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Estado de Minas CRISE

Mercado financeiro reage mal à chegada de Nelson Barbosa à Fazenda

Bolsa de Valores fecha em queda de 2,98% e dólar volta a encostar nos R$ 4. Analistas não descartam uma interrupção no pregão de segunda-feira pelo tombo de mais de 10%


postado em 19/12/2015 07:00 / atualizado em 19/12/2015 07:48

Em Nova York, ações de estatais brasileiras despencaram: as da Eletrobras recuaram 9,5% e da Petrobras 3,87%(foto: Spencer Platt/AFP Photo)
Em Nova York, ações de estatais brasileiras despencaram: as da Eletrobras recuaram 9,5% e da Petrobras 3,87% (foto: Spencer Platt/AFP Photo)
Brasília – A chegada de Nelson Barbosa no ministério da Fazenda causou alvoroço no mercado financeiro. Até o fim do pregão de ontem, às 17h, o sucessor de Joaquim Levy ainda não estava oficialmente decidido, mas os analistas davam como certa a entrada de Barbosa — um dos nomes mais cotadas pelo Planalto e temidas pelo mercado. Em meio às especulações, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) registrou queda de 2,98%, fechando aos 43.910 pontos. Por pouco o dólar não voltou à marca de R$ 4 — terminou o dia cotado a R$ 3,947, em alta de 1,48%.

“A notícia foi ruim, mas não surpreendente. Ao observar a relutância do governo em promover o ajuste fiscal, já se imaginava que alguém mais próximo das ideias governistas seria escolhido para substituir Levy”, afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. O resultado é que o governo reforça o próprio controle sobre a economia, sem oposições na Fazenda, o que, na visão do mercado, não é nada positivo. Para Agostini, a “infeliz troca no ministério” só não causou mais impactos no fechamento de ontem por ter sido anunciada no fim da tarde.

O reflexo da notícia foi visível na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse), que continuou operando durante três horas após o fechamento do pregão no Brasil, devido ao fuso horário. Lá, as ações preferenciais da Eletrobras terminaram o dia em queda de 9,59%, enquanto as ordinárias (com direito a voto) tiveram desvalorização de 3,52%. Vale e Petrobras também sofreram impactos negativos, de 2,7% e 3,87%, respectivamente, nos papéis preferenciais, e 0,93% e 2,47% nos ordinários.

O resultado não deve ser diferente na bolsa de valores brasileira, quando retomar as atividades, segunda-feira. Analistas não descartam a ocorrência do chamado circuit breaker – interrupção automática das negociações, que ocorre quando o mercado cai mais de 10%, para evitar movimentos muito bruscos. “Barbosa tem uma postura heterodoxa e flexível, péssima para o mercado, que vai digerir a novidade nos próximos dias. Não há dúvidas que a próxima semana começará com resultados negativos”, assegurou Agostini, da Austin Rating.

A entrada de Barbosa, de acordo com o professor de economia José Matias-Pereira, da Universidade de Brasília (UnB), reforça a percepção de que quem vai continuar mandando na política econômica é o Planalto. “Estão tirando uma pessoa do ramo financeiro para colocar alguém que ficará subordinado à presidente e não assumirá nenhuma postura em defesa do ajuste fiscal. O que aconteceu foi a nomeação de Dilma Rousseff como ministra da Fazenda. Como ela não tem quase nenhuma aprovação, o mercado obviamente não aceita bem a mudança”, garantiu o professor.

O economista-chefe para mercados emergentes da consultoria britânica Capital Economics, Neil Shearing, reconheceu que a troca de Levy por Barbosa deverá tumultuar os mercados. “É provável que Barbosa terá uma linha menos agressiva na contenção dos gastos. Levy tinha ganho aplausos em Wall Street como um falcão fiscal. E Barbosa tem um discurso de que um ritmo agressivo para o equilíbrio orçamentário vai mergulhar a economia mais ainda na recessão”, disse.

Na opinião do analista do Nomura Securities, Mario Robles, enquanto seu antecessor, Joaquim Levy, sempre defendeu uma posição mais forte de ajuste fiscal, Barbosa é um economista mais heterodoxo, “a favor de medidas anticíclicas, além de ser mais receptivo à interferência da presidente Dilma Rousseff”. A substituição também surpreendeu o diretor do Eurasia Group, Christopher Garman. “Nós estávamos esperando que a presidente Dilma Rousseff fosse evitar nomear alguém que sinaliza frouxidão fiscal, por medo de estimular uma maior crise de confiança”, analisou. A repercussão dessa decisão, no entanto, será a maior volatilidade do mercado nos próximos meses, o que pode enfraquecer ainda mais o governo, emendou Garman.

Economistas preveem retrocesso econômico

 

Para a economista Monica De Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington, Dilma vai “dobrar a aposta” dos gastos públicos para evitar o impeachment a qualquer custo. “Ela foi pressionada pelo ex-presidente Lula para colocar na Fazenda alguém como o Levy a fim de tranquilizar os mercados e evitar o rebaixamento, no início do ano. Fez isso a contragosto e não deixou o ministro trabalhar. Vacilou na condução do ajuste fiscal. Veio o downgrade duplo. Agora, a economia deve ir para o buraco, para as profundezas da matriz 2.0”, avaliou Monica. “Só falta a presidente recorrer ao FMI para completar o quadro”, ironizou Monica.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, também é cáustico. Para ele, sem Levy, Dilma, Barbosa e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, formam, finalmente, um triunvirato de verdade. “Esse grupo dá garantia total de que a economia vai afundar mais ainda – e sem poder culpar o Levy ou a suposta política neoliberal. A presidente, caso não seja tirada da Presidência, assegurou (com essa troca) um 2016 pior que 2015”, resumiu.

Na avaliação do economista Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), com Barbosa na Fazenda, a presidente restabeleceu o discurso da campanha presidencial. “Os mercados devem reagir mal, mas vão ter que se acostumar”, disse. Pessoa tem dúvidas sobre a independência do BC daqui para frente e teme piora fiscal. “Pode haver uma tentativa de expansionismo adicional, mas não deve ser via BNDES, mas mais por meio de incentivos parafiscais”, disse.

Para Pessoa, a mudança não vai ajudar a recuperar a credibilidade do país depois do duplo rebaixamento. “Isso vai levar, no mínimo, 10 anos. A recuperação precisa de um conjunto extenso de reformas, um superávit primário parrudo durante vários anos”, alertou. Na avaliação do economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, a saída de Joaquim Levy deve acelerar o rebaixamento do país pela Moody’s, que, na semana passada, colocou em revisão a nota do Brasil, e deverá retirar o grau de investimento dos títulos soberanos brasileiros, a exemplo do que fez a Standard & Poor’s (S&P), em setembro, e a Fitch, na semana passada. “Agora, só falta a S&P rebaixar novamente o país. Isso ainda não foi precificado pelo mercado, e, com isso, a bolsa deve cair e o dólar subir mais ainda”, apostou.

Empresários esperam retomada
Isabella Souto

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, torce para que a troca no comando da Fazenda leve o país ao desenvolvimento. No curto prazo, ele acredita que a saída de Joaquim Levy deve trazer novo ânimo para os investidores. “Sabemos da mão forte da presidente Dilma em relação aos seus ministros, e sabemos que o Levy (Joaquim) não vinha conseguindo adotar as medidas que queria. O país está paralisado, andando de ré há algum tempo. As empresas não suportam mais”, afirma.

Falci ressalta ainda a instabilidade política vivida no Brasil diante da discussão do impeachment da presidente Dilma, da abertura de um processo de cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDD-RJ), por quebra de decoro parlamentar, e do suposto envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nas denúncias de corrupção na Petrobras, investigadas na Operação Lava-Jato. “As três pessoas mais importantes do Brasil estão sendo questionadas. Quem acredita no país numa condição dessas?”, lamentou.

Opinião semelhante tem o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado. “O nosso problema é mais sério que apenas uma troca de ministros. Ele começa com essa guerra política que estamos vivendo”, afirmou Machado. Sobre a atuação de Nelson Barbosa, o empresário espera que o novo ministro se posicione contrariamente à criação de impostos e aumento da taxa de juros e que leve o governo a fazer a sua parte para a retomada do desenvolvimento – o que acredita, começa com o corte de gastos públicos.

 


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