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Estado de Minas

Consumo não deve puxar a retomada

Setor externo não beneficia tanto os trabalhadores menos qualificados das classes de menor renda


postado em 01/11/2015 10:56 / atualizado em 01/11/2015 10:59

O grande impulso na mobilidade social da classe D/E para a classe C que houve entre 2006 e 2012, baseado no consumo, não deve se repetir quando a economia brasileira voltar a crescer. Isso porque o motor da retomada provavelmente deve ser o setor externo, que não beneficia tanto os trabalhadores menos qualificados das classes de menor renda.

“Mesmo quando a economia voltar a crescer - e não sabemos quando será -, não há nenhuma possibilidade de ter o consumo como motor da atividade”, prevê o sócio da Tendências Consultoria Integrada, Adriano Pitoli. Ele explica que no auge da mobilidade social o consumo cresceu 7,8% em média, praticamente o dobro do avanço do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período. A classe C foi a mais beneficiada, com a massa total de renda dessas famílias aumentando 78% acima da inflação, ante 50% de avanço registrado pela média da população no mesmo período.


Nessa fase, a atividade econômica foi fortemente puxada pelo consumo, varejo e o setor de serviços, que empregam muita mão de obra de menor qualificação, formada principalmente pelas classes C e D/E. É a manicure, que trabalha no setor de serviços, e viu seu rendimento aumentar. Ela foi às compras e adquiriu eletrodomésticos e outros bens duráveis, beneficiada também pelo crédito farto e barato, por exemplo.

Virada

“Mas, agora o jogo virou”, diz o economista. Em 2014, o PIB cresceu só 0,1%, a renda subiu 1,8% e as vendas no varejo ampliado caíram 1,7%. “Este ano será um terror”, prevê. O PIB pode cair 2,8% ou até mais, a renda deve recuar 4% e as vendas no varejo ampliado podem cair 8,6%, calcula.

Entre 2016 e 2020, o sinal pode voltar a ser positivo, mas tanto o PIB como a renda e o consumo vão crescer no mesmo ritmo, cerca de 1,3% ao ano, prevê. “Quando voltarmos a crescer, vamos avançar pouco e o consumo vai crescer tão pouco quanto o PIB, na melhor hipótese.”

Na análise do economista, a ascensão social ocorreu em bases muito frágeis, impulsionada pelo boom do consumo. Nesse período, o Brasil fez poucas reformas, investiu pouco em educação e produtividade. Por isso, não há bases sólidas para que o processo de mobilidade social persista no tempo. “Quando a crise passar, o ritmo de mobilidade será muito mais modesto.”

Além disso, a retomada provavelmente deve ser puxada pelo setor exportador, que dissemina o crescimento da renda e do emprego em setores da economia como a indústria, que emprega trabalhadores de maior qualificação e renda.


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