A onda de más notícias não para de rondar a Petrobras, empresa que um dia já foi orgulho nacional. Um dia depois de ter rebaixado para grau especulativo a nota do Brasil, a agência de risco Standard & Poor’s derrubou a classificação de 31 empresas brasileiras (incluindo 11 bancos), começando pela Petrobras. A nota da estatal caiu de BBB- para BB, com perspectiva negativa.
O impacto, de acordo com especialistas, será muito grande no caixa da empresa que já tem cerca de R$ 500 bilhões de reais em dívida (mais de US$ 140 bilhões), onde 70% está em dólar. Além disso, com a perda do selo de bom pagador, a petroleira terá os custos de financiamento aumentados, além da dificuldade de se refinanciar.
Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de macroeconomia e política da Tendências Consultoria alerta que o buraco é maior ainda. “Com o aumento do custo para se financiar, projetos serão cancelados, isso reflete na economia real, que bate no Produto Interno Bruto (PIB), que bate no emprego e bate em salário. Eu não sei se o governo se deu conta disso. Às vezes se tem muita dificuldade de fazer essa ponte com o cidadão real. Isso bate nas pessoas aqui”, ressaltou. Ela acrescenta que é um círculo vicioso que não afeta apenas a Petrobras, mas todas as empresas da cadeia produtiva que terão projetos, mesmo os que estão em andamento, cancelados. “Todas as empresas estão expostas ao risco soberano do país. E é mais uma notícia ruim que se junta à operação Lava Jato e aos processos milionários que a empresa enfrenta na justiça norte-americana também”, acrescentou.
Já Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) considera que o rebaixamento de 31 empresas pela S&P, em sua grande maioria empresas de energia e infraestrutura é péssimo para o país, uma vez que se projeta e precisa que o crescimento econômico aconteça nesses setores. Na opinião dele isso afugenta investidores, pois “ao perder o grau a imagem fica ruim”, disse. “Essa situação que a gente está vivendo de ontem para hoje é fruto de uma política onde o governo cometeu os maiores erros nos últimos anos. Eu torço para que tudo isso sirva de um grande alerta para agora se adotar medidas que recuperem a credibilidade”, disse.
CHOQUE NOS MERCADOS O corte da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco S&P e a perda do selo de bom pagador do país levaram o dólar à máxima de R$ 3,908 e fizeram o principal índice da Bolsa brasileira cair até 2,28% durante a sessão de ontem. A reação negativa dos mercados, segundo analistas, refletiu a surpresa com o momento da decisão da S&P. A avaliação é que a perda do chamado grau de investimento era esperada apenas para o final do ano ou começo de 2016.
A medida levou o Banco Central a agir para tentar conter a volatilidade do câmbio. A autoridade promoveu um leilão de US$ 1,5 bilhão de linhas de crédito – com isso, o BC injetou dinheiro novo no mercado com compromisso de recompra em janeiro e abril do próximo ano.
Após subir quase 3% no início do dia, a moeda americana reagiu à intervenção do BC e amenizou a alta sobre o real. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em alta de 0,96%, para R$ 3,833 na venda. Já o dólar comercial, utilizado em operações de comércio exterior, subiu 1,36%, para R$ 3,850.
Além da atuação do Banco Central, a sinalização da agência de risco Fitch Ratings de que o país ainda tem elementos apoiando seu grau de investimento colaborou para reduzir a pressão no câmbio.