Brasília – Os operadores do mercado financeiro do Brasil respiraram aliviados ontem com a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de manter a taxa básica de juros do país entre zero e 0,25%, o mesmo patamar em que se encontra desde 2008, no auge da crise global. Apenas um dos nove integrantes do Comitê de Política Monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês) foi contrário à decisão. Houve, porém, motivos para preocupação do mercado nos comentários oficiais que se seguiram à iniciativa.
Em seu comunicado divulgado no fim do encontro, os integrantes do Fomc embasaram a decisão com o argumento de que a inflação norte-americana está abaixo da meta de 2% ao ano. Chamaram atenção também para o risco de que “os recentes eventos financeiros e econômicos globais possam limitar de alguma forma a atividade econômica”.
A referência à conjuntura a global é algo raro nos comunicados do Fed, e suscita a preocupação de que a economia mundial esteja em situação pior do que registram os radares dos analistas. A avaliação foi reforçada pela presidente do Fed, Janet Yellen. Em entrevista após a reunião, ela disse que a situação internacional pode pressionar a inflação ainda mais para baixo.
O dólar chegou a R$ 3,90, mas caiu em relação depois da decisão da autoridade monetária dos Estados Unidos. Acabou o dia, porém, cotado a R$ 3,88, o maior patamar desde outubro de 2002, com valorização de 1,25% em relação à véspera.
Para analistas, a decisão do Fed foi boa para o dia, mas ruim para o ano. A manutenção da taxa básica de juros é um alívio pois, se fosse decidida a alta, haveria fuga de capitais do Brasil e de outros mercados emergentes, com investidores seduzidos pela segurança dos Estados Unidos caso o país se tornasse um pouco mais rentável.
“Para nós, é algo muito positivo, pois evita a saída de recursos e aumento da volatilidade aqui”, afirmou a consultora da Órama Sandra Blanco. Ela reconhece, porém, que muitos analistas veem com receio o fato de a taxa básica norte-americana já estar baixa há tanto tempo. “É um sinal de que esse instrumento não tem sido suficiente para estimular a economia”, afirmou.
INCERTEZAS Renato Nobile, presidente da Bullmark, chama atenção para a alta preocupação com a economia global demonstrada pela autoridade monetária dos EUA. “O problema é que as palavras-chave do comunicado indicam a manutenção da incerteza e do pessimismo nos mercados globais”, afirmou. Para ele, o dólar continua com a tendência de alta e vai chegar a R$ 4 em um período entre um mês e 45 dias. E vai manter muita volatilidade até lá e depois disso. O gerente de câmbio da Ítalo Abucater também aposta que a barreira dos R$ 4 será alcançada nas próximas seis semanas. “E vai daí para mais”.
A bolsa de valores brasileira operou ontem com forte volatilidade. Encerrou o dia zerada em relação à quarta-feira. Mas chegou a cair 0,97% na mínimia e bater em 1,74% de valorização na máxima. Para Nobile, essa alta não foi um movimento saudável. “É algo puramente especulativo. Há de fato muita coisa barata na bolsa atualmente. Mas com o quadro de incertezas do país, não achamos que seja o momento de os investidores entrarem ainda”, argumentou. Sandra Blanco vai na mesma linha. “Recomendamos proteção e cautela. O mercado vai continuar muito volátil. Apenas no final de 2016 é que se pode contar com alguma melhora”, previu.