A suspensão do aplicativo WhatsApp durou pouco mais de meio dia. Horas depois de as operadoras telefônicas de todo o país bloquearem a ferramenta de troca de mensagens, o desembargador da 11ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, Xavier de Souza, determinou o restabelecimento imediato do dispositivo, interrompendo assim o prazo estipulado anteriormente de 48 horas. O magistrado destacou em decisão liminar que caberiam outras medidas para forçar a empresa a apresentar as informações solicitadas judicialmente em processo criminal de um traficante.
O bloqueio do app teria se dado depois de a juíza Sandra Marques, da 1ª Vara Criminal de São Bernardo do Campo (SP), ter atendido a pedido do Ministério Público para interrupção do serviço por não terem sido repassados diálogos mantidos por um homem acusado de latrocínio e tráfico de drogas, segundo informações do site especializado Consultor Jurídico. Os investigadores teriam obtido autorização para interceptar as conversas, mas o WhatsApp não teria fornecido as mensagens.
Apesar de a suspensão não ter durado muito, foi tempo suficiente para provocar transtornos a usuários e mostrar a dependência criada pelo aplicativo.
Na rede Come Lanches e Guinness Pizza, das 600 entregas feitas diariamente, 120 são feitas pelo dispositivo. A gerente da central de atendimentos da empresa, Érica Graziela, indica dois fatores facilitadores: o cliente não gasta com telefone e a linha não fica ocupada. “Depois do telefone, hoje é nossa principal ferramenta de trabalho”, afirma Érica. Logo que teve início a suspensão, ontem, de sete a oito pedidos foram interrompidos. Além de pizzas e sanduíches, o serviço de mensagens é usado por motoboys para entregas; por lojas de roupas para fazer oferta de produtos; por médicos para orientas pacientes e por uma série de profissionais.
Pesquisa da consultoria britânica Cello Health Insight feita com 1.040 médicos de oito países indica que os brasileiros são os maiores usuários do aplicativo para se comunicar com pacientes. O estudo mostra que 87% deles usaram o WhatsApp nos 30 dias anteriores ao questionário. Na Itália, segundo colocado, a fatia é de 61%. Levantamento da agência nova/sb confirma o WhatsApp como primeira opção de aplicativo para comunicação no país. Dos quase 7,5 mil entrevistados, 73% disseram usá-lo todo dia. Entre as facilidades propiciadas pelo app estão a rapidez na comunicação (33%), economia na conta (19%) e a facilidade em falar com várias pessoas ao mesmo tempo (17%).
“O WhatsApp não é mais apenas um aplicativo: tornou-se quase um serviço essencial para facilitar a vida nas cidades. Além disso, o consumidor do país está mais atento às possibilidades de economia, sobretudo em momento de crise”, afirma o sócio-fundador da agência e autor do livro “Comunicação de interesse público – ideias que movem pessoas e fazem um mundo melhor”, Bob Vieira.
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Com o bloqueio, o Facebook sugeriu aos usuários usar o Messenger em substituição temporária ao WhatsApp. Muitos optaram por fazer download de um software que permitia continuar o uso do app mesmo durante o bloqueio. Outros optaram por baixar outros programas de troca de mensagens. O Telegram foi a principal alternativa. Foram 1,5 milhão de downloads durante o dia.
Antes de o TJ-SP decidir pelo desbloqueio do aplicativo, o fundador e executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, publicou crítica à medida. “Este é um dia triste para o Brasil. Até hoje, o Brasil sempre foi um aliado em criar uma internet aberta. Os brasileiros sempre estiveram entre os mais apaixonados em compartilhar sua voz na internet”, afirmou Zuckerberg. Em fevereiro de 2014, o Facebook comprou o serviço de mensagens por US$ 21,8 bilhões.
A suspensão do aplicativo se deu em meio a uma briga das operadoras de telefonia com empresas de tecnologia que prestam o serviço de comunicação. As companhias argumentam que o serviço de voz do Whatsapp aproveita-se dos números do setor, enquanto as operadoras pagam impostos para prestar os serviços. Mas a decisão judicial não está relacionada ao imbróglio. O SindiTelebrasil, representante das empresas de telefonia no país, ressaltou em nota não ser autor da ação que resultou na ordem judicial.