Paulo, 28 - A acentuada retração na atividade econômica da construção civil foi influenciada pela restrição de crédito e pela fraca demanda por imóveis residenciais, ao mesmo tempo em que as grandes obras de infraestrutura continuam a ser impactadas pelo ajuste fiscal do governo, avalia o economista Raone Costa, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).
Para ele, há pouca perspectiva de melhora no curto prazo, mas os próximos trimestres devem apresentar resultados negativos mais amenos.
"A construção civil é uma atividade industrial, que está sendo afetada na veia por toda a crise econômica no País. Dentro do segmento, a parte de incorporação está sofrendo muito, o que pode ser visto na pesquisa FipeZap com a queda de preços reais dos imóveis", afirmou o economista.
"A restrição de crédito da Caixa Econômica Federal (CEF) também deve ter impactado o setor, embora não seja possível quantificar o efeito de maneira exata", acrescentou.
Ainda dentro da construção civil, o economista ressaltou que as obras governamentais tem sido impactadas por operações mais morosas, diante da falta de dinheiro do governo federal e das investigações de grandes empresas no âmbito da Operação Lava Jato. "Estamos em momento de ajuste e não vemos tão próximo o fim desse processo", afirmou.
De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil recuou 8,2% no segundo trimestre frente igual período do ano passado. O ritmo de baixa foi bem mais acentuado que o resultado anual do primeiro trimestre, quando a retração havia sido de 2,9%.
Com isso, na relação com os três primeiros meses de 2015, o PIB no segmento registrou queda de 8,4%, marcando a maior queda na indústria, de acordo com o IBGE. Para Raone Costa, há poucas expectativas de melhora significativa no setor no curto prazo, mas o setor não deve continuar a cair 8%, "até porque a base de comparação está mais baixa".
"A parte de pequenas obras, como de incorporação, só deve melhorar com o avanço da economia como um todo, como controle da inflação e diminuição na taxa de juros. Mas não parece que estamos próximos desses pontos ainda. Além disso, o setor tende a reagir com alguma defasagem", afirmou o executivo. "Mesmo quando as notícias positivas começarem a chegar, o setor ainda deve levar algum tempo para melhorar. Devemos continuar numa tendência negativa, mesmo se for a um ritmo mais amenos que 8%", acrescentou.