A ideia era passar o Natal em Dublin, na Irlanda, com a filha que estuda e trabalha no país europeu. Mas a escalada do câmbio fez a família da pedagoga Débora Neves suspender o projeto. Este ano, assim como Débora, perto de 700 mil brasileiros devem desistir de viajar para o exterior, ou mudar a rota para o turismo doméstico. O principal vilão dessa mudança de planos é o dólar.
A moeda fechou ontem a R$ 3,75, já acumulando alta de 40% em 2015 e nas casas de câmbio ultrapassa a barreira dos R$ 4 no cartão pré-pago. A conversão para o real, ou a multiplicação instantânea dos preços por R$ 4, só não tem assustado mais o turista devido à onda de promoções das companhias aéreas que deixa as passagens até 50% mais baratas, compensando o câmbio.
A Agência Brasileira de Viagens (Abav) acompanha o desempenho das vendas de pacotes em todo o país e calcula que a retração no número de embarques ao exterior deve ficar próxima a 10% em 2015. A desaceleração é atenuada pela demanda de roteiros nacionais. As vendas domésticas permaneceram estáveis de janeiro a junho e devem crescer entre 5% e 7% no segundo semestre, segundo a Abav. Fora isso, as promoções que continuam a valer de agora até o início de dezembro também servem de motivação. Muitos que mantêm os planos, estão optando por viagens mais curtas e de menor valor.
“A passagem para os Estados Unidos chegou a cair de US$ 1,3 mil para US$ 600, o que compensou a alta do câmbio. No entanto, o efeito psicológico do dólar a R$ 4 é forte”, diz o vice-presidente de relações internacionais da Abav, Leonel Rossi Junior. Segundo ele, o resultado do ano vai depender da evolução da economia e da política do país, já que a retração do mercado de trabalho também se reflete nas viagens.
RISCO NO CARTÃO O câmbio encostando em R$ 4 foi o principal peso na decisão da pedagoga Débora Neves. “Decidimos adiar a viagem para o ano que vem, até que a situação político-econômica esteja mais definida.” Como a data escolhida seria o Natal, Débora não se beneficiou das promoções. “Além das passagens, há os outros custos da viagem, isso sem falar na insegurança para usar o cartão”, diz a pedagoga.
Comprar dólar aos poucos e controlar os gastos no exterior feitos no cartão de crédito são as grandes dicas. “Para quem vai viajar, o melhor é não comprar a moeda de uma só vez, trocar um pouco a cada dia para diluir o risco”, diz o analista de mercado e professor de finanças Paulo Vieira. Ele reforça que as compras no cartão de crédito também envolvem risco maior, já que, neste momento, é impossível prever a cotação da moeda. “O dólar está em um momento arriscado para previsões, é como se fosse um foguete de São João, que ninguém sabe ao certo onde vai cair”, compara.
COMPRAS LIMITADAS No final de julho, a servidora pública Ana Paula Luiz, 34 anos, decidiu levar adiante seus planos de passar as férias nos Estados Unidos. “Fiquei acompanhando o site da companhia aérea até conseguir uma ótima promoção. Paguei R$ 1.250 pela passagem de ida e volta, de Belo Horizonte para Orlando.” Ana Paula embarca em outubro para o destino, onde vai se encontrar com um grupo de amigos e visitar oito parques da Disney. Sua ideia inicial era dividir a viagem entre Orlando e Miami. No paraíso do consumo, ela compraria perfumes, óculos, maquiagens e roupas. “O dólar alto me fez mudar de ideia. Agora vou só a Orlando e focar a viagem nos passeios e nos parques. Estou muito preocupada com as despesas no cartão de crédito”, comentou.
Na CVC, maior operadora de viagens de lazer do país, o presidente Luiz Eduardo Falco, diz que, diante da desvalorização do real, o consumidor tem procurado adaptar a viagem ao orçamento. “Os turistas têm priorizado pacotes mais curtos e mais econômicos.” Ele cita como exemplo os destinos para o Caribe, que cresceram na ordem de dois dígitos no primeiro semestre, já que em geral oferecem o sistema all inclusive, onde o consumidor controla melhor os gastos.
QUEDA RECORDE Há 10 anos no mercado, Saulo Corte, supervisor comercial da Acta Turismo, diz que a redução de preços das companhias aéreas é recorde. Segundo ele, no ano passado, nessa mesma época, as passagens para destinos como Miami, Nova York e Los Angeles, custavam a partir de US$ 650, agora os bilhetes podem ser encontrados a partir de US$ 265. Já na alta temporada, como Natal e réveillon, se comparado ao ano passado, os preços caíram de US$ 1,7 mil para US$ 500. Mesmo com as promoções, a maior alta no volume de vendas foi registrada nos pacotes nacionais, que cresceram perto de 20%, de janeiro a agosto.
A CVC aponta que, desde o início do ano, vem apostando em promoções para tentar neutralizar a alta do dólar, como oferecer a moeda americana a preço reduzido e parcelamentos. Segundo o presidente da operadora, as viagens para destinos como Orlando, Nova York e Las Vegas estão 30% em média mais baratas do que em 2014 e no primeiro semestre as vendas de pacotes para o país conseguiram crescer 12%.
PRESENTE A agência de viagens Tia Eliane, diz que o crescimento foi registrado nos destinos nacionais, mas que, de modo geral, as famílias têm mantido a programação de viajar para Disney, transformar a viagem em presente de aniversário para os filhos. Renata Boechat, diretora da agência, diz que os preços estão atrativos e as chances de parcelamento também. “Muitos dizem que a moeda americana estava fora de lugar. Mesmo com o dólar alto, existem muitas promoções interessantes. É possível encarar o novo patamar da moeda sem deixar de viajar.”
A médica Aparecida Franciscani está de viagem marcada para o Caribe. Em dezembro, embarca para Punta Cana. Ela comprou a passagem em maio, em uma promoção. Aparecida diz que vai focar no passeio e cortou dos planos as compras no free shop, devido ao câmbio. Diz, no entanto, que adora viajar e não cortou os destinos internacionais de seus planos. Ela ainda não decidiu seu roteiro para o ano que vem. “Tem muitos lugares que quero conhecer. O lugar que estiver em oferta, seja Europa, América, ou Ásia, eu vou.”
Leonel Rossi, da Abav, lembra que, nos últimos quatro anos, 12 companhias internacionais voaram para o Brasil. “Há ainda os investimentos em aeroportos. Só a American Airlines e a TAP operam 180 voos semanais para os Estados Unidos. A tendência do turismo internacional é crescer.”
Faça as malas
Saindo de Belo Horizonte
7 dias em Orlando
R$ 2,6 mil
» Passagem aérea, hotel, carro econômico com seguro e seguro-saúde
7 dias em Paris
R$ 3,9 mil
» Passagem aérea, hotel e café da manhã
7 dias em Santiago
R$ 2,2 mil
» Passagem, hotel, café da manhã, city tour e traslados
Semana da Criança na Disney
A partir de US$ 1,6 mil
(R$ 6 mil no câmbio de ontem)
» Hospedagem em apartamento quádruplo, acompanhamento de guia, café da manhã, ingressos para os parques
» Passagens a partir de US$ 1.390 (R$ 5.212)
Fontes: Acta Turismo e Tia Eliane Turismo
A moeda fechou ontem a R$ 3,75, já acumulando alta de 40% em 2015 e nas casas de câmbio ultrapassa a barreira dos R$ 4 no cartão pré-pago. A conversão para o real, ou a multiplicação instantânea dos preços por R$ 4, só não tem assustado mais o turista devido à onda de promoções das companhias aéreas que deixa as passagens até 50% mais baratas, compensando o câmbio.
A Agência Brasileira de Viagens (Abav) acompanha o desempenho das vendas de pacotes em todo o país e calcula que a retração no número de embarques ao exterior deve ficar próxima a 10% em 2015. A desaceleração é atenuada pela demanda de roteiros nacionais. As vendas domésticas permaneceram estáveis de janeiro a junho e devem crescer entre 5% e 7% no segundo semestre, segundo a Abav. Fora isso, as promoções que continuam a valer de agora até o início de dezembro também servem de motivação. Muitos que mantêm os planos, estão optando por viagens mais curtas e de menor valor.
“A passagem para os Estados Unidos chegou a cair de US$ 1,3 mil para US$ 600, o que compensou a alta do câmbio. No entanto, o efeito psicológico do dólar a R$ 4 é forte”, diz o vice-presidente de relações internacionais da Abav, Leonel Rossi Junior. Segundo ele, o resultado do ano vai depender da evolução da economia e da política do país, já que a retração do mercado de trabalho também se reflete nas viagens.
RISCO NO CARTÃO O câmbio encostando em R$ 4 foi o principal peso na decisão da pedagoga Débora Neves. “Decidimos adiar a viagem para o ano que vem, até que a situação político-econômica esteja mais definida.” Como a data escolhida seria o Natal, Débora não se beneficiou das promoções. “Além das passagens, há os outros custos da viagem, isso sem falar na insegurança para usar o cartão”, diz a pedagoga.
Comprar dólar aos poucos e controlar os gastos no exterior feitos no cartão de crédito são as grandes dicas. “Para quem vai viajar, o melhor é não comprar a moeda de uma só vez, trocar um pouco a cada dia para diluir o risco”, diz o analista de mercado e professor de finanças Paulo Vieira. Ele reforça que as compras no cartão de crédito também envolvem risco maior, já que, neste momento, é impossível prever a cotação da moeda. “O dólar está em um momento arriscado para previsões, é como se fosse um foguete de São João, que ninguém sabe ao certo onde vai cair”, compara.
COMPRAS LIMITADAS No final de julho, a servidora pública Ana Paula Luiz, 34 anos, decidiu levar adiante seus planos de passar as férias nos Estados Unidos. “Fiquei acompanhando o site da companhia aérea até conseguir uma ótima promoção. Paguei R$ 1.250 pela passagem de ida e volta, de Belo Horizonte para Orlando.” Ana Paula embarca em outubro para o destino, onde vai se encontrar com um grupo de amigos e visitar oito parques da Disney. Sua ideia inicial era dividir a viagem entre Orlando e Miami. No paraíso do consumo, ela compraria perfumes, óculos, maquiagens e roupas. “O dólar alto me fez mudar de ideia. Agora vou só a Orlando e focar a viagem nos passeios e nos parques. Estou muito preocupada com as despesas no cartão de crédito”, comentou.
Na CVC, maior operadora de viagens de lazer do país, o presidente Luiz Eduardo Falco, diz que, diante da desvalorização do real, o consumidor tem procurado adaptar a viagem ao orçamento. “Os turistas têm priorizado pacotes mais curtos e mais econômicos.” Ele cita como exemplo os destinos para o Caribe, que cresceram na ordem de dois dígitos no primeiro semestre, já que em geral oferecem o sistema all inclusive, onde o consumidor controla melhor os gastos.
QUEDA RECORDE Há 10 anos no mercado, Saulo Corte, supervisor comercial da Acta Turismo, diz que a redução de preços das companhias aéreas é recorde. Segundo ele, no ano passado, nessa mesma época, as passagens para destinos como Miami, Nova York e Los Angeles, custavam a partir de US$ 650, agora os bilhetes podem ser encontrados a partir de US$ 265. Já na alta temporada, como Natal e réveillon, se comparado ao ano passado, os preços caíram de US$ 1,7 mil para US$ 500. Mesmo com as promoções, a maior alta no volume de vendas foi registrada nos pacotes nacionais, que cresceram perto de 20%, de janeiro a agosto.
A CVC aponta que, desde o início do ano, vem apostando em promoções para tentar neutralizar a alta do dólar, como oferecer a moeda americana a preço reduzido e parcelamentos. Segundo o presidente da operadora, as viagens para destinos como Orlando, Nova York e Las Vegas estão 30% em média mais baratas do que em 2014 e no primeiro semestre as vendas de pacotes para o país conseguiram crescer 12%.
PRESENTE A agência de viagens Tia Eliane, diz que o crescimento foi registrado nos destinos nacionais, mas que, de modo geral, as famílias têm mantido a programação de viajar para Disney, transformar a viagem em presente de aniversário para os filhos. Renata Boechat, diretora da agência, diz que os preços estão atrativos e as chances de parcelamento também. “Muitos dizem que a moeda americana estava fora de lugar. Mesmo com o dólar alto, existem muitas promoções interessantes. É possível encarar o novo patamar da moeda sem deixar de viajar.”
A médica Aparecida Franciscani está de viagem marcada para o Caribe. Em dezembro, embarca para Punta Cana. Ela comprou a passagem em maio, em uma promoção. Aparecida diz que vai focar no passeio e cortou dos planos as compras no free shop, devido ao câmbio. Diz, no entanto, que adora viajar e não cortou os destinos internacionais de seus planos. Ela ainda não decidiu seu roteiro para o ano que vem. “Tem muitos lugares que quero conhecer. O lugar que estiver em oferta, seja Europa, América, ou Ásia, eu vou.”
Leonel Rossi, da Abav, lembra que, nos últimos quatro anos, 12 companhias internacionais voaram para o Brasil. “Há ainda os investimentos em aeroportos. Só a American Airlines e a TAP operam 180 voos semanais para os Estados Unidos. A tendência do turismo internacional é crescer.”
Faça as malas
Saindo de Belo Horizonte
7 dias em Orlando
R$ 2,6 mil
» Passagem aérea, hotel, carro econômico com seguro e seguro-saúde
7 dias em Paris
R$ 3,9 mil
» Passagem aérea, hotel e café da manhã
7 dias em Santiago
R$ 2,2 mil
» Passagem, hotel, café da manhã, city tour e traslados
Semana da Criança na Disney
A partir de US$ 1,6 mil
(R$ 6 mil no câmbio de ontem)
» Hospedagem em apartamento quádruplo, acompanhamento de guia, café da manhã, ingressos para os parques
» Passagens a partir de US$ 1.390 (R$ 5.212)
Fontes: Acta Turismo e Tia Eliane Turismo