Rio, 01 - A queda mais intensa nas importações acabou permitindo que o setor externo desse contribuição positiva para o Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2015, afirmou nesta terça-feira, 1º de dezembro, Claudia Dionísio, gerente de Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse recuo tem ligação direta com a desvalorização do real ante o dólar e também com a queda na renda das famílias brasileiras, explicou a especialista.
Segundo o IBGE, o câmbio sofreu uma desvalorização de 56% na média do terceiro trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado. "A desvalorização cambial e a (queda na) renda foram importantes para o recuo nas importações", disse Claudia.
No terceiro trimestre de 2015, as importações recuaram 6,9% em relação ao segundo trimestre. As exportações também recuaram (-1,8%) por conta dos serviços, mas a queda foi menos intensa. É essa combinação que gera a contribuição positiva, explicou a gerente.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2014, por sua vez, as importações recuaram 20,0%, enquanto as exportações subiram 1,1%. Segundo Claudia, a queda nas importações mostra também que a demanda por investimentos está fraca. Um dos produtos que está contribuindo negativamente para o resultado são máquinas e equipamentos vindos de fora.
"Temos demanda interna mais fraca e podemos ver que há queda na produção de máquinas e equipamentos e nas importações. Com desvalorização cambial, também fica mais caro comprar máquina de fora, o que desfavorece investimento", disse a gerente do IBGE.
Indústria de transformação
O recuo de 3,1% na indústria da transformação no terceiro trimestre do ano ante o trimestre imediatamente anterior puxou o recuo de 1,3% no PIB da indústria no período, segundo Claudia Dionísio. "A indústria da transformação teve a maior queda (dentro da indústria)", apontou.
O resultado geral só não foi pior porque houve avanço na produção e distribuição de eletricidade, gás e água. A pesquisadora do IBGE explicou que o País registrou um número maior de usinas térmicas ligadas durante o primeiro semestre, o que resulta num custo maior para a produção de energia elétrica.
"Em agosto, desligaram algumas usinas térmicas, e com isso a gente teve uma economia. A energia ficou mais barata para produzir. Se o custo diminuiu, o valor adicionado ficou maior", justificou ela. Ainda dentro do PIB industrial, a construção civil registrou recuo de 0,5% no terceiro trimestre ante o segundo trimestre, enquanto a extrativa mineral teve queda de 0,2%.
Indústria extrativa mineral
A alta de 4,2% na indústria extrativa mineral no terceiro trimestre de 2015 ante o mesmo trimestre do ano anterior foi puxada pelo crescimento tanto da extração de petróleo e gás quanto de minério de ferro no período, segundo Claudia Dionísio. "Tanto petróleo e gás quanto minério de ferro começaram o ano com um crescimento um pouco maior, mas teve uma desaceleração", disse.
A extrativa mineral crescia a dois dígitos nos últimos dois trimestres de 2014. No primeiro trimestre de 2015, a alta chegou a 12,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. A taxa de crescimento do segundo trimestre, porém, arrefeceu para 8,2%. "Petróleo pesa mais (na extrativa)", afirmou a pesquisadora.
Volume de impostos
O volume de impostos arrecadados recuou 8,3% no terceiro trimestre de 2015 em relação a igual período do ano passado, informou o IBGE. "Isso se deve ao volume menor de produtos (comercializados). Isso afeta, mesmo que alíquota permaneça igual", explicou Claudia Dionísio.
Segundo a especialista, os tributos que mais afetaram o resultado foram o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), cuja queda na arrecadação é fortemente atrelada ao recuo de 11,3% no PIB da indústria de transformação no terceiro trimestre de 2015 ante igual período de 2014, e o imposto sobre importações. De acordo com o IBGE, as importações de bens e serviços recuaram 20% nesta comparação.