Brasília – Os trabalhadores que aplicaram 50% dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em ações da Petrobras estão vendo, impotentes, as economias derreterem. E não são poucos: atualmente, cerca de 60 mil pequenos investidores sentem no bolso o prejuízo que a sucessão de escândalos na estatal provocou no patrimônio. Estudo feito pelo economista Marcelo Cypriano, da consultoria MB Associados, mostra que o Fundo Mútuo de Privatização (FMP) da Petrobras foi a pior aplicação nos últimos 13 anos. O rendimento, que atingiu 1.760% em maio de 2008, logo após a descoberta do pré-sal, derreteu para 37% este ano.
Perdeu de todos os investimentos, inclusive para a poupança, que ocupa a lanterna das aplicações este ano, e que entre 2002 e 2015 tem rentabilidade acumulada de 179%. As ações da petrolífera valorizaram menos que o próprio FGTS (106%), que é corrigido em 3% ao ano mais a TR, que está em 0,09%. A inflação no período ficou em 133%, mais de quatro vezes o que rendeu o fundo de ações da companhia.
O FMP da Petrobras foi criado em 2000 para converter os recursos do FGTS em papéis da empresa. Na época, foram adquiridos com desconto de 20% — a R$ 34,46 — pelos primeiros 310 mil trabalhadores que optaram por investir na companhia, há 15 anos. Na última sexta-feira, essa mesma ação estava cotada a R$ 8,14.
Outros fatores, além da corrupção, têm pressionado os papéis da petrolífera: a desaceleração da economia, que reflete de maneira negativa na bolsa de valores o efeito câmbio, que pesa em 80% da dívida de mais de meio trilhão de reais da empresa; as cotações do petróleo, que desabaram de US$ 100 o barril para US$ 47 desde meados do ano passado. Mas a ingerência política e, principalmente, os escândalos das investigações da Operação Lava-Jato, que não têm data para acabar, são apontados por economistas como responsáveis pela derrocada da companhia.
Cypriano, da MB Associados, explica que investir na Petrobras foi a melhor das aplicações até meados de 2010, quando houve a forte capitalização da empresa para poder bancar investimentos nas descobertas do pré-sal. “De lá para cá, ou mais especificamente, nos quatro anos e nove meses do governo Dilma, acumulou-se uma perda de 80% no valor da empresa. O fundo do poço foi agora, em 2014, com a alta do dólar e a queda das cotações do petróleo dos últimos anos. Mas, sem dúvida nenhuma, a questão da péssima governança e da corrupção foram as principais causas para a queda das ações”, reforça.
Esperar O economista diz que é difícil fazer qualquer tipo de recomendação aos investidores que aplicaram o dinheiro do FGTS na Petrobras. “Depende do horizonte que a pessoa vai precisar desse dinheiro. A alta necessária para recuperar o investimento ficou muito grande. O problema da dívida vai demorar muitos anos para resolver. Se puder esperar vários anos, melhor”, aconselha.
Fabio Gallo, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), afirma que a discussão agora é se transforma em perda financeira ou econômica. “Num caso como esse, só se adota a liquidez se realmente precisar muito do dinheiro. Se não, senta em cima e espera para ver o que vai dar. Sair nesse momento é realizar prejuízo. Permanecer com as ações é permanecer com prejuízo econômico na expectativa de não realizar prejuízo financeiro”, recomenda.
Já Mauro Calil, especialista em investimento do banco Ourinvest, chama a atenção para a questão da privatização. “Lá atrás, tanto a Petrobras quanto a Vale tinham situações parecidas, mas agora apresentam resultados diferentes. A Vale, apesar da queda dos preços do minério de ferro, teve uma valorização de 325%. Essa valorização é vantajosa em relação às outras aplicações. Só perde para o CDI (454%)”, constata.