Na contramão da crise do comércio, eles elevaram o faturamento, ganharam mais clientes, conquistaram melhorias para o bairro onde atuam e passaram a enxergar o concorrente como parceiro fundamental para os negócios. Enquanto há lojas fechando as portas devido à retração da economia, comerciantes dos polos das avenidas Silva Lobo e Barão Homem de Melo, na Zona Oeste de Belo Horizonte, uniram forças e driblam as dificuldades. As estratégias envolvem desde programas de redução de custos e desperdícios, aprendizado gerencial e sobre as tendências do varejo, desenvolvimento de parcerias para atrair clientes e realização de investimentos com objetivos comuns ao grupo de lojistas.
A iniciativa começou em 2013 e compreendeu dois anos de realização de cursos gerenciais, troca de experiências, discussão de dúvidas e implementação de medidas que uniram os comerciantes. Em julho, nasceu a Associação dos Empresários da Barão e Silva Lobo (ABSL), que conta com 64 associados. Há 14 anos no comércio da Silva Lobo, Rafaela Simões Alcântara, dona da Fina Lembrança, observa que houve uma revolução na região, onde até então os comerciantes tentavam fazer promoções em conjunto, mas sem muito sucesso. “Abrimos um leque de oportunidades. Começamos a nos conhecer e muitos abraçaram a ideia”, diz.
Na loja de Rafaela. com os cursos, o leiaute foi mudado e o faturamento cresceu 40%. “Firmei parcerias com comerciantes vizinhos, como um dono de restaurante. Quem almoça lá ganha um desconto aqui”, conta. As melhorias também são destacadas pelo comerciante Delvair Barros Costa, na empresa Tecnochaves. Há três anos na Avenida Barão Homem de Melo, ele se diz feliz em participar da associação. “Além do conhecimento, ganhamos união”, comemora, citando, ainda, a campanha filantrópica que a associação está fazendo para o Dia das Crianças, com arrecadação de brinquedos para entidades na região. “Estou feliz com esses resultados”, afirma.
O trabalho foi intenso, segundo a presidente da associação local dos comerciantes, Letícia Barbosa Novais. “Fizemos cursos de gestão para entender e enxergar melhor nosso negócio. Passamos, também, a olhar para fora”, comenta. Tanto é que, com o olhar para o bairro, os empresários conseguiram junto à Prefeitura de BH melhorar o acondicionamento do lixo, com maior quantidade de lixeiras instaladas ao longo da avenida, e a limpeza do local. O pleito, agora, é a mudança de horário para coleta do lixo.
Dona de uma loja de artigos esportivos, Letícia Novais observa que, diferentemente do que está ocorrendo por causa da crise econômica em outras regiões da cidade, na Silva Lobo e na Barão Homem de Melo, os comerciantes têm mantido a saúde financeira das empresas e não há placas de oferta de imóveis para aluguel espalhadas pelas vias. “Estamos muito unidos e, com as parcerias, fazemos pequenos investimentos para atrair clientes de várias regiões. Passamos a enxergar o vizinho não mais como concorrente, mas como parceiro.”
O trabalho foi induzido e orientado pelo projeto Circuito Silva Lobo, proposto pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), instituição com sede na Silva Lobo. Recentemente, o Sebrae Minas entregou aos comerciantes um projeto de requalificação urbanística no entrocamento das avenidas Silva Lobo e Barão Homem de Melo.
DIFERENCIAL A analista do Sebrae Fátima Trópia conta que, com o objetivo de alavancar o comércio de rua, atraindo o consumidor para as lojas próximas de casa, a instituição criou um projeto nacional que mostra a esses empresários a importância de investir em atrativos para os clientes vizinhos. “A ideia do projeto Circuito Silva Lobo vem desse contexto. Trata-se de uma avenida muito diversificada de produtos destinados aos públicos das classes A , B e C, além de vários bairros ao redor”, afirma.
Segundo a analista do Sebrae, como a instituição tem sede na avenida, surgiu a ideia de que ela trabalhasse com os vizinhos num processo que seria diferencial e poderia se tornar referência. Estudo indicou, entre outras oportunidades de melhoria, o alargamento do canteiro central usado para as práticas de caminhada e corrida. Os empresários já estão buscando recursos para as obras, por meio do Orçamento Participativo da Prefeitura de BH, de acordo com Fátima Trópia.