Brasília – Os indicadores econômicos ruins deste ano já contaminaram 2016 bem antes da mudança no calendário. Para colocar o Brasil de novo nos trilhos do crescimento, o governo federal precisa desatar muitos nós, a começar pelo ajuste das contas públicas e a recuperação da confiança dos investidores. Só assim o alívio pode chegar em 2017. Na opinião de economistas ouvidos pelo Estado de Minas, contudo, há possibilidade de o país emplacar três anos de recessão, com queda do Produto Interno Bruto (o PIB é a soma da produção de bens e serviços do país) também em 2017.
Outra dificuldade é conter o fôlego do dragão dos preços, que vem corroendo os rendimentos dos brasileiros. Para vislumbrar o início da recuperação econômica dentro de dois anos, a equipe econômica precisa superar vários desafios ao longo do ano que vem e retoma a agenda dos ajustes no Congresso Nacional. Isso só vai ocorrer, apontam os especialistas, se o governo tiver força política. O Congresso não parece nada disposto a aprovar as medidas de austeridade fiscal, sobretudo as que tratam de aumento de impostos, e o primeiro dever de casa a ser cumprido é o ajuste das contas públicas.
Newton Rosa considera que o país está preso num círculo vicioso. “As medidas de ajuste fiscal não são implementadas, o que agrava o risco-país. Se perder o grau de investimento concedido por mais agências de classificação de risco no ano que vem, vai ser difícil sair da recessão”, lamenta o economista.
Na avaliação do professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Waldemir Luiz de Quadros, o problema do Brasil está na falta de confiança tanto na Presidência da República, quanto no Ministério da Fazenda. “Havia uma ilusão de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, seria o fundamento sólido para promover os ajustes, mas ele já mostrou que não tem poder para fazer o que precisa ser feito. O nó é político”, afirma.
Conservador e ortodoxo, o ministro Levy não conseguiu estancar a sangria no caixa do governo. Ao tomar posse, disse que o país faria superávit primário (economia para pagamento dos juros da dívida). No entanto, vai entregar um déficit recorde de R$ 120 bilhões, o equivalente a 2,1% do PIB. Para 2016, a intenção é fechar o ano com resultado superavitário em 0,7% do PIB. Economistas e analistas de bancos e corretoras não acreditam no cumprimento da promessa.
A paralisia do país, na visão do ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon/DF), é resultado de um impasse entre o governo e a parcela da sociedade que espera o equilíbrio das contas públicas. “O governo petista é socialista, defende a distribuição de renda e quer fazer ajuste apenas com aumento de impostos. A sociedade quer ver as contas públicas em dia com redução de gastos”, critica.
Freitas acrescenta que o crescimento poderia começar a ocorrer naturalmente já em 2016 se tal impasse fosse resolvido. “No entanto, a única saída apresentada por este governo é a recriação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Ele não fez nenhuma outra proposta para aumentar a renda e arrecadar mais, gastando menos”, afirma.
Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, as taxas de juros tornam o crédito caro e seguram os investimentos, necessários para provocar uma reação na economia. As taxas de inadimplência aumentaram muito, sobretudo no caso das empresas. Para se proteger dos calotes, os bancos se tornam mais exigentes para conceder empréstimos e o crédito tende a ficar ainda mais restrito. “Com a taxa de desemprego subindo, há queda tanto na oferta de crédito quanto na demanda por financiamentos”, diz Rostagno.