Brasília – No auge da turbulência no mercado financeiro, o Banco Central admitiu ontem que a recessão econômica de 2015 será bem maior do que esperava antes. A projeção para a queda na atividade econômica passou de 1,1% para 2,7% neste ano. O BC culpou o envio ao Congresso de um orçamento para o ano que vem com despesas maiores que receitas pelo aprofundamento da crise. Na visão da autoridade monetária, o orçamento no vermelho desorganizou a economia e atrapalhou o trabalho de controlar a inflação. Assim, a perspectiva é de mais aumento de preços. A estimativa para a inflação oficial também será maior: a estimativa subiu de 9% para 9,5%, segundo o relatório trimestral de inflação, a publicação mais importante da autoridade monetária.
“Os impactos das medidas de ajuste fiscal adotadas desde o início do ano foram bastante relevantes e, inicialmente, contribuíram para fortalecer a consistência da política econômica. A degradação excessiva das expectativas de cumprimento das metas fiscais em 2015, associada, em grande parte, ao recuo na arrecadação decorrente da retração – mais acentuada do que projetada inicialmente – na atividade econômica, exerceu desdobramentos negativos sobre os prêmios de riscos de ativos domésticos”, disse a autoridade monetária no relatório divulgado ontem. “Nesse contexto, medidas que concorram tempestivamente para o reequilíbrio das contas públicas mostram-se fundamentais para a estabilidade macroeconômica e para a retomada da confiança e do nível de atividade”, acrescentou.
Com a mudança, o BC se alinha às estimativas do mercado financeiro, que também espera contração de 2,7% neste ano e inflação de 9,34%, segundo a última pesquisa feita pela própria autoridade monetária. Já o governo trabalha com retração do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano de 2,44%, ante o recuo de 1,49% previsto no terceiro bimestre, segundo relatório de avaliação de receitas e despesas primárias divulgado esta semana pelo Ministério do Planejamento. O documento mostrou também um aumento de 9% para 9,29% na previsão de inflação.
Urgência O Banco Central diz que o ajuste fiscal é urgente: “Considerando que o ajuste fiscal também possui suas próprias defasagens entre a discussão e a adoção das medidas e seus resultados, quanto mais tempestiva for a implementação do processo em curso, mais rápida será a retomada de uma trajetória favorável para a dívida pública e para a confiança de famílias e empresas. Especificamente sobre o combate à inflação, o Comitê destaca que a literatura e as melhores práticas internacionais recomendam um desenho de política fiscal consistente e sustentável”, diz o BC.
No relatório, o BC alertou que se o governo não resolver a questão fiscal, o dólar continuará a subir. E a volatilidade e aversão a risco podem contaminar os preços internos de uma forma mais rápida por causa da percepção de que a economia brasileira não vai bem.