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Estado de Minas

Mínimo em dólar é o menor desde 2009

Piso salarial do país perde 38,6% do valor na divisa dos EUA desde janeiro de 2011. Depreciação ameaça ganhos


postado em 27/09/2015 07:00 / atualizado em 27/09/2015 08:27

Incertezas políticas e econômicas pressionam cotação da moeda, que passou de R$ 4 na semana passada (foto: Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas)
Incertezas políticas e econômicas pressionam cotação da moeda, que passou de R$ 4 na semana passada (foto: Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas)

Brasília –
O salário mínimo vem se desvalorizando em ritmo acelerado como o do real, que é a moeda dos países emergentes que mais perde força diante das incertezas do governo nas áreas política e econômica e que custaram a perda do grau de investimento do país pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. A política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff deixou a inflação sair do controle e as perdas continuarão sendo maiores ainda neste ano e no próximo.

Desde janeiro, quando valia US$ 295,98, o salário mínimo registrou uma desvalorização de 33%, para US$ 198,19 na sexta-feira, quando o dólar fechou a R$ 3,976. Essa importância é a menor desde 2009, quando o piso custava US$ 179,17, no meio do turbilhão da crise financeira global. Nos cinco anos de governo Dilma, a depreciação do mínimo na divisa norte-americana chegou a 38,6% sem contar com a inflação do período, conforme cálculo do consultor Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a pedido do Estado de Minas.

“Não se pode negar que a queda do piso salarial acelerou desde 2011. Com isso, o brasileiro está cada vez mais pobre e, ironicamente, o responsável por isso é o mesmo governo que diz que faz tudo pelo social”, avalia. “O país atravessa um momento econômico difícil e o quadro pode piorar mais ainda se não houver fortes mudanças no rumo da política econômica. O governo continua insistindo no que está errado e o pacote de ajuste fiscal foi muito tímido para recuperar a confiança”, destaca Troster. A seu ver, já passou da hora de o governo ter uma agenda ambiciosa, do tamanho do potencial do Brasil, com reformas e não “remendos”, como a proposta de mudança no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e na PIS-Cofins, que o governo vem defendendo.

Especialistas acreditam que o quadro do mínimo tende a piorar com a inflação chegando próxima aos dois dígitos. “O salário mínimo teve uma valorização importante nesses últimos anos e ajudou a incluir muitas pessoas na nova classe média. As pessoas passaram a consumir bens, como celulares, carros, motos, geladeiras, televisores. Agora, todo esse ganho corre o risco de ser perdido”, alerta o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Ele destaca que mesmo com o mínimo atual, uma família não consegue suprir as necessidades básicas, como era o esperado quando o piso foi criado há 75 anos pelo então presidente Getúlio Vargas. “É possível viver dignamente com US$ 198?”, questiona.

Estratégia falha Na avaliação de Perfeito, o que ocorre com o salário mínimo é resultado da atual estratégia do ajuste fiscal, que não ataca alguns dos maiores custos, que são os juros e os contratos de swap cambial. “O ajuste fiscal está sendo feito pelo rendimento real das pessoas, para segurar a inflação de serviços. O principal problema é que, quando se tem aumento da renda, a produtividade cai e o empresário acaba reduzindo o investimento”, critica. “A rentabilidade do capital é historicamente alta. Quem vai investir, se os títulos pagam 8% de juros real mais IPCA?”, explica.

O professor de economia da Universidade de Brasília Jorge Arbache chama a atenção para um fator importante quando comparamos a remuneração mínima do Brasil com a de outros países em dólar. “O importante é ver como anda a paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês). É preciso ver o que é possível comprar com o mínimo”, destaca. No entanto, ele reconhece que a inflação é a grande vilã para a perda do poder de compra do brasileiro. Quando foi criado, em 1940, o piso brasileiro não dava para comprar uma cesta básica, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese). Atualmente, com o mínimo, é possível levar para casa pouco mais de duas cestas.

Comparação

O salário mínimo dolarizado do brasileiro é menor do que de vizinhos sul-americanos. O país está atrás de economias em crise, como Argentina, Venezuela e Grécia. No país europeu, que se endividou para sediar as Olimpíadas de 2004 e não consegue sair do atoleiro da crise financeira, o piso salarial é US$ 10,9 mil, conforme dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2014. “No caso da Grécia, há um problema com esse mínimo, porque, quando entraram na União Europeia, eles tentaram se comparar com as maiores economia da região, como a Alemanha, só que não possuem a mesma produtividade”, explica o gerente-executivo da unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Ao seu ver, é importante que a remuneração seja compatível com a produtividade.


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