Quase um quinto da população jovem brasileira de 18 a 24 anos – 19,7% – está desempregada, representando 33,1% do total das pessoas desocupadas no país, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desconsiderando jovens de 14 a 17 anos que procuram por estágio ou vaga de menor aprendiz, é a faixa etária em que a taxa de desocupação é mais alta. Entre 25 e 39 anos, 8,6% estão desempregados, taxa que cai para 4,6% da população entre 40 e 59 anos e para 2,7% acima de 60 anos. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua – que substituirá a tradicional Pnad anual e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
O terceiro trimestre de 2015 – período compreendido entre julho e setembro – registra, para o conjunto da população brasileira economicamente ativa, a maior taxa de desemprego da série histórica iniciada em 2012, de 8,9%. São 9 milhões de brasileiros sem trabalho, segundo estimativa do IBGE. No segundo trimestre deste ano, entre abril e junho, a taxa foi de 8,3%, portanto, um aumento de 7,5% e, há um ano, no terceiro trimestre de 2014, ela atingia 6,8%. De lá para cá, o crescimento foi de 33,9%.
As mulheres representam 51,2% da população desocupada. Esse percentual foi superior ao de homens em quase todas as regiões do país, à exceção do Nordeste, onde elas representavam 48,9% dos desocupados. Entre os desempregados no terceiro trimestre, 51,2% tinham concluído pelo menos o ensino médio. Cerca de 25,9% não tinham concluído o ensino fundamental. Aquelas com nível superior completo representavam 8,8%. De acordo com o IBGE, a distribuição da taxa de desocupação segundo o gênero e educação formal não se alteraram significativamente ao longo da série histórica disponível.
Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, neste momento do ano, com a proximidade do Natal, normalmente o mercado de trabalho já começaria a se aquecer com as vagas de emprego temporário. “Mas não é o que está acontecendo”, disse ele. “Foi recorde a taxa de desocupação desde que a pesquisa se iniciou”, afirmou, assinalando que o aumento da procura por trabalho foi o grande responsável pelo crescimento da taxa de desemprego no país.
Em um ano, foram perdidos no setor privado 1,2 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. Em relação ao segundo trimestre deste ano, foi registrado recuo de 1,4% – o equivalente a 494 mil postos de trabalho com carteira assinada. De acordo com Azeredo, ao perder o emprego no setor privado, os trabalhadores passaram a atuar como autônomos, em atividades que geram menor renda para as famílias. “Sem a estabilidade do emprego, outros membros da família começaram a procurar trabalho. Isso inflou a procura”, afirmou, assinalando em seguida que esSe processo vem ocorrendo há alguns trimestres.
Ao mesmo tempo em que os trabalhadores por conta própria aumentaram em 3,5% ante o terceiro trimestre de 2014 – o que significa dizer que há 760 mil pessoas a mais nessa situação –, os empregadores cresceram 7,9%, aumento de 297 mil. “São pequenos negócios abertos, com duas ou três pessoas empregadas”, explica Azeredo. Já a fila do desemprego recebeu mais 2,274 milhões de pessoas em busca de trabalho. “São jovens, idosos, donas de casa que acabam indo para o mercado de trabalho para ajudar quem perdeu o emprego com carteira assinada”, avaliou o técnico. Por isso, a população ocupada ficou estável e somou 92,1 milhões de pessoas.
Sinal amaraelo na Região Sudeste
A taxa de desemprego cresceu neste trimestre analisado pela pesquisa em 22 das 27 unidades da federação em relação a igual período do ano passado. Na Bahia foi registrada a maior taxa, de 12,8%. A menor foi em Santa Catarina, de 4,4%. Minas ficou abaixo da média nacional, com taxa de 8,6%. São Paulo registrou 9,3%; Rio de Janeiro, de 8,2%; e Espírito Santo, 8,1%.
Segundo o coordenador do IBGE, em todos os estados da Região Sudeste foi observado aumento da desocupação, tanto na comparação anual quanto na comparação com o segundo trimestre desse ano.“A Região Sudeste tem efeito de anunciar o que estar por vir”, disse, já que concentra 44% da força de trabalho do país. “Salta aos olhos esse aumento na desocupação na Região Sudeste, como se fosse um efeito farol”, acrescentou. Entre as regiões, a Nordeste mostrou a maior taxa de desemprego, de 10,8%, e a Sul, a menor, de 6%. No Sudeste, há 9% de desempregados, no Norte, 8,8%, e no Centro-Oeste, 7,5%.
O desemprego também cresceu em 14 das 27 capitais brasileiras no terceiro trimestre deste ano ante o mesmo período do ano passado. Salvador tem a maior taxa do país, alcançando 16,1%. O Rio de Janeiro tem a menor, de 5,1%. Em São Paulo, 8,1% estão desempregados, e, em Belo Horizonte há 9,5%, taxa próxima à da região metropolitana, onde a taxa atingiu 9,9%.
RENDA O aumento do desemprego veio acompanhado de uma queda no rendimento real médio do trabalhador de R$ 1.889 contra R$ 1.913 no segundo trimestre deste ano – recuo de 1,2%. Há estabilidade em relação à renda média do trabalhador verificada no mesmo período do ano passado. A massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 168,6 bilhões no terceiro trimestre, queda de 1,2% em relação ao período compreendido entre abril e junho deste ano. Em relação ao terceiro trimestre de 2014, o recuo foi de 0,1%.
Análise da notícia
Só uma preocupação a mais
Vera Schmitz
Sinais de que o Papai Noel pode ser mais magro já estão no ar. Entre todas as análises sobre os dados da PNAD Contínua feitas pelos técnicos do IBGE, uma é mais preocupante. Estamos caminhando para o fim de novembro sem que diversos setores da indústria e do comércio se manifestem sobre as contratações temporárias para as festas de fim de ano. Essa expansão do mercado de trabalho, que, tradicionalmente, começava em outubro, não ocorreu e é só mais uma consequência da crise econômica. E aí começa a se formar um perigoso círculo vicioso, já que, sem abertura de vagas, o dinheiro para a ceia e para o presente de Natal fica ainda mais curto, o que se reflete no fraco desempenho do comércio, que, por sua vez, impacta os números do PIB, numa sucessão de acontecimentos que enrolam ainda mais a economia do país.
Enquanto isso...
...transportes cortam vagas
Pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT) com representantes do setor apontou que 79,1% dos entrevistados demitiram trabalhadores este ano. De acordo com o estudo, o fraco desempenho econômico e a retração da demanda dos setores produtivos têm levado os transportadores a reduzir seus quadros de funcionários. O levantamento, feito anualmente pela CNT desde 2012, ouviu 713 empresas dos segmentos rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo – de cargas e de passageiros. Na sondagem, 54% dos entrevistados disseram que deverão ter redução da receita bruta na comparação com 2014. Ainda de acordo com o estudo, 86% dos transportadores entrevistados não confiam na gestão econômica do governo federal e 49% acreditam que o País só voltará a crescer em 2017. Outros 19,6% esperam crescimento somente em 2018.
O terceiro trimestre de 2015 – período compreendido entre julho e setembro – registra, para o conjunto da população brasileira economicamente ativa, a maior taxa de desemprego da série histórica iniciada em 2012, de 8,9%. São 9 milhões de brasileiros sem trabalho, segundo estimativa do IBGE. No segundo trimestre deste ano, entre abril e junho, a taxa foi de 8,3%, portanto, um aumento de 7,5% e, há um ano, no terceiro trimestre de 2014, ela atingia 6,8%. De lá para cá, o crescimento foi de 33,9%.
As mulheres representam 51,2% da população desocupada. Esse percentual foi superior ao de homens em quase todas as regiões do país, à exceção do Nordeste, onde elas representavam 48,9% dos desocupados. Entre os desempregados no terceiro trimestre, 51,2% tinham concluído pelo menos o ensino médio. Cerca de 25,9% não tinham concluído o ensino fundamental. Aquelas com nível superior completo representavam 8,8%. De acordo com o IBGE, a distribuição da taxa de desocupação segundo o gênero e educação formal não se alteraram significativamente ao longo da série histórica disponível.
Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, neste momento do ano, com a proximidade do Natal, normalmente o mercado de trabalho já começaria a se aquecer com as vagas de emprego temporário. “Mas não é o que está acontecendo”, disse ele. “Foi recorde a taxa de desocupação desde que a pesquisa se iniciou”, afirmou, assinalando que o aumento da procura por trabalho foi o grande responsável pelo crescimento da taxa de desemprego no país.
Em um ano, foram perdidos no setor privado 1,2 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. Em relação ao segundo trimestre deste ano, foi registrado recuo de 1,4% – o equivalente a 494 mil postos de trabalho com carteira assinada. De acordo com Azeredo, ao perder o emprego no setor privado, os trabalhadores passaram a atuar como autônomos, em atividades que geram menor renda para as famílias. “Sem a estabilidade do emprego, outros membros da família começaram a procurar trabalho. Isso inflou a procura”, afirmou, assinalando em seguida que esSe processo vem ocorrendo há alguns trimestres.
Ao mesmo tempo em que os trabalhadores por conta própria aumentaram em 3,5% ante o terceiro trimestre de 2014 – o que significa dizer que há 760 mil pessoas a mais nessa situação –, os empregadores cresceram 7,9%, aumento de 297 mil. “São pequenos negócios abertos, com duas ou três pessoas empregadas”, explica Azeredo. Já a fila do desemprego recebeu mais 2,274 milhões de pessoas em busca de trabalho. “São jovens, idosos, donas de casa que acabam indo para o mercado de trabalho para ajudar quem perdeu o emprego com carteira assinada”, avaliou o técnico. Por isso, a população ocupada ficou estável e somou 92,1 milhões de pessoas.
Sinal amaraelo na Região Sudeste
A taxa de desemprego cresceu neste trimestre analisado pela pesquisa em 22 das 27 unidades da federação em relação a igual período do ano passado. Na Bahia foi registrada a maior taxa, de 12,8%. A menor foi em Santa Catarina, de 4,4%. Minas ficou abaixo da média nacional, com taxa de 8,6%. São Paulo registrou 9,3%; Rio de Janeiro, de 8,2%; e Espírito Santo, 8,1%.
Segundo o coordenador do IBGE, em todos os estados da Região Sudeste foi observado aumento da desocupação, tanto na comparação anual quanto na comparação com o segundo trimestre desse ano.“A Região Sudeste tem efeito de anunciar o que estar por vir”, disse, já que concentra 44% da força de trabalho do país. “Salta aos olhos esse aumento na desocupação na Região Sudeste, como se fosse um efeito farol”, acrescentou. Entre as regiões, a Nordeste mostrou a maior taxa de desemprego, de 10,8%, e a Sul, a menor, de 6%. No Sudeste, há 9% de desempregados, no Norte, 8,8%, e no Centro-Oeste, 7,5%.
O desemprego também cresceu em 14 das 27 capitais brasileiras no terceiro trimestre deste ano ante o mesmo período do ano passado. Salvador tem a maior taxa do país, alcançando 16,1%. O Rio de Janeiro tem a menor, de 5,1%. Em São Paulo, 8,1% estão desempregados, e, em Belo Horizonte há 9,5%, taxa próxima à da região metropolitana, onde a taxa atingiu 9,9%.
RENDA O aumento do desemprego veio acompanhado de uma queda no rendimento real médio do trabalhador de R$ 1.889 contra R$ 1.913 no segundo trimestre deste ano – recuo de 1,2%. Há estabilidade em relação à renda média do trabalhador verificada no mesmo período do ano passado. A massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 168,6 bilhões no terceiro trimestre, queda de 1,2% em relação ao período compreendido entre abril e junho deste ano. Em relação ao terceiro trimestre de 2014, o recuo foi de 0,1%.
Análise da notícia
Só uma preocupação a mais
Vera Schmitz
Sinais de que o Papai Noel pode ser mais magro já estão no ar. Entre todas as análises sobre os dados da PNAD Contínua feitas pelos técnicos do IBGE, uma é mais preocupante. Estamos caminhando para o fim de novembro sem que diversos setores da indústria e do comércio se manifestem sobre as contratações temporárias para as festas de fim de ano. Essa expansão do mercado de trabalho, que, tradicionalmente, começava em outubro, não ocorreu e é só mais uma consequência da crise econômica. E aí começa a se formar um perigoso círculo vicioso, já que, sem abertura de vagas, o dinheiro para a ceia e para o presente de Natal fica ainda mais curto, o que se reflete no fraco desempenho do comércio, que, por sua vez, impacta os números do PIB, numa sucessão de acontecimentos que enrolam ainda mais a economia do país.
Enquanto isso...
...transportes cortam vagas
Pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT) com representantes do setor apontou que 79,1% dos entrevistados demitiram trabalhadores este ano. De acordo com o estudo, o fraco desempenho econômico e a retração da demanda dos setores produtivos têm levado os transportadores a reduzir seus quadros de funcionários. O levantamento, feito anualmente pela CNT desde 2012, ouviu 713 empresas dos segmentos rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo – de cargas e de passageiros. Na sondagem, 54% dos entrevistados disseram que deverão ter redução da receita bruta na comparação com 2014. Ainda de acordo com o estudo, 86% dos transportadores entrevistados não confiam na gestão econômica do governo federal e 49% acreditam que o País só voltará a crescer em 2017. Outros 19,6% esperam crescimento somente em 2018.