A drástica queda esperada da produção da indústria mineira neste ano e o fraco desempenho do café, carro-chefe da agropecuária no estado, indicam que Minas Gerais terá desempenho pior que a média da economia brasileira em 2015. Pesquisadores da Fundação João Pinheiro (FJP) passaram a trabalhar com a perspectiva de retração no estado superior ao recuo de 3% estimado para o Produto Interno Bruto (PIB, a soma da produção de bens e serviços) do Brasil por boa parte dos analistas de bancos e corretoras, além do próprio governo. A economia mineira encolheu 1,5% no segundo trimestre, última apuração disponível, afetada por signficativas perdas nas fábricas, ao passo que o PIB nacional retraiu-se 1,9%.
O agravamento da crise do setor industrial, contudo, associado ao peso maior que a atividade tem na produção de Minas, ante a do Brasil, dá sinais de que o estado está atravessando um ano mais difícil do que para o restante do país, observa Raimundo de Sousa Leal Filho, coordenador geral do Sistema de Contas Regionais da FJP. “Com base nos números negativos já apresentados e no fato de Minas ser um estado um pouco mais industrializado, é possível que o PIB estadual feche o ano um pouco pior que a média nacional”, afirmou Raimundo Leal Filho. O tema foi discutido ontem durante a divulgação do Boletim de Conjuntura de Minas Gerais elaborado pelos técnicos da FJP, com base em dados relativos ao segundo quadrimestre de 2015.
A análise considera a nova previsão divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) de queda de 7,6% neste ano da produção estadual. Contribuem, ainda, para o cenário de deterioração da economia as perdas anunciadas de pelo menos 30% das lavouras de café do estado, em razão da estiagem prolongada. A indústria de transformação responde por 20% do PIB de Minas e os cafezais em todo o estado detém 10% dos resultados da agropecuária, que, por sua vez, participa com uma fatia de 8% da produção de bens e serviços em Minas.
Tendo como referência o levantamento da produção feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Fiemg identificou retração generalizada do ritmo das fábricas de janeiro a agosto. Segundo a economista da instituição Annelise Fonseca, dos 13 ramos da atividade acompanhados pela pesquisa, só dois cresceram no período, a indústria extrativa, com desempenho 1% melhor ante o mesmo período do ano passado, e a produção de alimentos, que teve expansão de 1,8%.
A estimativa para o fechamento do ano foi particularmente influenciada pelo tombo de dos segmentos que mais pesam na performance da produção industrial mineira: o setor automotivo, que apresentou retração de 29,4%, e as empresas metalúrgicas, que sofreram queda de 1,8% na mesma base de comparação. “O que salvou um pouco a indústria foi o desempenho da indústria extrativa, mas ainda assim trata-se de uma atividade muito ligada ao mercado internacional”, disse Annelise Fonseca.
Várias revisões
Diante da profusão de taxas negativas, a Fiemg já fez quatro revisões das projeções do balanço da indústria mineira, que em janeiro indicavam crescimento, embora bem modesto, de 0,69% da produção no estado em 2015. Os índices mergulharam no vermelho em março (1,74%), desceram a 2,60% no mês seguinte e chegaram a julho numa retração estimada de 4,48%. Na avaliação do pesquisador Reinaldo Carvalho, da Fundação João Pinheiro, a piora das previsões representa impacto importante sobre o PIB de Minas, além do que se observa para o Brasil. “Na média dos índices, a indústria mineira deverá encerrar 2015 em situação mais difícil e a consequência será a perda de empregos de qualidade”, destaca.