Rio de Janeiro – A crise na indústria naval se agrava, afetando também fornecedores de peças, os quais vinham trabalhando com perspectivas de expansão de suas atividades, como é o caso do polo de Ipatinga, no Vale do aço de Minas Gerais. Cerca de 3 mil funcionários do estaleiro Eisa (Estaleiro Ilha S.A), na Ilha do Governador, foram desligados da empresa por meio de uma carta recebida na manhã de ontem, ao chegarem ao local de trabalho. Os portões estavam lacrados. Ainda ontem, a Transpreto, subsidiária da Petrobras para a área de Transporte, cancelou dois contratos para a construção de navios de transporte de gás liquefeito de petróleo (GLP, o gás de cozinha) em Pernambuco. Outro ingrediente da turbulência que o setor enfrenta tem sido a operação Lava-Jato, que investiga desvio de recursos da Petrobras.
Os metalúrgicos dispensados pelo Elisa fizeram manifestação, em caminhada até o Aeroporto do Galeão. Na mensagem, assinada pela presidência do estaleiro – controlado pela holding Synergy Shipyards –, a empresa justifica que o corte de pessoal é consequência dos impactos da recessão econômica e da operação Lava-Jato, “que paralisou as atividades da indústria naval e de offshore”.
“A única alternativa para manter o estaleiro funcionando é diminuir ao máximo os custos operacionais”, argumenta a direção do Elisa. A carta comunica, então, a rescisão dos contratos. “Com muita tristeza e dor nos vemos na necessidade imediata de realizar corte de pessoal. Comunicamos por meio desta que estamos efetuando a rescisão do seu contrato de trabalho, dia 11/12, devendo encerrar suas atividades de forma imediata”. A diretoria do esteleiro e do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro (Sindimetal-Rio) se reúnem às 15h para discutir as rescisões.
O presidente do Sindimental-Rio, Jesus Cardoso, teme que os funcionários desligados fiquem sem receber direitos como 13° salário, pagamento de multa e férias, além do reajuste salarial de 9,8% recentemente aprovado, que é retroativo ao mês de outubro e ainda não foi pago pela empresa. Procurado pela reportagem, o estaleiro não se pronunciou. Segundo Cardoso, há quatro meses a mesma empresa demitiu 700 metalúrgicos do Estaleiro Mauá, e até ontem eles não haviam recebido os acertos.
“A empresa já estava com dificuldades de pagar os funcionários. Só estava pagando até R$ 3 mil por mês, mesmo a quem ganhava mais. Fomos totalmente surpreendidos pelos portões lacrados com chapa de aço e a carta. Queremos nossos direitos”, ressalta o sindicalista. Na mensagem, a empresa diz, ainda, que fará “o possível para continuar com as negociações de retomada do estaleiro, e o mais breve possível poder reincorporar aqueles que estão sendo desligados e desejarem reassumir suas funções na empresa”.
PRECEDENTES Em julho passado, o estaleiro Elisa Petro Um, então instalado no mesmo local onde funcionou o Estaleiro Mauá, em Ponta da Areia, em Niterói, apresentou as mesmas alegações sobre dificuldades financeiras para fechar as portas. Os empregados, da mesma forma, foram surpreendidos por comunicado em que a empresa pedia a eles que retornassem para casa e aguardassem a abertura de negociações.
Criado para construiu oito navios petroleiros encomendados em janeiro de 2014 pela Transpetro, o Elisa Petro Um receberia da subsidiária da estatal R$ 1,4 bilhão. A empresa pertence ao grupo Sinergy, do empreendedor German Efromovich.
Pernambuco sem contratos
A subsidiária da Petrobras para a área de Transporte, Transpetro, cancelou dois contratos para a construção de navios de transporte de gás liquefeito de petróleo (GLP), que seriam erguidos no estaleiro Vard Promar, em Pernambuco. A estatal alega “descumprimento de cláusula contratual”, mas a controladora do estaleiro diz que vai buscar compensações.
Os contratos cancelados fazem parte de um pacote de oito embarcações para o transporte de GLP contratadas pela Transpetro em 2010, dentro de seu Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef). O primeiro deles, batizado de Oscar Niemeyer, foi entregue à estatal em julho passado e já está em operação. Outros três estão em estágio final de construção.
O cancelamento foi comunicado primeiro pela Vard, que tem sede em Cingapura. “A construção dos dois navios está em um estágio preliminar”, disse a empresa, afirmando que pretende “pedir compensação da Transpetro pelos danos relacionados aos contratos cancelados”.
PDV NA FORD
A montadora Ford anunciou ontem um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para os trabalhadores da fábrica de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. De acordo com a empresa, a medida foi tomada com objetivo de ajustar a produção à demanda de mercado. A Ford informou que o programa vale para o período de 4 a 15 de janeiro de 2016. A meta é adequar o excedente da força de trabalho que haverá em decorrência do encerramento do turno da noite a partir de março de 2016. O Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari estima que cerca de 2 mil postos de trabalho sejam afetados com a suspensão do terceiro turno, que compreende a jornada de 22h até as 6h30, num regime de 40 horas semanais.