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Estado de Minas

Caderneta de poupança terá em 2015 a primeira perda real desde 2002


postado em 14/09/2015 10:49

São Paulo, 14 - Quem deixar o dinheiro parado na caderneta de poupança contabilizará um rendimento tão baixo ao fim do ano que não será capaz de ganhar nem mesmo da inflação acelerada de 2015. Enquanto os preços, na média, devem subir 9,29% em 2015, segundo estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na última Pesquisa Focus do Banco Central, a poupança terá um retorno de 8,06%, o que implicará uma perda real de 1,14% em 2015, segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Esta será a primeira perda real da tradicional caderneta da poupança desde 2002, quando a diferença ficou em -3,27%. Na prática, isso significa um recuo do poder de compra do brasileiro. "O que você compra hoje por um valor, daqui um ano custará mais caro. Diminuir o poder de compra significa que, se você tiver no futuro a mesma quantia de hoje, já não vai conseguir comprar esse produto", explica Olivia Paganini, da Guide Investimentos.

Para a gerente de investimentos da Guide, o fato de a caderneta ainda ser a aplicação mais popular do brasileiro reflete um pouco a situação de comodidade. Apesar de os bancos não terem em geral um grande incentivo ao investimento em poupança, a caderneta é uma das aplicações mais antigas no Brasil e tem a facilidade de ser atrelada, muitas vezes em débito automático, à conta corrente.

Pesa também na escolha dos investidores mais conservadores a ideia de segurança passada pela poupança. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) cobre quantias de até R$ 250 mil caso o banco decrete falência. "Há uma falsa impressão de que ela é um investimento sem risco. Há, por exemplo, o 'risco de liquidez', pois, apesar de o investidor poder sacar o dinheiro diariamente, o rendimento não é diário", lembra o diretor da corretora Easynvest, Amerson Magalhães.

Somente no aniversário do depósito, a cada mês, a caderneta contabiliza o retorno. Se o saque for feito com 28 dias e não 30, por exemplo, o dinheiro não renderá nada.

De acordo com o gestor de fundos de diversificação e de mercados emergentes da Rio Bravo Investimentos, Eduardo Levy, a poupança deixou de ser interessante há alguns anos. "Historicamente, de cinco anos pra cá, a poupança não é a melhor alternativa para o investidor brasileiro, mesmo para o pequeno e médio", avalia.

A aceleração da inflação desde o ano passado acendeu o sinal vermelho de alerta no Banco Central que, para contar a alta de preços, elevou o juro básico da economia (Selic). A alta da taxa tem um pequeno impacto no rendimento da poupança, já que esta leva em conta no cálculo o rendimento dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs).

A rentabilidade de fato melhorou em um ano: entre janeiro e agosto, a caderneta rendeu 5,09% neste ano contra 4,6% no mesmo período de 2014. A influência, porém, é tão marginal que não chega a ser suficiente para acompanhar o juro e bater a inflação.

De oito meses já fechados neste ano, a poupança perdeu para a inflação em seis deles. No acumulado do ano até agosto, a perda real é de 1,69%. Não à toa, na diferença entre saques e depósitos, a caderneta já perde R$ 48,5 bilhões em 2015, o maior valor em 20 anos.

Segundo especialistas, parte dos saques se deve ao aumento do custo de vida, o que faz o brasileiro resgatar investimentos para fechar o orçamento no fim do mês, mas o movimento também é impactado pela percepção do baixo retorno. "A situação econômica influencia, mas um dos motivos para a retirada de dinheiro também é a rentabilidade abaixo da inflação", avalia Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de Estudos Econômicos da Anefac.

Segundo Olivia, da Guide Investimentos, ainda que o rendimento seja baixo, a caderneta pode servir para o dinheiro de emergência, para fechar o mês, ou mesmo para investidores com uma quantia muito pequena, abaixo de R$ 1 mil. Para alguns especialistas, no entanto, mesmo no curto prazo há alternativas mais interessantes. As informações são do jornal

O Estado de S. Paulo.


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