De olho no potencial de expansão das vendas da indústria de defesa e segurança, fabricantes em terras brasileiras investem para disputar nichos no mercado internacional. A Iveco se prepara para enviar ao Líbano 10 veículos blindados Guarani, fabricados sob encomenda do Exército brasileiro em Sete Lagoas, Região Central de Minas Gerais. Será o primeiro contrato de exportação da unidade pertencente à multinacional do grupo Fiat. Outros contratos estão sendo negociados com países sul-americanos.
A Embraer fornece o Super Tucano para países americanos, africanos e asiáticos. A empresa confirma ter 230 encomendas do avião, dos quais 190 já foram entregues. Além do Brasil, Colômbia, Guatemala, Senegal, Angola, Burkina Fasso e Estados Unidos estão entre os países que receberam unidades – a companhia não confirma os nomes dos seus parceiros comerciais. Fabricante de armas (pistolas, fuzis, explosivos, munições e outros equipamentos), a Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), empresa pública vinculada ao Ministério de Defesa, que mantém uma unidade em Itajubá, no Sul de Minas, informa estar se preparando para que, em breve, possa entrar firme nesse mercado.
Segundo o porta-voz da Imbel, coronel Marcelo Muniz Costa, 2% do faturamento obtido no ano passado refere-se a compras de oportunidade por países africanos de componentes do Fusil Automático Leve (FAL). “Estamos finalizando a elaboração de um projeto estratégico para o período de 2017 a 2026. Com a sua implementação, pretendemos ampliar as exportações da empresa, atingindo uma proporção de 30% de embarques ao exterior”, afirma Costa.
A empresa terá pela frente a concorrência em alguns segmentos da Taurus, fabricante de revólveres, pistolas, rifles, carabinas e submetralhadoras. Com planta no Rio Grande do Sul, a empresa mantém exportações para os Estados Unidos. No primeiro semestre deste ano, as exportações somaram R$ 239,2 milhões, representando acréscimo de 33% em relação a igual período de 2014. Mais de 90% do total segue para os EUA.
O coordenador do curso de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina, Lucas Rezende, afirma que, com a redemocratização do Brasil, a indústria bélica praticamente deixou de existir naquele momento. “Optou-se por, até mesmo as Forças Armadas, não compraram os produtos do mercado”, recorda. Nos últimos anos, com a retomada do crescimento da economia, fez-se necessária a retomada dos investimentos para proteger o território e a produção de riquezas do país, como o petróleo pré-sal.
Segundo o especialista, vizinhos sul-americanos, como Chile e Colômbia, têm feito investimentos consistentes em defesa, o que, de alguma forma, força o país a fortalecer-se também. “É preciso tratar o tema como questão de gente grande. Se o Brasil deseja se articular como grande potência, precisa ser forte”, diz o professor. E acrescenta: “É uma discussão ética global. O ideal seria fazer um manual de ética do mundo todo”.