O ex-ministro da Fazenda Luís Carlos Bresser-Pereira, que por muito tempo defendeu publicamente a política econômica petista, atribuiu nesta terça-feira, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a responsabilidade pela crise econômica pela qual o país passa agora.
"Agora nós temos uma crise aguda que vem a se sobrepor a quase estagnação de longo prazo. As causas desta crise são a estagnação das commodities no segundo semestre de 2014, o escândalo da Petrobras no finalzinho do ano passado e o vazamento para o mercado interno das importações devido à brutal apreciação da taxa do câmbio no governo Lula", disse Bresser-Pereira, durante palestra que fez no segundo dia do 12º Fórum de Economia da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV).
De acordo com ele, o governo Lula recebeu uma taxa de câmbio que, a preços de hoje, colocada a inflação brasileira e tirada a americana, de R$ 6,50 por dólar, nominalmente era R$ 3,55, e entregou para Dilma Rousseff a R$ 2,00. "Isso criou um desestímulo violento à indústria brasileira e nós vimos o que aconteceu com a apreciação cambial", criticou Bresser-Pereira.
Em cima disso, disse o ex-ministro, houve uma perda da confiança dos empresários. "À custa disso também houve o esgotamento do grau de endividamento das famílias de forma que estamos aqui numa crise aguda. Nosso PIB vai cair 2,7% neste ano e recuará 1,5% no ano que vem", observou Bresser-Pereira. No entanto, o ex-ministro se queixou do fato de que mesmo com o problema cambial, o foco agora estar só sobre o fiscal.
"Do câmbio se fala muito pouco, só se fala para dizer que agora ele foi consertado. Fora isso não se fala em câmbio porque muitos pensam que o problema cambial é de desalinhamentos. Isso quer dizer que a taxa de câmbio tem um equilíbrio entre o euro e o dólar, digamos de U$ 2,25", explicou o economista. Então, segundo ele, se calcula o desalinhamento em torno destes US$ 2,25 para baixo ou para cima.
Isso acontece, segundo o ex-ministro, por vários motivos. Mas este equilíbrio pode mudar se a produtividade na Europa ou nos Estados Unidos for alterada. Ainda de acordo com ele, quando se pensa nisso como empresário que está fazendo investimentos, não há preocupação com a taxa de câmbio, já que se está considerando estes US$ 2,25. "Neste caso se faz os investimentos olhando outras variáveis que são importantes", disse Bresser-Pereira.
O problema, de acordo com ele, é que os países ricos se endividam em moeda nacional e os pobres em moedas estrangeiras, arriscando a sua soberania. "Contra o Japão, por exemplo, ninguém tem coragem de fazer um ataque especulativo, porque os japoneses estão endividados em iene. Quando você está endividado em moeda estrangeira, você está em maus lençóis", comentou o economista.