Prestes a deixar o governo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse nesta sexta-feira, 18, não se sentir traído, mas "um pouco decepcionado". Em café da manhã com jornalistas, Levy se esquivou por diversas vezes de responder se e quando deixará o governo.
Não confirmou, mas não negou, "muito pelo contrário". Admitiu, entretanto, que tem conversado com a presidente Dilma Rousseff sobre o assunto e disse que não quer constranger ninguém. "Ninguém quer causar constrangimento para o governo, não seria natural e não haveria razão", afirmou.
O ministro disse que tem bom relacionamento com a presidente, que ela tem bastante conhecimento do andamento da economia, mas "tem estado envolvida em outro processo que não tem natureza econômica", em referência ao debate sobre impeachment travado no Congresso. "Isso subtrai a capacidade de tocar uma agenda de mais reformas, mas ela tem sensibilidade", avaliou.
Por muitas vezes, Levy culpou a crise política pela retração econômica. O ministro, que tem gosto por palavras difíceis, disse que no cenário político brasileiro "há surpresas hebdomadárias (semanais)".
Decepção
Depois de ter assumido como uma espécie de última missão a aprovação de medidas provisórias que aumentam receitas e das peças orçamentárias, a decepção do ainda ministro é principalmente com o fato de não terem sido aprovadas as ações que ele chama de aumento da justiça tributária, particularmente as medidas previstas na MP 694, que aumenta o Imposto de Renda que incide nos juros sobre capital próprio (JCP) e suspende benefícios fiscais à inovação.
"Não me sinto traído, mas um pouco decepcionado. As principais medidas de aumento da justiça tributária (não foram aprovadas). São medidas de sinalização positiva para a economia", completou.
Despedida
Apesar de evasivo sobre sua saída, a conversa com os jornalistas foi em tom de despedida. Levy usou por diversas vezes os verbos no passado, numa espécie de balanço de sua gestão, relembrando questões como a redução dos subsídios no Programa de Sustentação do Investimento, do BNDES. "A maior parte daquilo que eu coloquei como uma primeira rodada de coisas importantes a serem realizadas ao longo do ano, a gente, se não conseguiu concluir, encaminhou de uma maneira muito concreta", completou.
Ao final do encontro, o ministro tirou uma foto com os presentes. Disse que queria colocá-la em seu escritório - ao invés de dizer gabinete, que é onde trabalha um ministro de Estado.