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Estado de Minas

Investidor teme calote e o risco Brasil dispara

Turbulência política e dúvidas sobre ajustes fiscais levam prêmio de título de seguro contra default a 483 pontos, nível mais alto do que o de países que perderam grau de investimento


postado em 25/09/2015 06:00 / atualizado em 25/09/2015 10:49

A percepção negativa do mercado financeiro em relação aos rumos das contas públicas e do cenário político no Brasil acendeu a luz amarela entre os investidores internacionais. Esse temor acelerou o risco Brasil percebido pelos investidores ao se observar os patamares do credit default swap (CDS), espécie de seguro contra o risco de calote. O contrato de proteção contra eventual não pagamento da dívida pública para cinco anos ultrapassou ontem pela manhã a marca de 500 pontos básicos, nível bastante superior ao de outros países emergentes com rating especulativo. No fim do dia fechou a 483 pontos, acima do risco de países sem grau de investimento.

A deterioração da percepção de risco do Brasil em 2015 é acelerada. No dia 2 de janeiro, o CDS para cinco anos marcava 206 pontos. Em março, quando houve o primeiro protesto contra o atual governo, o CDS fechou bem abaixo desse valor, aos 307,75 pontos em 16 de março. Na segunda-feira, fechou aos 428 pontos; subindo para 465 no dia seguinte; 475 na quarta-feira e finalmente atingir os 483 pontos no fechamento de ontem. Os números demonstram a maior procura por seguros no atual período de turbulência.

A evolução acelerada, segunda especialistas, reflete a antecipação do mercado em relação a um possível novo corte do rating brasileiro, o que levaria à perda do grau de investimento – no caso da Fitch é preciso descer ainda dois degraus, de BBB para BB-. Com o rebaixamento da Standard & Poor's, o CDS subiu para 391 pontos no dia 10.

Com o avanço, superou o CDS de outros países emergentes. Exemplo: Turquia (315) e Rússia (381) são classificados no grau especulativo. Na comparação com seus pares no Brics também é percebida certa distorção. Índia (174), África do Sul (268) e China (119) apresentam patamares bastante inferiores. Na média, o CDS das economias que integram a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México), por exemplo, é de 173 pontos. Em 2011, o indicador de risco brasileiro chegou a marcar 141,2 pontos, abaixo do nível dos Estados Unidos pela primeira na história. No nível mais alto, nos últimos meses do governo Fernando Henrique Cardoso, o CDS elevou-se em nível recorde perto dos 4 mil pontos.

Segundo o economista da XP Investimentos, Gustavo Cruz, o fato de o Brasil estar com pontuação superior a destes países sem grau de investimento reflete a antecipação do mercado a uma possível perda de grau de investimento pelo Brasil em mais uma agência de classificação de risco. “O mercado vê que não terá como manter o rating (nota de crédito)”, diz. “Não há perspectiva de melhora no curto prazo. O orçamento para o ano que vem é deficitário e há dificuldade para aprovação de um ajuste fiscal”, pontua.

O coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec, Reginaldo Nogueira, afirma que o atual patamar do CDS reflete a rápida evolução da dívida bruta brasileira nos últimos anos ante a dificuldade de interrupção da trajetória dada o atual ambiente político. Em 2010, a dívida representava 53,4% do PIB; subiu para 58,6% em 2012 e está em 63%.

Exagero
Em comparação com outros países, segundo Nogueira, é possível perceber a diferença. Paquistão, por exemplo, com nível do CDS próximo ao do Brasil, em 494 pontos, também tem dívida bruta de 63%. “Quanto maior a dívida bruta maior a dificuldade para se arrolar esse débito”, afirma o professor. E logo acrescenta: “Além de olhar o tamanho, é preciso observar a dinâmica. No caso brasileiro, não tem expectativa de interromper o crescimento. A dívida está acima de 60% e ruma aos 70%”.

Apesar disso, é ínfima a probabilidade de calote do Brasil. Segundo modelo da Bloomberg, que considera fatores como dívida externa, reservas internacionais e estimativa de crescimento, a probabilidade de o país declarar default nos próximos 12 meses é de 0,07%.

“É claro que a percepção de risco dos investidores está exagerada, uma vez que é considerado muito pouco provável que o governo brasileiro dê um calote”, afirma o economista da Tendências Consultoria Integrada, Sílvio Campos Neto. (Com agências)

Saiba mais
O QUE É CDS
O CDS é um contrato bilateral que permite ao investidor comprar proteção para crédito específico contra evento de crédito (default) do emissor de determinado ativo. Um evento de crédito inclui ocorrências tais como inadimplência, falha em pagamentos, reestruturação de dívida ou falência do emissor do ativo. Para adquirir essa proteção, o comprador faz pagamentos periódicos ao vendedor, normalmente trimestrais ou semestrais, especificados como percentual do principal. Essa porcentagem é conhecida como spread, prêmio ou taxa fixa, e representa, para o investidor em ativo de risco, o custo para a proteção contra um default (calote) relacionado com o emissor do ativo. (Banco Central)


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