Viver no campo deixou de ser um sofrimento para milhões de brasileiros. O trabalho exaustivo nas lavouras, o baixo nível de remuneração e o atraso tecnológico são coisas do passado no agronegócio. Deram lugar a um setor dinâmico, com altos índices de produtividade e mão de obra especializada. Se, nas metrópoles, os trabalhadores sofrem com altos níveis de desemprego, no campo a pujança da lavoura garante poder de compra. A estabilidade econômica dos últimos anos deu aos agricultores acesso a linhas crédito para compra de máquinas modernas e de insumos, usados para a correção de solo e para a proteção das culturas. Com isso, passaram a produzir mais no mesmo espaço.
Esse processo levou ao enriquecimento de produtores rurais. Mas também à distribuição de renda nos municípios do campo, com a formação de uma classe média rural. O acesso à tecnologia exigiu a contratação de mão de obra capacitada, com melhores salários. Dados da Geofusion mostram que, nas cidades agrícolas, o número de domicílios do estrato sóocioeconômico intermediário cresceu 39% entre 2010 e 2014. No Brasil, a expansão foi de 27% e, nas metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes, a alta foi de 22%. A empresa classificou como residências desse segmento aquelas nas quais o orçamento familiar varia de R$ 1,9 mil a R$ 11 mil.
A diretora de Inteligência de Mercado da Geofusion, Susana Figoli, explica que se enquadram no padrão de cidades agrícolas aquelas em que 40% do Produto Interno Bruto (PIB) têm origem no agronegócio. Pelas contas dela, dos 5.570 municípios brasileiros, 767 têm esse perfil. Suzana destaca a alta relação entre a pujança do setor rural e a elevação da renda de quem mora nessas cidades. Em média, uma família que reside no campo tem um orçamento de R$ 4.032,23, valor 16% maior que o apurado em 2010 (descontada a inflação do período). No Brasil, o crescimento no mesmo período foi de 14% e, nas metrópoles, de 11%.
Dos 767 municípios rurais, 39% estão na região Sul, 22% no Sudeste, 19% no Centro-Oeste, 11% no Nordeste e 9% no Norte. E, das 50 cidades rurais com maior proporção de domicílios de classe média, 40 estão no Rio Grande do Sul. Em Goiás, há duas: Porteirão e Chapadão do Céu. São localidades que receberam grandes fluxos migratórios de gaúchos, por sua vez descendentes de europeus.
A classe média rural é jovem, tem alcançado níveis maiores de escolaridade e aproveita a pujança do agronegócio em relação à crise para manter os ganhos de renda, detalha Maurício de Almeida Prado, sócio-diretor da empresa de pesquisa Plano CDE.