Aumenta em Minas Gerais a quantidade de empresas que, sem saída para a crise financeira do Brasil, fecham suas portas. Até agosto deste ano, no estado, 17 mil firmas encerraram suas atividades na Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg), uma média de 2 mil por mês. Em comparação com o mesmo período do ano passado, o fechamento foi 23% maior, já que, de janeiro a agosto de 2014, foram 13.945, que “abandonaram o barco”. O percentual é ainda mais assustador quando comparado com 2009, ano em que o país sofria os efeitos da turbulência financeira mundial. Na época, foram fechadas 10,2 mil firmas. Em seis anos, esse número aumentou em 68%.
O salto cada vez mais largo no número de empreendimentos morrendo em Minas é visto com cautela e preocupação por entidades do estado. Isso porque, apesar de serem muitos os fatores que levam um empresário a encerrar suas atividades, o percentual de 23% do mesmo período de 2014 e de 2015 chama a atenção no momento em que a economia não caminha bem no país. “O número é alto e pode siginificar, sim, o reflexo da crise brasileira. Tanto aqueles empreendedores sem experiência quanto os que conhecem do mercado acabam, neste momento de retração econômica, não conseguindo sobreviver”, comenta o economista da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio), Guilherme Almeida.
Ele aponta que, além da inflação, que já chega a 9,56% no acumulado dos últimos 12 meses, há outros indicadores que derrubam a sobrevivência de algumas firmas, como é o caso do aumento dos custos. “Este ano, o consumidor perdeu seu poder de compra, assim ele vem consumindo cada vez menos. Com isso, impacta no volume das vendas, e, ainda, o empresário tem o aumento nos custos, como vem ocorrendo com os valores da conta de luz. Ou seja, seus gastos aumentam e a sua receita diminui”, explica Almeida, observando ainda que, quanto mais se distancia dos anos anteriores, maior é o baque na percepção no número de empresas que fecham as portas. “Em 2009, por exemplo, havia o incentivo ao consumo e um momento econômico melhor. Este ano, há justamente o contrário”, observa.
O economista ainda destaca que, nesses casos de fechamento de empreendimentos, um dos setores mais afetados é o comércio, que apesar de empregar mais e de ter o maior número de entrada de empresas, é o ramo que mais sente a retração econômica. “Ele trabalha com o consumidor final, por isso, o impacto para ele é maior”, avalia.
Quando há a comparação com o ano de 2009, o analista da Unidade de Atendimento do Sebrae Minas Aroldo Santos Araújo destaca que o cenário era outro bem diferente do vivenciado em 2014 e, agora, em 2015. Uma das justificativas para o avanço na mortandade de negócios registrados na Jucemg é, segundo ele, a Lei Complementar 147, deste ano, que permitiu o registro de fechamento das empresas com dívidas. Porém, esse percentual de empresários endividados que encerram as atividades oficialmente na Jucemg, ainda não foi mensurado pelas entidades competentes. E, apesar da lei, Aroldo não descarta o efeito da situação econômica brasileira neste cenário de fechamento dos empreendimentos.
“As empresas mais frágeis que não estavam preparadas para essa estagnação da economia encerraram suas atividades. Para aquela que não tinha uma clareza financeira, um foco e uma adaptação ao novo cenário econômico, qualquer queda de 20% na receita a tira do mercado”, diz Araújo, acrescentando ainda que, neste momento, é preciso que os empresários que queriam sobreviver se adaptem às novas realidades. “No passado, por exemplo, as pessoas consumiam por impulso e pela facilidade do crédito. Hoje, essa estrutura de consumo mudou. Existe o fator medo, o que faz com que os consumidores não queiram se endividar. Por isso, o empresário tem que apontar a seus clientes soluções de curto espaço de tempo”.
ABERTURA Quando se observa o número de empresas abertas em Minas nos últimos seis anos, a quantidade também vem diminuindo. Em 2009, por exemplo, foram 65 mil e, até agora, são 29 mil que entraram no mercado. A discrepância, na avaliação da diretora de registro empresarial da Jucemg, Ligia Xenes, se deve à criação, em junho de 2009, do Microempreendedor Individual (MEI). “Houve, na época, uma procura grande de pessoas registrando seus negócios, porém, a Jucemg fazia esse registro até meados de 2012, quando os micro-empreendedores passaram a fazer o registro no portal do empreendedor e, talvez, isso justifique a queda tão grande no número de empresas abertas”, explica. Xenes diz ainda que, a partir daquele ano de 2012, a Jucemg passou a registrar as micros, pequenas, médias e grandes empresas, com faturamento acima de R$ 60 mil.
Porém, quando é levado em consideração o número de empresas abertas desde 2012, a quantidade também vem diminuindo, o que, Xenes não explica. Para os encerramentos de atividade, ela reconhece a crise econômica, mas chama a atenção para a qualificação dos empresários, o que, para ela, é “fundamental para a sobrevivência dos negócios”.