A explicação para a alta dos preços mesmo com o arrefecimento da atividade econômica está justificada pelo aumento da demanda por veículos usados, avalia o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes. No acumulado de um ano até outubro, foram comercializados 4,4 milhões de motos, carros e comerciais leves novos, quantidade 15,8% menor em relação a 12 meses imediatamente anteriores. Já no mesmo período, 14,1 milhões de seminovos foram vendidos, o que representou alta de 3,4% na mesma comparação, de acordo com dados da Federação Nacional de Distribuição da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Como está mais caro comprar um automóvel 0km, seja porque a inflação está abocanhando boa parte do orçamento das famílias, ou devido ao crédito mais caro e escasso no mercado financeiro, alguns consumidores estão optando por motos ou carros usados que, dependendo das condições de uso, estão mais suscetíveis a demandar despesas com manutenção. “Esse movimento não indica mais dinheiro no bolso. Conserto de automóvel é um exemplo clássico de efeito de substituição. Se a compra do veículo 0km fica difícil de concretizar, o consumidor vai atrás de outras opções”, analisa.
O movimento de alta de produtos e serviços ligados a automóveis, no entanto, também se aplica às pessoas que já têm o veículo próprio. Em setembro de 2014, a taxa de juros média para aquisição de veículos estava em 22,8%. No mesmo mês deste ano, a taxa era de 25,6%, enquanto o prazo médio de pagamento permanece em 41,6 meses, segundo dados do Banco Central. Ou seja, além de os preços de carros e motos terem subido, aumentaram os valores das prestações, da dívida e do gasto total com a compra do veículo, destaca Bentes.
“Um carro usado que há um ano custava ao todo R$ 30,9 mil, já incluindo os juros, hoje, sai a R$ 33,9 mil. É um aumento de 9,8% que o consumidor quer evitar. Então, ele adia o desejo da troca e leva o veículo que tem para a oficina”, diz o economista. Tanto que os financiamentos de veículos estão caindo entre usados e novos. De acordo com pesquisa da Cetip, no acumulado de janeiro a outubro, o volume de carros novos financiados recuou 26,3%, enquanto o de usados contraiu 6,7%. Já o financiamento de motos novas registrou queda de 12,4%, e o de usadas, se retraiu em 3,8%.
Comportamento As despesas com carro estão minando não apenas as economias do servidor público Humberto Pereira da Silva, de 50 anos, mas também a paciência. “Se o problema fosse só os gastos com combustível, estava bom. Mas não é o caso”, reclama ele, que tem quatro carros em casa. “São dois meus e os outros, dos meus filhos”, conta. Ao todo, ele estima ter gasto ao longo de 2015 cerca de R$ 4 mil, sendo que metade desses despesas foram consumidas por um dos veículos, que chegou a parar na oficina cinco vezes apenas este ano.
Não apenas o crescimento da demanda está levando as oficinas a cobrarem mais pelos serviços. O aumento com custo da mão de obra e a pressão gerada pela alta da energia elétrica está levando donos de oficinas e grandes empresas a ajustarem suas tabelas de preços. O coordenador de Treinamento Técnico da Monroe – fabricante mundial de amortecedores –, Juliano Caretta, ressalta que, além disso, a alta do dólar impacta diretamente nos valores dos produtos, já que alguns insumos são importados. “O aumento é inevitável, mas sempre trabalhamos para repassar o mínimo possível para o consumidor”, afirma.
Apesar do aumento dos preços por bens e serviços ligados ao setor automotivo, é possível driblar esses custos, garante Caretta. Para ele, mudanças no comportamento de direção serão imprescindíveis para reduzir não apenas pensando no momento atual, mas a longo prazo. “É importante ter muito cuidado na hora de conduzir o veículo. Quanto mais cauteloso o consumidor for na condução e conservação, menores serão os desgastes. Com isso, a economia é certa”, atesta.
Boa preservação minimiza gastos
Mudar as atitudes no trânsito deve ser acompanhado pela preservação do automóvel para amenizar o impacto da alta dos preços. Analisar e verificar as condições da moto ou carro com o passar do tempo será fundamental para garantir o bom funcionamento e a saúde do veículo. Para isso, a manutenção preventiva é a melhor forma de evitar dores de cabeça, afirma o engenheiro Marcus Romaro, consultor automotivo e especialista em segurança veicular e de trânsito. “Esse tipo de manutenção é planejada, para evitar danos ou falhas, sendo baseado por tempo de utilização”, explica.
Em cerca de 80% dos casos, os veículos são levados para verificaçaõ apenas quando o automóvel já está apresentando algum defeito. Nesses casos, é realizada a manutenção corretiva, onde normalmente são executados reparos após o dano ou falha no equipamento. Esse tipo de reparo é o menos indicado pelos consultores automotivos. “Tudo que é realizado com planejamento, com certeza é mais rápido, mais barato e mais seguro”, diz Romaro. “Seguindo-se os intervalos de revisões programadas, ou seja, respeitando as manutenções preventivas, os gastos serão significativamente menores, não só pela manutenção em si, mas também pela durabilidade dos componentes, menor consumo e desgaste”, acrescenta.
A opção de um veículo novo, seminovo ou usado é sempre muito pessoal, mas é certo que a compra do 0km não é garantia de que o consumidor terá menos ou nenhuma dor de cabeça, diz Romaro. “Tudo que é feito pelo homem está sujeito a falhas, mas é claro que se espere menos falhas de durabilidade em um veículo sem uso do que em um usado”, explica, ressaltando que falhas de projeto também podem ser observadas, ainda que em menor grau, entre os novos. Por isso, ele sugere que o consumidor opte por veículos novos que já tenham sido lançados há pelo menos um ano no mercado.
Para o consultor automotivo Jacques Waksman, proprietário da JW Autos, a compra pelo novo é sempre o mais indicado, até por uma questão do seguro, que tem um custo maior entre os veículos usados. No entanto, caso o consumidor opte pelo automóvel seminovo, o ideal é que a opção seja por um com até dois anos de uso de pessoas conhecidas. E mesmo assim, ele recomenda que o consumidor verifique o estado do carro sempre acompanhado de um mecânico de confiança. “São profissionais com experiência que poderão avaliar melhor se aquele veículo é bom, ou não, para compra”, justifica. (RC)